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quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Minha Querida Sputnik - Haruki Murakami


Esse foi um livro que me surpreendeu. Estou nesse momento, tentando reunir as informações essenciais do livro para preparar a resenha, mas foi tanta coisa, que sei que não será possível lhe fazer justiça. Não é o melhor livro da história, também não quero exagerar, mas não esperava que fosse tão bom.
 
 
Enquanto pesquisava sobre o autor, antes de comprar o livro, pensei que ele seria um desses autores superestimados, considerados grandes gênios contemporâneos, mas na realidade, não são tão bons assim, ou não têm originalidade alguma. Errei. É um livro original e Murakami é um dos melhores escritores contemporâneos.
 
 
O livro é sobre Sumire, aspirante a escritora, fanática por Kerouac (pelo menos naquela semana), um tanto perdida e aparantemente irresponsável, e a única amiga de K., o narrador. K. é um jovem professor, solitário, que conheceu Sumire na universidade e se apaixonou. No entanto, nunca foi correspondido, pois, embora entre eles existisse amor, Sumire não sentia desejo sexual, pelo menos não por ele, nem por homem algum. Sumire, em um casamento, conhece Miu, uma mulher misteriosa, dezessete anos mais velha, ex-pianista, empresária de sucesso e casada. Sumire se apaixona por Miu, mas também não é correspondida. Nesse contexto, desenvolve-se a história dos três. A sinopse dessa edição do livro, diz tratar-se de um triângulo amoroso, mas como eu sempre pensei que para formar um triângulo, um dos lados tem que ser correspondido, creio que se trata de outra coisa. Sobre relacionamentos e afeto, ou mais exatamente, a falta desses - tema comum na cultura asiática moderna, como pode ser visto nos filmes de Wong Kar Wai.
 
 
A história começa leve, com um humor interessante e tantas referências quanto em um filme do Tarantino. Na verdade, lendo o livro, pensei em filmes do Woody Allen, Tarantino e Godard, se os três se unissem, provavelmente o resultado seria algo assim. Com o passar dos capítulos, o surrealismo começa a invadir e as marcas registradas do Murakami começam a aparecer.
 
 
Talvez o leitor não saiba, mas a NY Times desenvolveu o Murakami Bingo, para ser jogado durante as leituras de seus livros. Fiz isso, não consegui completar nenhuma linha, mas marquei vários quadros. Se você tiver a oportunidade de lê-lo (leia-o, falo sério!), jogue também, é muito interessante. (Marquei: Mysterious woman, ear fetish, dried-up well, something vanishing, unexpected phone call, cats, old jazz record, running, historical flashback, parallel worlds, vanishing cats)
 
 
O que mais me impressionou foi Sumire. Como escritor amador, sei como é difícil escrever uma mulher sem cair nos velhos clichês. Murakami conseguiu, criou uma das grandes personagens femininas da literatura. Além disso, ele também conseguiu capturar a alma dessa personagem e transformá-la em uma boa escritora. Reparem se não existe uma quase mudança de personalidade na narração, durante os capítulos em que vemos os documentos escondidos com o diário de Sumire. É impressionante, não é mais o autor escrevendo, mas Sumire assumindo a escrita, só esse detalhe já valeria o livro.
 
 
Fiquei ainda mais interessado pelo trabalho do autor. Não quero me exceder, falando muito sobre a história, pois isso poderia estragar a experiência. Esse livro é melhor se lido sem nenhum conhecimento sobre os acontecimentos e complicações do enredo. Apenas saiba que surpreende. Talvez não tenha sido parcial nessa resenha, nunca sou, mas o livro me tocou profundamente. Também vi minha melhor amiga "sumir feito fumaça", então toda hora me via perdido na leitura, por causa de algum flashback que tive de meus momentos com ela. Não consegui não me identificar com a história e com os problemas de K. Creio que, em alguns anos, esse será um daqueles autores clássicos, que não podem faltar nas bibliotecas pessoais de leitores assíduos.
Nota: 5,0

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Anjos Caídos (Duo Luo Tian Shi, 1995) - Wong Kar Wai

 
Sabe esses filmes que, ao terminar, você não sabe dizer o que houve, mas está fascinado e emocionado pela experiência de poder vê-lo. Esses são meus filmes favoritos, e uma das marcas do diretor chinês Wong Kar Wai (Amor a Flor da Pele - minha próxima resenha de filme).
 
Gostaria de avisar que baixei esse filme na loja do Paulo Coelho (se isso te revolta, me envie uns DVDs que eu resenho tranquilo), me arrependi profundamente. A qualidade de vídeo era impecável, digna de Blu-ray, mas as legendas estavam péssimas. Se você for fluente em chinês e conheça o dialeto de Hong Kong, baixe, se não, alugue em qualquer lugar, ou peça emprestado daquele amigo cinéfilo chato pra caralho - confie em mim, ele tem esse filme, só não vá riscar o DVD. Por causa das legendas, que em muitos momentos aparecia atrasada ou nem mesmo aparecia, perdi muitos detalhes do filme, por isso vou alugá-lo hoje e editar essa resenha caso alguma coisa me chame atenção.
 
A história é sobre um assassino em seu último dia de trabalho. Ele tem uma parceira no crime, com a qual ele tem que se separar por não achar apropriado que colegas de trabalho se relacionem de modo afetivo. A falta do afeto também o faz buscar companhia em qualquer mulher que esteja disposta, como ocorreu com a Blondie. Em seu caminho ele cruza com um mudo fascinante e este, por alguns momentos, se torna narrador da história. - Outra obs.: isso pode soar meio racista, mas até a primeira metade do filme, confundi o assassino com o mudo, pensando que eram um personagem só..., pois é, eu realmente preciso rever esse filme.
 
Mesmo se tratando da vida de um assassino, a ação é muito sutil, acontecem alguns tiroteios exporádicos e mortes bem gráficas, mas o foco do filme são os relacionamentos, as idas e vindas, pessoas que aparecem e somem sem qualquer explicação. É sobre o desligamento das relações afetivas atuais nas grandes cidades. Tema comum na arte contemporânea asiática, vide escritores como Haruki Murakami (que logo resenharei, tenho dois livros dele recém-comprados, a caminho de minha casa).
 
Como a maior parte dos filmes asiáticos, Anjos Caídos, é um espetáculo visual. As cores são espetaculares e constantemente exploradas. Os tons mais escuros da cidade e da noite, dão aquele ar de submundo, meio literatura beat, que o diretor, provavelmente, queria explorar. A trilha sonora, os movimentos, os sons do trem, é um grande festival para os sentidos. Por isso gostei do filme, mesmo com as legendas defeituosas, pois tudo nele é um espetáculo, os personagens mesmo quase não falam, vez ou outra narram a história, mas imagino que, se fosse um filme mudo, a impressão seria a mesma. Os diálogos, embora raros, são excelentes. A cena da moça que teve o coração partido e decide se vingar por telefone, e o rapaz mudo gesticulando seus pensamentos enquanto a consola, é hilária e brilhante. Outra cena marcante é quando a parceira, ouve a música que seu parceiro assassino encomenda no bar que os dois frequentam em horários diferentes, para indicar a separação. Depois ela volta para a casa do parceiro, que ela costuma limpar enquanto ele trabalha, e se masturba em sua cama, chorando e fumando, enquanto a música toca. Os gemidos em contraste com as lágrimas e a voz doce da cantora, é uma das coisas mais assombrosamente lindas que eu já tive o prazer de experienciar com o cinema.
 
Em suma, é um filme sobre relacionamentos, mais exatamente a falta deles. O fim do afeto nas cidades modernas e o sexo como a única coisa capaz de fazer a população dormir a noite. Como um filme europeu, mas com aquele típico sentimento de repreensão e diligência asiático. Um excelente filme, que deveria ser visto por todos que gostam de cinema para mais que só diversão estúpida.
 
Nota: 4,5/5,0