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quarta-feira, 6 de março de 2013

Life of Pi (As Aventuras de Pi) - Ang Lee



Porque toda a baleia sonha com seu momento Free Willy
 
 
Tinha um mau pressentimento quanto a esse filme. Lembro que em 2009 - foi em 2009 que estreou Avatar? Porra tô ficando velho... -, assisti o famigerado Avatar, em 3-D, depois de muito esforço. Não gostei - Smurfs (se os Smurfs tivessem mais que uma fêmea em suas terras) no roteiro de Dança com Lobos, na minha opinião - e prometi a mim mesmo nunca mais assistir um filme 3-D na vida. Então estreou Life of Pi (traduzido nas terras tupiniquins como "As Aventuras de Pi" - puta que o pariu, estagiário que traduz os filmes...), achei que seria a mesma coisa, muita imagem para um roteiro meia boca. Acertei, o filme é uma merda. Pronto, eu disse. Acabou, pode fechar o site. Não? Quer que eu continue? Tá bom, eu me explico.

Primeiramente, aviso que não li o livro, por isso não sei até que ponto a culpa dos defeitos é devido à obra original. Por isso, peço perdão por qualquer erro nesse sentido. Independentemente, todas as minhas críticas não deixam de ser válidas. Segundo, essas opiniões são, em sua maioria, pessoais; se você discorda, ou gosta das coisas que eu digo não gostar, quero mais que se foda. Você é livre para gostar do que quiser.

Antes de qualquer coisa, a história. Um escritor sem ideias é convidado a visitar um indiano que, supostamente, tem uma história tão boa que, não só vai se tornar um livro para o autor, como também o fará acreditar em deus. Pi é o indiano, filho de donos de um zoológico. Quando criança ele fica curioso quanto a deus, deuses e religiões e decide seguir tudo ao mesmo tempo. Todos acham que é coisa de criança, mas isso continua ao longo do filme. Já adolescente, ele encontra uma garota e se apaixona, mas, justamente nessa época, seus pais decidem fechar o zoológico e ir para o Canadá, de navio, com todos os animais - para vendê-los por lá. Eles vão, o navio afunda e Pi consegue fugir num barco salva-vidas, junto com um tigre, uma hiena, um macaco (pouco me importa se banana flutua ou não, alguém me explica como um macaco consegue fugir de um navio afundando e ir nadando até o bote, sem que nenhum ser humano consiga fazer o mesmo...) e uma zebra voadora. No fim, fica só ele e o tigre flutuando na CG.

Tenho uma implicância forte com filmes feitos só com computação gráfica. Gosto de cinema mais bruto e antiquado, filmado no local e usando somente os meios disponíveis como cenário. Excesso de CG facilita muito a coisa. Outro problema, os animais acabaram muito caricatos, na minha opinião; o tempo todo fiquei imaginando que os animais iam começar a falar, como se fosse um filme de animação - principalmente o macaco e os peixes-voadores (agora imagine a cena dos peixes, com todos eles falando ao mesmo tempo: "bom dia", "com licença", "sai da frente" etc.) -, isso tira muito o drama do negócio, deixa o clima artificial. Só isso já um ponto muito negativo para mim.

Outro problema grave, esse talvez seja culpa do escritor e não do filme, é que todo o filme que promete algo grandioso, como provar a existência de deus (esse sendo ou não o objetivo, a promessa é lançada no enredo e, portanto, espera-se que o filme seja forte o bastante para, pelo menos, chegar perto de cumprir a promessa), acaba sendo superficial e pouco convincente. Simples assim, discussões teológicas - que dirá argumentos ontológicos - são muito complexas para serem transformadas em fábula bonitinha, entende? O roteiro não é nem de perto bom o suficiente para provar a existência de qualquer coisa, e, como se não bastasse, no final - não vou lançar spoiler, então o leitor terá que assistir para entender, ou confiar em mim -, com toda a história de "escolher a versão da história", ele acaba abrindo a possibilidade de provar o contrário. Esse texto não trata sobre esse assunto, até porque já fiz vários textos nos primórdios do blog sobre a existência de deus. Isso varia de acordo com a visão de cada um, só achei isso muito "Paulo Coelho" pro meu gosto. Sendo sincero, não acho que filme/livro que diga carregar em seu conteúdo grandes respostas e verdades, deva ser levado a sério. Prefiro os que carregam questionamentos, porque a única verdade é que, no fundo de todo o nosso conhecimento, não sabemos de nada.

Aí vem toda a história do plágio, que eu não acho grave o bastante para afetar a qualidade do filme. Pelo contrário, ando vendo muita hipocrisia da parte de algumas pessoas que comentaram o caso, metendo o pau no Martel, mas que nunca tocaram num livro do Moacyr Scliar. Difícil defender a cultura brasileira desse jeito, não? Como o autor fez questão de se retratar, sinceramente ou não, isso não importa mais.

Em suma, achei o filme fraco em todos os sentidos. As atuações humanas são bem sólidas, mas a artificialidade do cenário e de, literalmente, tudo, compromete muito a qualidade da obra. É possível fazer um trabalho muito bonito, sem ter que confiar tanto assim na tela verde. É fraco filosoficamente, fazendo propostas grandiosas, mas sem coragem para ir além e gerar questionamentos sérios. Por trás de todas as alegorias e da premissa supostamente criativa, existe uma montanha de clichês perceptíveis e mensagens de pensamento positivo dolorosamente repetidas. O maior ponto positivo, além da beleza do filme - com toda a minha implicância, isso eu tenho que admitir -, é o realismo em se tratando de sobrevivência. Vi que houve uma preocupação nesse sentido, e achei interessante a abordagem. Ainda assim, não é o suficiente para tornar a obra memorável. Quero ler o livro um dia, quem sabe minha opinião muda. Até lá...

Nota: 2,5/5



 
 


4 comentários:

  1. Olá, indicamos este bolg para uma tag, espero que goste.
    http://curicultura.blogspot.com.br/

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  2. Ah, eu até que tinha gostado do filme, eu gosto de 3D, mas depois do caso sobre o escritor ter "copiado" a ideia principal, fiquei meio irritadinha e deixei de gostar, desgostei. kkkk

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    Respostas
    1. Tenho um trauma com filmes 3D, desde Avatar, um dia faço uma resenha desse filme contando a história.
      Eu não me incomodei tanto pela cópia (só um pouquinho...), mas achei o filme raso demais.

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  3. Eu assisti duas vezes no cinema. Na primeira vez eu gostei até. Achei um filme sem muito conteúdo mas bom pra passar o tempo. Mas da segunda vez não aguentei e saí da sala de cinema várias vezes. Só fui mesmo porque uns amigos me fizeram ir junto quando foram ver. Eu não tinha acreditado nessa história de plágio até descobrir que nos agradecimentos do livro de Martel, Moacyr Scliar é mencionado por ter dado à história a "centelha de vida". Já li alguns livros do Moacyr Scliar, mas "Max e os felinos" ainda não, mas pretendo ler para comparar com Pi.

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