De início, juro que tinha a intenção de escrever um artigo sério e regrado, sem opiniões pessoais e devidamente embasado, mas pra isso eu digo: foda-se! Escreverei como eu bem entender e você que procure outro blog, ou um livro, ou uma porra de uma enciclopédia, pra verificar se o que eu escrevo faz sentido ou não. E não há jeito melhor para se dar início a um texto que de forma defensiva e ofensiva, não concordam? O negócio é que eu ando lendo muito sobre uma determinada discussão que se passa em meio à literatura, não sei dizer se internacionalmente ou só por aqui, mas vou julgar que é uma coisa mundial, e acontece que nenhum dos lados dessa discussão me agrada, e eu quero falar sobre isso. Como eu não me planejo, chances são que eu vou me perder por completo, sendo assim, segurem-se e tentem me acompanhar.
Livro comercial (literatura de massa, best-sellers, ou como queira chamar) contra literatura de conteúdo, existe um problema em trabalhar com qualquer uma dessas formas ou ler somente uma delas? Bom, pra começo de conversa, o que são esses tipos de livros? Pelo que eu andei ouvindo por aí, literatura comercial é aquela que se vê em todo lugar, produzida quase que de maneira industrial e padronizada, tendo em vista um público em particular, mais especificamente adolescentes, leitores iniciantes e pessoas com medo de livros. Às vezes vista como uma literatura de entrada, que abre espaço para obras mais complexas. Enquanto isso, literatura de conteúdo é feita para agradar aos críticos e aos padrões estéticos de sua época. É capaz de gerar mais discussão do que a literatura de massa, mas pode ser vista como pretensiosa ou somente chata, embora as pessoas que a vejam dessa forma são comumente vistas como burras ou inexperientes. Eu, particularmente, tenho meus problemas com ambas, e logo mais me justificarei, mas antes quero explorar exemplos, principalmente de literatura de conteúdo, já que esta eu tenho mais dificuldade de identificar.
Comercial é bem simples de ver exemplos: todas essas séries que lançam por aí, com vampiros, lobisomens, amores adolescentes, sadomasoquismo leite com pêra, bruxos, ou todas essas coisas juntas. Sem falar dos romances pré-fabricados, auto-ajuda e livros com mensagens tão parecidas que parecem ter só trocado os nomes dos personagens.
Conteúdo normalmente é visto como o clássico, livros dos velhos autores normalmente brasileiros, já que os clássicos estrangeiros até são bem vistos - vide Jane Austen -, obrigatórios para a escola. O que dificulta minha classificação desses livros como "eruditos" é que a maior parte dos clássicos foram "comerciais" em seus dias de glória - uma espécie de comercial com conteúdo, mas ainda assim comercial. Outros exemplos são livros que usam linguagem rebuscada, invenções nas estruturas da narração, não-linearidade, e tudo isso não por gosto, mas pra agradar o crítico e os "intelectuais" sejam eles quem forem. Muitas vezes confundem estilo com conteúdo.
Deixando claros os conceitos, vamos dar uma olhada nos argumentos usados por aí. Em defesa do comercial, é dito que, se não fosse bom, não venderia tanto; que vender muito não é sinônimo de baixa qualidade; que eles são mais fáceis e agradáveis de se ler, até atraindo mais pessoas à leitura. Quanto a isso eu digo: pra começar, não confunda tamanho de cheque com tamanho de talento, os dois raramente são diretamente proporcionais; segundo, realmente, ganhar dinheiro com seu trabalho não é pecado, contudo, partindo do momento em que o autor forja seu trabalho com o objetivo de agradar consumidores (note que não digo leitores) e vender mais, o livro deixa de ser arte e se transforma em produto, logo merecendo a perda de respeito, não só pelos críticos, como pelos leitores que sabem das coisas; e por último, vender muito não significa baixa qualidade, mas tampouco significa alta.
Isso quer dizer que um escritor devia ser proibido de fazer livros comerciais? Obviamente não, só significa que este não deveria se surpreender ao ouvir críticas quanto à integridade do seu trabalho. Vejamos, se usarmos como conceito de arte "expressão física objetiva ou abstrata da consciência ou visão de quem a constrói ", logo a forma como são feitos os livros comerciais não os encaixam nesse meio. É um produto, talvez até um bom produto, mas não é arte, e é disso que reclamam muitos dos críticos da literatura de massa. Não se pode preparar um trabalho sincero se a todo momento é necessário se preocupar com a sua recepção pelo grande público, número de vendas e uma série de outros fatores. Em outras palavras, dinheiro não deveria vir em primeiro lugar; não quando se quer fazer uma obra honesta e capaz de sobreviver ao seu tempo.
Tendo dito tudo isso, a literatura acadêmica não é de todo inocente. Tampouco é honesto moldar um trabalho de acordo com a visão estética dos críticos. Críticos raramente entendem de algo que vá além do seu tempo, na maioria das vezes eles apenas seguem padrões definidos por obras do passado. Se um escritor tem por objetivo apenas impressionar o mundo com a sua técnica e vocabulário extenso, ele não é um artista, só é metido e chato pra caralho. Prêmios também são tanto um sinal de talento quanto número de vendas - Jorge Luis Borges não é nobel; Nelson Rodrigues não foi membro da ABL, nem Ferreira Gullar, mas Paulo Coelho e José Sarney estão muito bem "imortalizados", e num sentido muito mais literal do que a maioria de nós desejaria que fosse.
Esses argumentos não se limitam à literatura. Qualquer forma de arte passa por isso, principalmente cinema e música, mas só mudam as formas de apresentação, os argumentos são os mesmos. Se um escritor vende milhões escrevendo sobre dragões em um mundo medieval fantástico, em seguida surgirão milhares de livros sobre dragões em mundos medievais fantásticos, ou fadas, ou zumbis, ou bruxos. Se um diretor faz um filme sobre robôs gigantes bons lutando contra robôs gigantes maus, destruindo uma metrópole no processo, pode ter certeza que ele vai ser copiado à exaustão. Isso quer dizer que todo o livro sobre dragões (filme de robôs) é caça-níquel explorador da inocência cultural das massas? Não, de forma alguma. É possível ser popular e artisticamente honesto ao mesmo tempo, e eu percebo isso em muitos autores atuais. Não posso sair citando com exatidão, pois não sou especialista no meio, não gosto de fantasia e posso muito bem falar merda, mas é uma intuição. Dá pra perceber honestidade de artista só no discurso. Já outros deviam largar a arte e virar pro marketing.
O que me deixa puto e motiva a existência desse texto é o discurso anti-intelectual que alguns desses autores insistem em fazer toda a vez que um best-seller é, muitas vez com razão, arrasado pela crítica. Pedem por liberdade, mas repreendem o eruditismo, que é uma forma de expressão como qualquer outra. E tem mais, é possível ser artístico e intelectualmente estimulante, sem se deixar cair no eruditismo barato - que eu tampouco defendo ou faço uso nas minhas tentativas de escrever ficção. Veja Haruki Murakami, Carlos Heitor Cony (este, por sinal, membro da ABL), Nelson Rodrigues, Ernest Hemingway; no cinema, Woody Allen (que tornou a psicanálise freudiana e o existencialismo de Dostoiévski - e o próprio Dostô é fascinante - e Sartre, motivos de comédia), Godard (na década de 60, assim como o resto da Nouvelle Vague), e até Ingmar Bergman. Todos esses nomes fizeram arte popular, mas sincera e estimulante, tanto que foi capaz de agradar ambos os lados, os críticos e o público - em parte, logicamente.
São compreensíveis as reclamações contra as leituras forçadas na escola, e eu apoio essa reclamação, pois me fechei a leitura, nessa época, justamente por causa disso; mas forçar literatura popular não vai resolver o problema - é como trocar uma ditadura por outra. Não funcionaria porque nem todo o jovem está aberto a literatura popular. Eu li Harry Potter aos 13 anos - depois de ter dormido no cinema durante o primeiro filme poucos anos antes disso - e não suportei o tédio. Eu não dava a mínima para aqueles moleques e suas lições batidas de amizade, sinto muito. Se esse livro ou suas cópias genéricas me fossem forçados tanto quanto Iracema o foi, o resultado seria o mesmo - eu lendo um resumo na internet, sem nem pensar em tocar em outros livros.
Por que não deixar o aluno decidir? Depois, para método de avaliação, pede-se um resumo e opinião do livro escolhido por cada um. É uma proposta razoável. Fico pensando como teria sido minha vida se uma oportunidade assim me fosse apresentada. Talvez eu não tivesse lido pela primeira vez por vontade própria aos 19 anos. Talvez, sendo incentivado a escolher, tivesse conhecido Bukowski mais cedo e descoberto o quão variável e desregrada é a literatura.
No fim das contas, tudo termina dependendo do gosto. Enquanto houver gente lendo 50 Tons de Cinza e achando ótimo, livros assim vão continuar povoando as estantes, e a questão é que não há nada de errado com isso. Deixe que povoe. Mas não restrinja a literatura ao seu gosto, nem tente transformar padrões comerciais em regras editoriais. E acima de tudo, não se esqueça que um livro é mais que uma válvula de escape para um fim de semana chuvoso, mas também uma obra de arte, um pedaço da alma do autor e sua visão. Entregar essa arte por completo à uma industria de massa só servirá para monopolizar o setor e fechá-lo ainda mais, dando mais e mais desculpas para as editoras se burocratizarem. Todo mundo quer vender, dinheiro é muito bom, mas os tais padrões que andam sendo passados por aí não passam de prostituição. Foi o que o artista se tornou - e não só de hoje - uma puta das mais baratas, que implora por clientes e pede desculpas por sua condição.
O que me deixa puto e motiva a existência desse texto é o discurso anti-intelectual que alguns desses autores insistem em fazer toda a vez que um best-seller é, muitas vez com razão, arrasado pela crítica. Pedem por liberdade, mas repreendem o eruditismo, que é uma forma de expressão como qualquer outra. E tem mais, é possível ser artístico e intelectualmente estimulante, sem se deixar cair no eruditismo barato - que eu tampouco defendo ou faço uso nas minhas tentativas de escrever ficção. Veja Haruki Murakami, Carlos Heitor Cony (este, por sinal, membro da ABL), Nelson Rodrigues, Ernest Hemingway; no cinema, Woody Allen (que tornou a psicanálise freudiana e o existencialismo de Dostoiévski - e o próprio Dostô é fascinante - e Sartre, motivos de comédia), Godard (na década de 60, assim como o resto da Nouvelle Vague), e até Ingmar Bergman. Todos esses nomes fizeram arte popular, mas sincera e estimulante, tanto que foi capaz de agradar ambos os lados, os críticos e o público - em parte, logicamente.
São compreensíveis as reclamações contra as leituras forçadas na escola, e eu apoio essa reclamação, pois me fechei a leitura, nessa época, justamente por causa disso; mas forçar literatura popular não vai resolver o problema - é como trocar uma ditadura por outra. Não funcionaria porque nem todo o jovem está aberto a literatura popular. Eu li Harry Potter aos 13 anos - depois de ter dormido no cinema durante o primeiro filme poucos anos antes disso - e não suportei o tédio. Eu não dava a mínima para aqueles moleques e suas lições batidas de amizade, sinto muito. Se esse livro ou suas cópias genéricas me fossem forçados tanto quanto Iracema o foi, o resultado seria o mesmo - eu lendo um resumo na internet, sem nem pensar em tocar em outros livros.
Por que não deixar o aluno decidir? Depois, para método de avaliação, pede-se um resumo e opinião do livro escolhido por cada um. É uma proposta razoável. Fico pensando como teria sido minha vida se uma oportunidade assim me fosse apresentada. Talvez eu não tivesse lido pela primeira vez por vontade própria aos 19 anos. Talvez, sendo incentivado a escolher, tivesse conhecido Bukowski mais cedo e descoberto o quão variável e desregrada é a literatura.
No fim das contas, tudo termina dependendo do gosto. Enquanto houver gente lendo 50 Tons de Cinza e achando ótimo, livros assim vão continuar povoando as estantes, e a questão é que não há nada de errado com isso. Deixe que povoe. Mas não restrinja a literatura ao seu gosto, nem tente transformar padrões comerciais em regras editoriais. E acima de tudo, não se esqueça que um livro é mais que uma válvula de escape para um fim de semana chuvoso, mas também uma obra de arte, um pedaço da alma do autor e sua visão. Entregar essa arte por completo à uma industria de massa só servirá para monopolizar o setor e fechá-lo ainda mais, dando mais e mais desculpas para as editoras se burocratizarem. Todo mundo quer vender, dinheiro é muito bom, mas os tais padrões que andam sendo passados por aí não passam de prostituição. Foi o que o artista se tornou - e não só de hoje - uma puta das mais baratas, que implora por clientes e pede desculpas por sua condição.
Comecei a observar essa discussão a respeito de livros de massa x alta literatura pouco antes do lançamento do último livro do Dan Brown, um dos grandes autores de bestsellers. Confesso que concordo com alguns dos pontos elencados pelos defensores dos livros mais comerciais, porém, com grandes ressalvas.
ResponderExcluirEu, particularmente, já li e ainda leio muito livro ruim com plena consciência de que aquilo não vai me acrescentar em nada, mas me diverte, me entretém. Tem momentos que tudo que eu quero é ler uma bobagem e só, e é para isso que os bestsellers me servem, alguns até muito bem. Seu propósito é muito claro para mim.
O "problema" reside no achar que esse tipo de literatura tem realmente algo a oferecer, que não seja umas horinhas de entretenimento para esvaziar a mente. Procurar conteúdo onde não tem.
Sobre a alta literatura, sinceramente, procuro o mínimo possível críticas especializadas. A coisa toda se torna muito técnica e um contato mais próximo com o autor fica meio perdido no meio de tantas definições concretas a respeito da obra. Li muitos livros endeusados pelas críticas - e, consequentemente, por uma parcela de leitores que ainda insiste em não ter uma opinião própria a respeito daquilo que leu e acaba aceitando uma opinião embasada a despeito do seu próprio gosto - e odiei. Assim como amei tantos outros. É inevitável, os caminhos sempre convergem para o tal do gosto, como você mesmo escreveu.
No mais, vamos todos seguindo a nossa vidinha lendo aquilo que gostamos e gongando aquilo que não...
Eu comecei a prestar atenção nisso quando decidi ver como estava o tal mercado editorial brasileiro, que dá sinais de crescimento. Os escritores atuais com maior número de vendas insistem que existe uma perseguição contra a literatura comercial por parte da crítica, que é elitista e exige eruditismo dos autores. Isso pra mim não existe. É como você disse, esses autores divertem e é pra isso que eles servem (como um filme da Marvel, mais ou menos), mas acaba aí. Ainda assim eles continuam dizendo que, como a literatura comercial vende mais, ela merece mais respeito e ser colocada no mesmo patamar da alta literatura. O que pra mim soa como o Chimbinha pedindo para ser comparado a Stravinsky.
ExcluirEssa crítica nem foi aos livros comerciais, mas às atitudes de alguns autores desse meio. Vi seu comentário, reli o texto e fiz umas correções, e me arrependi de não ter dado nome a alguns bois - à Nelson Rodrigues -, pra que ficasse claro que a coisa é pessoal. Mas isso começou com a tal antologia "Sub-Zero" - conhece? -, feita em resposta à Granta, que deixou de lado autores como André Vianco, Draccon e Spohr, colocando no lugar Daniel Galera, Antônio Xerxenesky e outros "menos conhecidos", mas mais respeitados (que eu não li e não sei dizer se merecem o respeito). Depois disso vi uns textos do Draccon defendendo a literatura comercial e dizendo que tem que ser desse jeito pra poder entrar no "mercado". Aí meu sangue foi fervendo e saiu esse texto.
Nem quis defender os eruditos, concordo que muitos não correspondem às expectativas e muita gente só vai na opinião dos outros. Também raramente leio criticas sérias, elas costumam analisar demais as coisas e usar termos que raramente significam qualquer coisa.
No fim, nada disso importa mesmo.
Já li André Vianco e Draccon e, olha, é difícil de encarar que os caras queiram se colocar no mesmo patamar da alta literatura. Pode parecer preconceito, mas eu acredito na divisão das coisas e cada autor deve ter uma visão bem honesta do seu lugar, baseado naquilo que se propôs a escrever, pra depois não ficar chorando as pitangas como o Draccon querendo se igualar. O Draccon defender a literatura comercial, ok, até porque ele vive disso. Mas daí a soltar essas abobrinhas... Realmente é de ferver o sangue.
ExcluirA literatura contemporânea brasileira vem crescendo bastante, chega dá gosto de ver um monte de coisa boa sendo feita por esse Brasilzão afora, MAS - e aqui vai uma opinião estritamente pessoal - não considero contemporânea o tipo de literatura que esse pessoal mais comercial/fantástico/sobrenatural/sei lá mais o quê faz, independente de ser escrita nesses nossos tempos. Os caras escrevem Fantasia e, mesmo eu adorando de paixão esse gênero, não dá pra colocar os autores no mesmo patamar. O ruim disso tudo é que por terem muitos fãs, eles acabam acreditando verdadeiramente que produzem uma literatura de conteúdo e não um simples passatempo, e aí saem essas baboseiras do tipo "tem que ser desse jeito pra poder entrar no mercado".
Como eu disse, já li Draccon e até que gostei um bocado dos livros dele, e serviu muito para o seu propósito: ler um livrinho sem conteúdo que diverte, e que não precisa ligar o cérebro pra analisar o que está ali. É pra ler só com os olhos enquanto a mente descansa um pouco.
Li um texto do Draccon no qual ele usou o Paulo Rabbit como exemplo. Disse exatamente o que você pontuou no seu texto que "vender muito não significa baixa qualidade, mas tampouco significa alta". Disse que ele é extremamente importante lá fora, que abriu portas para autores brasileiros mundo afora e blá blá blá. Não nego de forma alguma que ele seja importante e que tenha feito tudo isso, mas né... É tenebrosamente ruim do mesmo jeito - ao menos pra mim. Palavras do Draccon:
"Se você nunca visitou as livrarias europeias, você não faz ideia do que representa o nome Paulo Coelho ao redor do mundo. Enquanto os escritores brasileiros lutam para chegar nas mesas das livrarias do Brasil, ele está nas mesas de livrarias do mundo todo."
O resto do texto é uma baboseira que só quis dizer uma coisa: o que importa é vender muito, e quem não conseguir *evoluir* (palavra dele) é quem vai sair perdendo nessa história.
No fim, tudo isso me parece só uma necessidade de se inflar o próprio ego criando uma competiçãozinha ridícula de quem é melhor que quem, na qual quem vence é quem tem mais ~fãs~.
Nossa, fui escrevendo e não percebi que tinha ficado tão grande.
ExcluirPor favor, não se contenha, esse assunto merece esse tipo de conversa prolongada.
ExcluirNunca li Draccon nem tenho nada contra a obra dele, mas certas atitudes me incomodam. Atitudes dele, do Paulo Coelho (que é o avô desse tipo de literatura no Brasil) que disse que Hermann Hesse é ilegível e James Joyce foi prejudicial a literatura e Luis Eduardo Matta que escreveu um manifesto em defesa da literatura comercial. Tudo ego, como você disse.
Não simpatizo com literatura de fantasia/sobrenatural, mas é porque nunca li nada que me pegou, sabe? Tenho respeito por muitos autores do gênero, mas, não sei, talvez tenha que dar uma nova chance a eles. Tem alguma sugestão?
Faz sentido o que você disse de literatura de fantasia não se encaixar exatamente como literatura contemporânea. Aqueles autores que eu citei, mas ainda não li (Galera, Xerxenesky, Tezza...) talvez sejam mais próximos. Sendo sincero, não conheço um autor excelente com menos de 30 anos de idade.
Bom, eu particularmente gosto muito do Neil Gaiman. Não sei se você já leu alguma coisa dele, mas ele é um desses autores que conseguem se equilibrar muito bem entre literatura comercial x literatura mais significativa, mesmo pendendo pra um estilo fantástico um pouco diferente já que ele não cria outros mundos como Senhor dos Anéis, Game of Thrones (considero muito bons também) etc.
ExcluirEle trás elementos fantásticos e mitológicos de uma forma mais próxima ao leitor, sempre com um toque muito particular meio obscuro, e proporcionando a liberdade pra imaginação interpretar os fatos como bem entender. Eu gosto muito do "Coisas Fragéis", que dá ao leitor que ainda não conhece o estilo dele, decidir se gosta ou não daquilo que está lendo. Acredito que seja um bom começo.
Neil Gaiman é a minha sugestão. :)
Eu gosto de clássicos, mas também gosto de livros populares. Muita gente não gosta quando descobre que um livro foi feito apenas para vender, como é o caso do livro "Eu Sou o Número Quatro", muita gente parou de ler a série quando descobriu como ele foi feito e toda as pessoas que foram envolvidas em sua criação. Mas vou dizer o que realmente penso, eu não ligo. Sério mesmo, eu não ligo se o livro foi feito para vender, se o escritor ou os escritores escreveram aquilo que acharam que iria vender, aquilo que os adolescentes iriam gostar de ler ou se o livro foi feito por paixão, por pura imaginação. É claro que gosto de ver um livro que foi feito por amor, por pura vontade do autor de escrever aquela história, mas como disse, não me importo com livros feitos como produtos, pois o cara também quer ganhar dinheiro, ué, ele está fazendo algo para ganhar seu dinheiro, pra mim é somente isso.
ResponderExcluirSabe, esses livros, querendo ou não, as pessoas gostando ou não, ajudam muito a incentivar os adolescentes. Conheço muitas meninas que entraram nesse mundo da leitura por causa de Crepúsculo, que leram a saga, se apaixonaram e desde então não pararam mais. O blogueiro Bruno Mirando é um adolescente que se apaixonou por livros por causa de Crepúsculo. Pra mim, qualquer forma de trazer mais pessoas para o mundo dos livros é válida, entende?
E os clássicos, eu gosto de vários, mas também odeio outros, muita gente tem medo de ser rotulada como burra ou ignorante por não gostar de um clássico, mas isso é pura bobeira, gosto é gosto. Você não se torna ignorante por não gostar de um clássico, você se torna apenas uma pessoa que não gosta de um livro que milhões de pessoas gostam. Simples assim.
Sobre a escola, concordou plenamente. Eu odiava os livros que era obrigada a ler, eu não pegava resumos na internet, eu lia os livros, mas detestava. Fico imaginando como seria maravilhoso se meu professor tivesse me deixado escolher o livro, que cada aluno escolhesse o seu. É como você disse, uma pessoa pode amar um tipo de livro e outra detestar. Eu adoro HP, li o primeiro quando era criança também e amei. Por exemplo, o primeiro livro grande que li foi "O Diário da Princesa" eu tinha 10 anos e fiquei tão encantada que fui pegar outros livros na biblioteca da escola, mas duvido que você iria gostar de um livro como esse. kkkkkk A criança deveria poder escolher o que iria ler, a professora podia dar algumas opções de diferentes gêneros, seria algo maravilho e tenho certeza que o baixo número de leitores do Brasil iria aumentar. :)
Também não me incomodam os livros feitos para vender, Camila. Meu problema é com o que dizem alguns autores desse meio, conforme eu expliquei para a Taciele, nos comentários. Eu devia ter puxado mais para o lado pessoal nesse texto, mas achei que uma explicação mais ampla seria melhor - talvez escreva outro especificando quem disse o quê e quando. No mais, eu concordo com tudo que você falou.
ExcluirBem, Gostei do seu texto, e gostaria de fazer umas considerações. Sou especialista em Literatura, e digo a você que esta discussão existe no mundo todo, mas fora do Brasil Best Seller é estudado sim com viés mercadológico, sociológico e alguns como obra. Mas a maioria dos acadêmicos (de onde vem os críticos) desconsidera os Best Sellers. Aqui no Brasil então, existe com certeza preconceito muito mais forte por parte da academia do que por parte dos autores. De certo nenhum dos lados tem razão por completo, mas eu conheço o meio acadêmico e te digo: é uma máfia. Os acadêmicos consideram o livro como "literário" aquele cujo espaço de ação (eventos elencados na história) sejam menores o possível, ou livro deve ser farto de reflexões e etc, o discurso deve ser uniforme, dão preferencia a primeira pessoa sempre (agora devem estar embaraçados já que os Best sellers descobriram a primeira pessoa tbm), privilegiam a forma e conteúdo e etc. Ok, bons critérios, mas a verdade que é algo muito mais arbitrário do que se pensa, e desperdiçam muitas oportunidades de crescimento da pesquisa científica dispensando os best sellers. Como diria Foucault, o discurso dos especialistas é que chancela, em todas as sociedades, aquilo que é bom ou ruim, que deve se ler ou não. Desprezam completamente o gênero comercial muitas vezes injustamente. E esteja certo, muitos autores bons, que escrevem "obras de arte", mesmo não sendo comerciais, estão sendo postos fora da raia da corrida pelo mesmo motivo: crítica no Brasil é máfia. Quanto ao argumento de que deve se respeitar um livro por vender mais, acho que também não é bom critério, mas digo que há razão em se irritar com os críticos no Brasil.
ResponderExcluirUm texto tão relativista quanto os que dizem que não existe diferença entre alta e baixa arte.
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