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quarta-feira, 18 de março de 2015

Quatro Estações [Different Seasons] - Stephen King (1982)


Estou convencido de que toda a carreira do Stephen King foi construída pelo fato de ele não ser tão ruim quanto inicialmente se imaginava. Pois é, eu li um Stephen King e, talvez por eu estar familiarizado com a obra do Raphael Draccon (tenho pesadelos até hoje por culpa desse cara), devo dizer que achei excelente.  Ah, antes que eu me esqueça, devo agradecer à Samara, ex-vendedora da livraria Catarinense aqui de Itajaí por ter me convencido a comprar esse livro. É pra isso que esses vendedores servem, para te mostrar experiências de leitura novas e inesperadas. Se eu quisesse comprar o que eu já conheço, na internet é mais barato. Fica aqui minha homenagem tardia e uma breve demonstração de gratidão. É possível que o nome dela volte a aparecer por aqui. Vocês não fazem ideia de quanta coisa ela me forçou a conhecer (até Breaking Bad, série contra a qual eu resistia, vi todas as temporadas em um mês depois de falar com ela). Mas vamos ao livro.

Quatro Estações é formado por quatro, bem, a editora chama de contos, mas não são bem contos. Toda a teoria que separa o conto, o romance e a novela é meio nebulosa. A edição americana diz que são novelas. Uma ou duas histórias me pareceram romances curtos. Vai ver que, considerando as proporções usuais dos livros do King (típicos tijolos), 110 páginas pode ser um conto, mesmo tendo mais de uma célula dramática. Mas nada disso importa, são histórias e devem ser tratadas como tal. Que as classificações fiquem para os acadêmicos - que por sua vez não encostam seus sábios dedos no King. Cada história é pareada com uma estação do ano, mesmo que o enredo em si não tenha assim muita relação real ou simbólica com a dita estação, mas isso é outra coisa que pode ser ignorada. Ele não é ruim, mas o leitor precisa dar uma força fechando os olhos pra certos detalhes.

A primeira história é a mais famosa. Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank, que foi a base daquele filme que tem a maior nota no IMDB, Um Sonho de Liberdade (acho que só eu não vi esse filme, desculpa sociedade). Esse pode ser um caso raro de filme melhor que o livro. Vejam bem, a história é aquela dos dois prisioneiros, um deles acusado injustamente, tentando sobreviver e, quem sabe, sair, seja por tempo cumprido ou fuga. Claro que todo mundo na mente do Stephen King é filho da puta, então conflitos acontecem. Uma coisa é inegável, Stephen King pode estar longe de ser um escritor sofisticado - o próprio admite isso no posfácio, mas ele sabe prender o leitor. Ele tem essa linguagem simples sem ser idiota que é eficaz. O que mata essa história são as últimas 15 páginas. Não vou revelar o final, caso você seja a uma pessoa que ainda não sabe o que acontece, mas digamos que é um truque de mágica. Acontece um truque de mágica no clímax da história que poderia muito bem ser seguido de um ponto final, no entanto o autor decide explicar como se deu o truque, então a magia morre. Aquela velha história de "menos é mais". É possível dizer também que a carreira do King foi amaldiçoada por ignorar essa velha e batida máxima, tanto na literatura como no cinema.

Na segunda, O Aluno Inteligente, a coisa muda um pouco de figura. Esse também é filme, mas um que ninguém viu. Aqui temos um adolescente que descobre que é vizinho de um ex-soldado nazista. O pentelho chantageia o velho pra que ele conte histórias macabras do tempo dos campos de concentração. Essa é uma história interessante, lida com a capacidade do ser humano de fazer coisas horríveis e sentir prazer enquanto isso. Cheia de reviravoltas, mas mantendo respeito com o material (sem transformar o holocausto num thriller barato). Minha única crítica é que, não importa se o personagem é um adolescente, um prisioneiro, um soldado nazista, todos falam como Stephen King. Senti um problema grave de voz, ou falta dela, nessas primeiras duas histórias. As outras duas compensam nesse detalhe, mas é o que eu já falei, King não é cuidadoso nesse aspecto, nem parece sua intenção ser. A intenção é fazer o leitor chegar na última página, interessado durante o caminho todo, e isso o homem consegue. A transformação dos personagens é fascinante, e, grosseira que seja, a história consegue fazer uma análise pertinente da monstruosidade do homem. Pontos para o Sr. King aqui. (Vocês nunca imaginaram que iam ler isso aqui, né, leitores da minha velha guarda?)

A terceira é a melhor. Se você está na dúvida entre comprar ou não esse livro, compre nem que seja só por O Corpo. Essa é outra que todo mundo conhece, graças ao excelente Stand By Me (Conte Comigo), um dos meus filmes favoritos (num top 30 ele entraria), com River Phoenix, o ator que morreu cedo demais. Esperem por uma resenha comparando o livro com o filme num futuro próximo (o que pra mim significa até meados de 2017). Um grupo de amigos ficam sabendo de um corpo perdido no meio do mato e decidem ver, afinal é um cadáver, por que não ir lá olhar e cutucar com uma vara? Essa história soou tão pessoal, e se não me engano tem um quê de autobiográfica mesmo, que aquele problema que eu citei da voz some. Cada criança tem seu jeito particular e multidimensional. O filme ainda supera a história por ter sabido cortar coisas que o autor decidiu manter no texto, mas que são gordura. Não atrapalha, como em Shawshank, mas não ajuda. Ainda assim, gostei o suficiente da história para relevar qualquer defeito. Pode ser a nostalgia me cegando, não me importo.

Por último, O Método Respiratório, única história da coleção que não virou filme. Essa é mais o que se espera do King, cheia de aspectos sobrenaturais. Não chega a ser uma história de terror, mas a vontade de que seja está lá. A histórica começa num clube no qual um senhor se encontra com outros senhores para beber, conversar e, todo natal, contar histórias. Naquele natal, um médico aposentado veio contar a história de uma jovem que apareceu em seu consultório na década de 1930. A moça engravidou e estava decidida a criar a criança sozinha, já que o pai meteu o pé. Ao contrário do normal daquela época, o doutor oferece todo tipo de ajuda à garota. O sobrenatural está no fim e eu não pretendo falar do fim aqui. Também circula algo de estranho no clube, mas isso fica pra imaginação do leitor.

Esse livro veio de um esforço do Stephen King para provar que ele não é só um autor de terror e devo dizer que, apesar da minha descrença inicial, ele conseguiu o que queria. Não vai mudar sua vida, mas Quatro Estações vai te proporcionar um bom momento de leitura. Tem falhas, mas não tantas. A tradução me decepcionou um pouco. Até fiz uma pesquisa rápida sobre a tradutora e não achei mais nenhum trabalho dela, o que não me surpreende. Não chega a danificar o livro, mas, se você for um daqueles leitores chatos, vai te distrair. Todo leitor uma hora ou outra tem que se render a pelo menos um livro do King (o cara escreveu quase 60, porra, e ele tem 67 anos), então que seja esse. Admito que lerei outro dele um dia desses. Não sei qual ou quando, mas vai acontecer.

Dessa vez vou dividir a nota por cada história e fazer a média, é o que me parece mais justo.
Rita Hayworth e a redenção de Shawshank: 3/5
O aluno inteligente: 3,5/5
O corpo: 5/5
Método respiratório: 3,5/5
Total: 3,75, que eu arredondo de bom grado pra um sólido 4/5.

segunda-feira, 2 de março de 2015

Poema 73

quando saí foi em busca de alguma coisa,
sei lá eu, uma nova musa, uma foda, o que viesse.
pode ser que seja essa blusa regata cinza
com essa logo do bar estampada no peito e
esses shorts jeans azuis e essa alça preta do sutiã exposta
e esse seu ar inocente? tem muito pouco de inocência e
de certeza não me ajudam a pensar.
se estou bêbado ou apaixonado já não diferencio
e sei bem dessa minha loucura e hábito de me apaixonar fácil,
mas tu puxa esses shorts pra cima e pra baixo e,
caralho, queria trocar de mãos com as tuas.
já te sou grato,
estava seco há meses das poesias, tanto
que me sentia um cara feliz, quase.
aqui estou, caneta e caderno,
ao som de um medley hispânico de Cypress Hill
que eu preferia não estar ouvindo

admirando teu rabo distante e nele achando silêncio e paz,
sonhando aquelas minhas obscenidades favoritas.

termino meu uísque e te peço outro
só pra que tu me inspire com seu sorriso
e, se eu for digno de tanto, outro sorriso
quando você vier me entregar outro copo cheio.
ah! como eu quero ser poeta maldito.
sua visão, meu paraíso, me é de grande auxílio,
minha garota de Ipanema aqui da decadente,
ó tão decadente,
mas pra mim tão amada e que um dia tornarei cult,
Hercílio Luz, Itajaí.
pois, por ti e tantas outras,
adoto essa cidade como minha.


Obs.: Por algum motivo diabólico o arquivo onde guardava todas minhas poesias sumiu do Google Drive. Nem tudo está perdido, não comemorem ainda, tenho algumas coisas no HD do computador, outras numa caderneta e, por sorte ou azar, não tenho produzido tanto em se tratando de poesia, então tudo que importa já está no blog. Só espero que não suma daqui também. Pode muito bem ter sido culpa minha esse sumiço, que inclui outros textos além das poesias, mas não faço ideia do que eu fiz ou de como recuperar. É a vida, eu acho. Coisas somem.