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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Anjos Caídos (Duo Luo Tian Shi, 1995) - Wong Kar Wai

 
Sabe esses filmes que, ao terminar, você não sabe dizer o que houve, mas está fascinado e emocionado pela experiência de poder vê-lo. Esses são meus filmes favoritos, e uma das marcas do diretor chinês Wong Kar Wai (Amor a Flor da Pele - minha próxima resenha de filme).
 
Gostaria de avisar que baixei esse filme na loja do Paulo Coelho (se isso te revolta, me envie uns DVDs que eu resenho tranquilo), me arrependi profundamente. A qualidade de vídeo era impecável, digna de Blu-ray, mas as legendas estavam péssimas. Se você for fluente em chinês e conheça o dialeto de Hong Kong, baixe, se não, alugue em qualquer lugar, ou peça emprestado daquele amigo cinéfilo chato pra caralho - confie em mim, ele tem esse filme, só não vá riscar o DVD. Por causa das legendas, que em muitos momentos aparecia atrasada ou nem mesmo aparecia, perdi muitos detalhes do filme, por isso vou alugá-lo hoje e editar essa resenha caso alguma coisa me chame atenção.
 
A história é sobre um assassino em seu último dia de trabalho. Ele tem uma parceira no crime, com a qual ele tem que se separar por não achar apropriado que colegas de trabalho se relacionem de modo afetivo. A falta do afeto também o faz buscar companhia em qualquer mulher que esteja disposta, como ocorreu com a Blondie. Em seu caminho ele cruza com um mudo fascinante e este, por alguns momentos, se torna narrador da história. - Outra obs.: isso pode soar meio racista, mas até a primeira metade do filme, confundi o assassino com o mudo, pensando que eram um personagem só..., pois é, eu realmente preciso rever esse filme.
 
Mesmo se tratando da vida de um assassino, a ação é muito sutil, acontecem alguns tiroteios exporádicos e mortes bem gráficas, mas o foco do filme são os relacionamentos, as idas e vindas, pessoas que aparecem e somem sem qualquer explicação. É sobre o desligamento das relações afetivas atuais nas grandes cidades. Tema comum na arte contemporânea asiática, vide escritores como Haruki Murakami (que logo resenharei, tenho dois livros dele recém-comprados, a caminho de minha casa).
 
Como a maior parte dos filmes asiáticos, Anjos Caídos, é um espetáculo visual. As cores são espetaculares e constantemente exploradas. Os tons mais escuros da cidade e da noite, dão aquele ar de submundo, meio literatura beat, que o diretor, provavelmente, queria explorar. A trilha sonora, os movimentos, os sons do trem, é um grande festival para os sentidos. Por isso gostei do filme, mesmo com as legendas defeituosas, pois tudo nele é um espetáculo, os personagens mesmo quase não falam, vez ou outra narram a história, mas imagino que, se fosse um filme mudo, a impressão seria a mesma. Os diálogos, embora raros, são excelentes. A cena da moça que teve o coração partido e decide se vingar por telefone, e o rapaz mudo gesticulando seus pensamentos enquanto a consola, é hilária e brilhante. Outra cena marcante é quando a parceira, ouve a música que seu parceiro assassino encomenda no bar que os dois frequentam em horários diferentes, para indicar a separação. Depois ela volta para a casa do parceiro, que ela costuma limpar enquanto ele trabalha, e se masturba em sua cama, chorando e fumando, enquanto a música toca. Os gemidos em contraste com as lágrimas e a voz doce da cantora, é uma das coisas mais assombrosamente lindas que eu já tive o prazer de experienciar com o cinema.
 
Em suma, é um filme sobre relacionamentos, mais exatamente a falta deles. O fim do afeto nas cidades modernas e o sexo como a única coisa capaz de fazer a população dormir a noite. Como um filme europeu, mas com aquele típico sentimento de repreensão e diligência asiático. Um excelente filme, que deveria ser visto por todos que gostam de cinema para mais que só diversão estúpida.
 
Nota: 4,5/5,0
 
 

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