Existem filmes que eu assisto uma vez, me divirto e deixo pra lá, não retornando nunca mais a eles. Outros são tão divertidos que eu sinto a necessidade de voltar algumas vezes mais, só pra reviver o momento. E outros, esses mais raros, te intrigam a ponto de exigir que eu o revisite inúmeras vezes, e sempre que eu volto, o filme muda por completo. É a primeira vez que assisto Oito e Meio (8 1/2) de Federico Fellini, mas com certeza não será a última.
Guido Anselmi (Marcello Mastroianni) é um diretor que, recentemente, atingiu grande sucesso na indústria do cinema. Ele decide tirar umas férias, mas ninguém o permite descansar. Atores, atrizes, produtores, todos querem ouvir qual será a próxima grande obra do diretor. A pressão é tanta, que ele decide inventar um rascunho, para tranquilizar os que o cercam. O problema é que, a curiosidade geral vai aumentando, mas ele continua incapaz de criar uma história, a ponto de duvidar se o que ele tem é apenas um bloqueio, ou se a sua sorte - que ele pensava ser talento - acabou. Nesse período, somos apresentados a vida pessoal de Guido, sua esposa, seus amigos, suas amantes, em uma mistura de história e imaginação. Os devaneios e memórias do diretor vão invadindo o enredo central, de modo que não é mais possível saber o que é real ou não.
Essa é a minha primeira experiência com uma obra de Fellini. Encarei o filme zerado, sem nenhuma ideia do que se tratava a premissa, ou qual era o estilo do diretor. Admito que, depois do filme, precisei pesquisar mais sobre para confirmar se eu tinha realmente entendido corretamente a base do trabalho. É um filme fortemente autobiográfico e fascinante. Toca diversos conceitos, sem nunca se aprofundar em um a ponto de se transformar em propaganda, mas com desenvolvimento o suficiente para gerar questionamento. Trata sobre sexualidade, fidelidade, catolicismo, arte, tópicos extremamente italianos, agora que parei pra pensar.
De início, o filme é bem realista, embora com alguns toques de simbolismo. Contudo, ao passar a história, somos apresentados às primeiras memórias de Guido, sua infância, sua vida na escola católica e seu despertar sexual. Então as memórias se transformam em fantasia e realmente entramos na mente de Guido - ou talvez na de Fellini, mesmo.
As atuações, a direção, tudo é perfeito no filme. As imagens são realmente incríveis, embora bastante primitivas, considerando que é um filme de 1963 e em preto-e-branco. Como eu disse, essa resenha não é uma análise profundada, e sim uma apresentação a essa pequena obra de arte, não muito comentada nos dias de hoje. O diretor, Martin Scorcese, disse já ter visto esse filme inúmeras vezes, mas ainda não conseguiu compreendê-lo por completo. Eu, obviamente, também não consegui, mas já digo que este conseguiu entrar para minha lista de filmes favoritos e devo revisitá-lo muito mais vezes nos próximos anos. Uma obra realmente incrível.
Nota: 5/5
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