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terça-feira, 10 de setembro de 2013

Kansas - Point Of Know Return (1977)


É comum ouvir dizer que, hoje em dia, a boa música está morta. Não deixa de ser verdade, embora eu não aprecie a generalização. Mas, se é pra generalizar, vou mais longe do que todos os outros. Não direi que foi a música de hoje que fodeu com tudo, não direi que foi a década de 90 ou 80 (embora está última tenha dado novos sentidos à palavra decadência). Digo que foi a década de 70. Mais precisamente, 1975.

Nessa época, a indústria estava começando a descobrir como é fácil manipular os jovens. Fato que música pop manipuladora e medíocre existe desde que o mundo é mundo, mas antes não fazia sucesso. Quer exemplo? Quantas de vocês crianças já ouviram o nome Jimi Hendrix? Ah! Todas, muito bem. E quantas já ouviram falar de...eu não consigo pensar em nada esquecível daquela época, isso acaba com a minha analogia. Vamos à década de 70, então, que é o assunto. Quantos já ouviram falar de Deep Purple? Todos de novo, excelente. E Minnie Riperton? Ninguém. E Foreigner? Ninguém também! Logo mais eu explico os motivos pra esse fenômeno, mas agora vamos ao álbum da vez.

Sinta a mediocridade correndo pelos seus canais auditivos.

Serei justo e direi que, reza a lenda, Kansas não estava nos seus melhores dias durante a gravação desse álbum - isso eu digo no sentido emocional -, mas foda-se isso. Point Of Know Return até tem potencial para ser uma música boa, a banda, a parte instrumental da música, é bastante competente, no entanto, quando começa a cantoria a música muda um pouco. Nada crucial, só fica mais leve e deixa de combinar com a levada que a banda estava carregando anteriormente. Por que isso? Não sei, acho que Soft Rock estava entrando na moda, mas antes disso a moda era Rock Progressivo, então eles tentaram misturar. Resultado? Esse desastre.

E essa não é a única faixa culpada de fazer isso, quase todas as músicas cometem o mesmo erro. Em todas elas a impressão que fica é que a banda queria fazer uma coisa, uma coisa mais complexa e pesada, enquanto o vocalista queria outra completamente diferente, Soft Rock à Peter Frampton em seus piores anos (este cara, a propósito, o culpado por tudo de ruim que aconteceu com o rock após a década de 70, na minha opinião).

E todas as outras faixas são iguais também. Umas mais longas, outras mais curtas, mas a estrutura básica é a mesma.

Estou com sérias dificuldades para escolher uma próxima música, porque, mesmo tendo acabado de ouvir essa porra desse disco do começo ao fim e pela primeira vez na vida, já me esqueci de todas as músicas, com exceção de uma que logo cobrirei. Elas se mesclaram na minha cabeça. Só me lembro que elas começavam bem rápidas e complexas, como um improviso à Emerson, Lake & Palmer, e terminam...chatas. Essa é a palavra que define esse disco, ele é chato. E repetitivo.

E o que isso tem a ver com todo meu discurso da música morrendo na década de 70? Bom, é exatamente isso. Eu disse que o rock progressivo estava deixando de existir para dar espaço ao soft rock, essa banda se moldou para seguir a moda. Ela e mais dezenas (Genesis, Yes, até ELP - todas bandas excelente até o fim de 70 começo de 80). Portanto, a repetição de estilo e técnicas da moda, tornaram o disco datado. Em qualquer época eu poderia ouvir esse disco e dizer, isso é de 70, não é? Com a minha experiência musical, talvez até pudesse ser mais específico e dizer que foi feito entre 76 e 78 (assim como I'm In You, do Peter Frampton, e outras abominações).


E aí está a música que, não redime, mas deu uma nota um pouco mais alta ao disco. Dust In The Wind, o grande clássico da banda, única música deles que não foi esquecida, e existe um motivo pra ela. Verdade que as "baladas violão e voz" nunca foram nada novo. Mas esse caso específico tem uma letra suficientemente profunda e uma melodia bonita. O violino também dá um toque interessante e diferente à música. Não é criativa, mas funciona, o que é mais do que pode se dizer sobre o resto das faixas desse álbum.

Claro, isso tudo pode ser uma questão de gosto. Comparando com outras coisas do mercado, as músicas não são ruins, mas isso não quer dizer de forma alguma que elas são boas. Meu padrão de qualidade não é definido pelas coisas ruins que me cercam e eu odeio, mas pelas coisas boas que já me estão a disposição. Gosto é subjetivo, mas as justificativas para a formação do gosto são bastante objetivas. Sendo assim, minha conclusão é que Point Of Know Return é um trabalho datado e esquecível, que, se você nunca ouviu e não se interessa pela época em que ele foi feito, nem perca seu tempo.

Nota: 2,5/5 (bem na metade, pra combinar com a mediocridade) 2 desses pontos são pra Dust In The Wind.

Resenha dedicada à Luana Kraemer, que me indicou essa banda, quando lhe disse que ia fazer uma série de resenhas especiais sobre álbuns.

Um comentário:

  1. Olha... Plausível seu comentário, totalmente coeso. Mas como você mesmo disse, "gosto é subjetivo". Gosto desse álbum, talvez não seja o mais coeso, porém, ao meu ver, é o menos que é muito mais! Nada chega a megalomania e pompa de uma Magnum Opus, é menor, muito menor, mas marca mais. A faixa título, por exemplo, o que você enxerga descombinante, eu vejo como um contraponto, observe que ela inicia com uma linha, mas aqui:
    "Your father
    He said he needs you
    Your mother
    She said she loves you
    Your brothers
    They echo the words
    "How far to the point of know return?"
    "Well, how long?""
    Temos o ápice, a diferença, a voz que sobressai, melodia linda, alta e bastante marcante.
    O disco todo segue essa ideia, Dust in the Wind é a curva do disco, atemporal, maravilhosa.
    Não pode ser o melhor disco, mas 2,5/5 ele não merece.

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