Vocês adivinharam, a resenha de hoje será: Smurfs - O Filme |
Deixe-me lhes contar uma pequena anedota que me ocorreu em janeiro de 2010. Caso vocês não lembrem, esse foi o ano que Avatar apareceu nos cinemas, revolucionando tudo ao reviver a tecnologia 3-D - só que agora com qualidade. Todo mundo queria ver essa porra desse filme naqueles dias, eu incluso. Se bem me lembro, estava de férias da faculdade e do estágio, então fui visitar meus pais por algumas semanas em minha cidade natal - Santos, pra quem não sabe. Era minha oportunidade de saber se a coisa seria tão boa quanto todo mundo dizia, sendo assim, chamei uns amigos do tempo de escola que eu não via há um ano e fomos todos assistir Avatar. Estava esgotado, o que pra mim foi um alívio, já que o ingresso ia custar R$17,00 - um assalto - e eu não estava carregando tanto dinheiro assim comigo. Conversamos por um instante para tentar descobrir o que veríamos no lugar. Um disse "Aconteceu em Woodstock" (que eu vi anos depois e achei bom, só bom), outro queria ver outra coisa e outro queria ver um concerto da OSESP na praia. No fim ninguém fez nada.
Uma semana depois, voltei ao cinema, dessa vez com dinheiro e com antecedência. Não havia ninguém na cabine para compra de ingresso e isso me empolgou, contudo, em uma empolgação inversamente proporcional a minha, a mulher da cabine disse que os ingressos para Avatar estavam sendo vendidos separadamente e eu teria que ir até o final daquela fila - ela disse apontando para algo que parecia distante. Eu olho para trás e vejo um mar de pessoas, que por algum motivo misterioso eu não havia reparado anteriormente, confirmo com a atendente se ela se referia a tal multidão e ela reafirmou, perguntei se ainda teria algum ingresso sobrando quando fosse minha vez - meio que uma pergunta retórica - e ela disse que não fazia ideia e que os ingressos seriam vendidos até quando eles acabassem - o que pra mim foi um alívio, imagine se eles parassem de vender antes do fim dos ingressos que absurdo seria. De qualquer forma, desisti. Descrevendo assim parece preguiça, mas era gente pra caralho. Sério, pensa em uma multidão, agora bota toda essa gente desocupada em fila indiana, pois é, era um pouco maior que isso. Aí você me pergunta: mas Raphael, por que você não comprou o ingresso pela internet como todas as pessoas normais? Vá se foder, eu respondo.
Então mais uma semana se passou e eu tentei de novo, dessa vez numa segunda-feira a tarde, porque, puta que o pariu, se ainda assim estivesse cheio, eu ia roubar o ingresso de alguma criança - era minha última semana de férias e eu não tinha ido e voltado tantas vezes do cinema em vão, era uma promessa, eu veria esse filme. Realmente, segunda a tarde, não tinha ninguém comprando ingresso. Ainda assim, na fila antes de entrar na sala em que rodariam o filme, tinha uma família. Nessa família continha um adolescente retardado que já tinha visto o filme três vezes e decidiu comentar para seus pais, irmã, avó, cachorro, as melhores cenas do filme. Então uma cena de "Annie Hall", do Woody Allen, me veio a mente - e não pela primeira vez -, é, seria ótimo se a vida fosse daquele jeito (assista Annie Hall e entenda a referência, leitor preguiçoso, é melhor que Avatar, isso eu garanto). Se não bastasse, quando eu finalmente fui liberto dos comentários daquele idiota e pude entrar na sala e escolher minha cadeira, meus ouvidos captam mais um problema. Algo desagradável, cheio de gemidos e batidas eletrônicas. Uma voz francamente irritante, mas facilmente reconhecível. Era...porra, eu sempre esqueço o nome daquele gordo...qual o nome dele? Aquele chato pra caralho...Não, não é Fat Family, é só um...Lembrei! Ed Motta. Sendo sincero, nem sei se ele é tão ruim, mas aquelas músicas - aquelas que todo mundo conhece e todo mundo odeia - são uma tortura. Todas as vezes que eu fui naquele cinema, tocava Mozart ou Chopin antes do filme começar, naquele dia era o Ed Motta, e naquele dia eu nunca odiei tanto esse gordo. Odiei tanto que nem percebi que, antes da música parar e a sala escurecer, todas as cadeiras do cinema se ocuparam como que por mágica. E eu digo todas, até primeira fileira, isso porque não tinham ninguém comprando ingresso.
Mas por que eu estou contando essa história? Ah, pra justificar o porquê de eu estar resenhando um filme de 2009, que todo mundo viu, todo mundo conhece e muita gente ama, e, principalmente, explicar porque eu o detestei tanto. Então vamos pular para o enredo.
É, se veste de turista/soldado, isso vai te ajudar a se enturmar...cretino. |
O mundo utópico de Pandora é povoado por natureza e criaturas azuis nativas tão perfeitas quanto seu mundo, vivendo em tribos pacíficas e em perfeita conexão com o meio ambiente, sem conflitos, sem disturbios, tudo limpo e bonito e tranquilo, até que surge o ser humano para foder com tudo - como sempre, esses humanos filhos dumas putas. Aparentemente Pandora é rica em um mineral cujo nome eu não consigo me lembrar - eu vi esse filme em 2009 afinal de contas -, mas não importa porque ninguém sabe pra que ele serve mesmo, só se sabe que ele vale dinheiro e seres humanos são capitalistas malvados cretinos feios que não se importam com o perfeito balanceamento de Pandora e decidiram tocar o terror mesmo assim. Mas como eles vão invadir esse planeta tão avançado em sua primitividade? Ora, ao estilo Dança com Lobos/Pocahontas como sempre, jogando um humano disfarçado (esse é o tal avatar) no território deles para ganhar confiança, afinal é impossível que ele vá se apaixonar por uma das nativas e mudar sua visão de mundo, quando foi que isso já aconteceu? (Leia essa frase com o máximo de ironia possível.)
Se ainda não ficou claro o suficiente: É UMA METÁFORA. Viram como o James Cameron é genial, ele fez uma alegoria anti-consumismo, ao mesmo que criticando a atitude colonialista dos europeus dos séculos passados (convenhamos, Na'vi é qualquer etnia que o homem branco já tenha dizimado ou escravizado), e, enquanto isso, desenvolveu uma nova tecnologia e encheu o cu de dinheiro. Esse homem é um gênio, não é? Bom, até pode ser, mas o filme não deixa de ser uma merda.
Começando pelo aspecto mais básico: o roteiro é preguiçoso. Simples assim, Jaiminho achou - com razão - que o 3-D seria distração o suficiente para que as massas não prestassem atenção no enredo, portanto reviveu a história de Dança com Lobos/Pocahontas, só que ainda mais clichê, na esperança que os cenários seriam bonitos o suficiente pra que ninguém reparasse. Colocou uns smurfs altos pra caralho como nativos - sabe-se lá por qual motivo -, colocou uma cantora pop medíocre à Celine Dion para cantar o tema principal à Titanic (outro desastre, na minha opinião - me desculpem o trocadilho) e pronto, está feita a mina de ouro. E o público caiu na armadilha e adorou, na maioria dos casos. Eu prometi nunca mais ver um filme 3-D de novo, e até hoje estou cumprindo essa promessa, afinal nem tem cinema 3-D na minha região - chupa essa, tecnologia!
Como se não bastasse, os personagens são ainda piores que o enredo. Vejamos o protagonista, Jake Sully (ator que o interpreta: quero mais que se foda), notem que nem o nome dele tem muita personalidade; ele é o soldado ignorante, impulsivo, mas de bom coração, que meio que é o culpado por tudo de errado na história, mas tem uma deficiência pra criar empatia com o público e compensar pela falta de carisma - não sei vocês, mas eu nunca vi isso antes. O vilão, típico militar filho da puta, mau porque o roteiro quis assim, sem qualquer característica que o redima - do contrário ele ficaria mais interessante que o protagonista -, seguindo a risca todas as regras do livro: "Como Criar o Vilão de um Filme Medíocre". O interesse romântico, misteriosa, nativa, forte, independente, mas que sempre precisa ser salva pelo heroi. De início não quer saber do cara, mas vai ganhando confiança, e se entrega depois daquela típica troca de insultos. Percebam que eu não dei nome nem pro vilão nem pro interesse romântico, poderia ser qualquer um e eu já me esqueci. Tinha esquecido o do protagonista, mas decidi pesquisar e inserir na resenha, pois achei que a falta de personalidade do nome acrescentaria na definição do personagem. Tem mais uma série de secundários, mas ninguém liga. Se eu não me engano, um ou mais deles até morrem, mas quem se importa?
Acontece que eu nem teria me importado com nada disso, se o filme não fosse tão chato. Não serve nem pra desligar o cérebro, metade (das 3 exaustantes horas) do filme envolve masturbação sobre os cenários. É só o James Cameron mostrando o quanto aquela terra gerada por computador era bonita e o quanto o 3-D era eficiente. Não importa quantas dimensões tenha a filmagem se os personagens mal têm uma dimensão e a premissa não passa de uma releitura de uma das histórias mais chatas da que Hollywood tem para oferecer. É preguiçoso. Se o Sr. Cameron tivesse passado 10 anos trabalhando no roteiro ao invés de estudando uma maneira eficiente de jogar imagens na cara da platéia, talvez esse filme fosse bom e até inovador, mas do jeito que ficou, me surpreende que ele tenha sido tão aclamado. Avatar se tornou a minha nova definição para superestimado. É fato que minha má experiência antes de ver o filme deve ter afetado minha percepção da realidade, mas eu não me importo; eu sempre tive uma má experiência em filas de cinema, mas, se o filme fosse bom, ele compensaria.
Ainda a vida segue, Jaiminho está bilhões de dólares mais rico e eu continuo fodido e mal-pago, reclamando na internet.
Nota: 1,5/5 - pra fazer caridade.
Se ainda não ficou claro o suficiente: É UMA METÁFORA. Viram como o James Cameron é genial, ele fez uma alegoria anti-consumismo, ao mesmo que criticando a atitude colonialista dos europeus dos séculos passados (convenhamos, Na'vi é qualquer etnia que o homem branco já tenha dizimado ou escravizado), e, enquanto isso, desenvolveu uma nova tecnologia e encheu o cu de dinheiro. Esse homem é um gênio, não é? Bom, até pode ser, mas o filme não deixa de ser uma merda.
Diferentemente do mundo dos Smurfs, Pandora tem várias fêmeas. James Cameron deve ter consciência da triste condição da Smurfette (A Triste Condição da Smurfette seria um ótimo título de livro, não?) |
Senhores, eu chamei essa reunião para deixar bem claro a todos que eu sou o vilão desse filme e eu não deixarei ninguém esquecer disso. |
Michelle Rodriguez é macho pra caralho! Na verdade, o filme poderia muito bem ter sido resolvido com uma briga mano-a-mano entre ela e o vilão, mas teria sido fácil demais pra ela. |
Ainda a vida segue, Jaiminho está bilhões de dólares mais rico e eu continuo fodido e mal-pago, reclamando na internet.
Nota: 1,5/5 - pra fazer caridade.
Kkkkkk não lembro muita coisa do filme, vi na época que saiu também, mas não detestei com todas as minhas forças como você. kkkk
ResponderExcluirEu gosto de 3D, alguns me deixam tonta, outros não, mas na minha cidade os óculos estão tão velhos que é um ato de heroísmo ir ao cinema ver um filme 3D. Meu marido e eu sempre levamos lenços e um spray que limpa lentes de óculos pra ver se a coisa fica um pouco melhor. kkkk Eu até empresto o spray para as pessoas ao meu lado que vieram despreparadas, pois sou muito caridosa.
Como disse, não lembro bem da história, mas achei normal, nada demais, mas dá pra ver numa boa, tipo, eu não fico nervosa assistindo, pois alguns filmes me deixam assim
Ah, eu não devo ser normal, pois nunca comprei ingresso pela internet.
Como eu disse, talvez o processo para assistir o filme tenha sido pior que o filme em si, mas eu decidi transferir a raiva mesmo assim. Essa resenha se construiu dentro de mim por quase quatro anos. Foi tanta raiva acumulada que eu até errei a data em que eu fui assistir...foi janeiro de 2010.
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