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quarta-feira, 27 de março de 2013

El Angel Exterminador (port.: O Anjo Exterminador) - Luis Buñuel


Eu sempre digo que toda a arte está, de uma forma ou de outra, conectada. Fiquei sabendo da existência desse filme, por causa de uma piada de "Meia Noite em Paris", do Woody Allen - já resenhado por aqui. Nele, o protagonista (Owen Wilson), tendo a chance de "visitar" a Paris da década de 20, conhece Luis Buñuel, em uma festa, e lhe sugere o enredo de "O Anjo Exterminador", que acaba intrigando e confundindo ao próprio Buñuel - que na década de 20 ainda estava para fazer sua estréia no cinema surrealista, em parceria com Salvador Dalí. Não tinha entendido a piada, pois não conhecia o filme, portanto fui atrás e, se não me engano, prometi resenhá-lo. Isso faz quase um ano. Assisti ao filme, faz um bom tempo, mas me esqueci de fazer a resenha. Embora a história não esteja tão fresca na minha mente, ainda lembro bem do filme e darei minha opinião sobre essa pequena obra de arte do cinema.
 
 
 
Uma família da alta sociedade dá uma grande festa. Convidam todos os seus valiosos amigos - ênfase no valiosos -, servem um banquete, champagne, música, tudo uma beleza. As horas passam, mas ninguém vai embora, todos dormem na mansão, se acomodando, literalmente, em qualquer canto. No dia seguinte, a festa prossegue e, enquanto os anfitriões se perguntam o porquê de ninguém ir embora, todos passam mais uma noite por lá. O tempo passa, mas ninguém consegue ir embora. Por quê? Essa é a questão que tanto intrigou Buñuel em "Meia Noite em Paris". Parecia tão simples, simplesmente se dirigir até a porta, mas não é possível. O primeiro motivo apresentado para justificar a relutância dos convidados em sair é que ninguém quer ser o primeiro a partir, pois isso parece ser rude. No entanto, está tudo resolvido, todos estão conscientes da complicação e ainda assim ninguém sai. Agora, não por falta de vontade ou educação, mas incapacidade. Como se uma força, sobrenatural ou não, os prendesse na sala principal. Acaba a comida, acaba a água e as pessoas começam a se desesperar e a remover as máscaras da falsa amizade burguesa.
 

 
É um filme complexo, cheio de símbolos, surreal e de interpretação livre. Muitas coisas são deixadas sem explicação, como, por exemplo, o motivo que os prendem a sala, os carneiros andando pela mansão, o urso, a igreja. Existe uma crítica bem óbvia a hipocrisia burguesa e como toda a nobreza se destrói em momentos extremos, além de uma forte referência à peça "Entre Quatro Paredes", de Jean-Paul Sartre. A diferença é que, a sala da qual as personagens de Sartre não podem sair é o inferno, enquanto nada indica que a sala de Buñuel seja sobrenatural ou metafísica. Tudo que acontece lá dentro, segue a lógica natural do universo, a única lógica quebrada é o fato de ninguém poder entrar ou sair.
 
 

 
 
As atuações são fantásticas e a direção é perfeitamente sufocante. É impossível não se sentir trancado naquela sala, de modo que o filme, que tem duração de uma hora e meia, parece durar semanas ou sei lá quanto tempo os convidados ficaram presos na casa. Muitas questões surgem na mente do espectador e, chegando ao fim, se torna muito angustiante ver que quase nenhuma será respondida. Muito pelo contrário, muitas outras perguntas surgem no fim do filme.
 
 
 
Para quem gosta desse tipo de cinema, artístico e surreal, nem será necessário sugerir, pois já está na sua lista ou você já assistiu. Se você não conhece esse tipo de cinema, sugiro que dê uma chance. Garanto que é diferente de tudo que você já viu, sem se tornar "chato" - como o cinema "arthouse" muitas vezes é visto -, sendo, na verdade, uma experiência surpreendente e fascinante.
 
Nota: 5/5
 
 


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