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terça-feira, 13 de outubro de 2015

Quadrinhos, herois e literatura

Olá, você que ainda esbarra com esse canto obscuro e empoeirado da internet. Eu lancei um livro semana passada. Tá na Amazon. Talvez você goste de ler.

O link: https://tinyurl.com/yy394a8y

Meus agradecimentos a quem vier a comprar. Comprou? Leu? Gostou? Deixa lá um comentário pras pessoas ficarem sabendo que o livro é bacana.




O formato de quadrinhos hoje conhecido como graphic novel é encarado de forma diferente pelo mercado literário; por fazer boas estórias com “conteúdo”. Esse formato é defendido como literatura (ou algo que chegue perto de...) para os defensores suados e tetudos de quadrinhos, e ignorado por rabugentos literatos. Quadrinhos como: Do Inferno, Maus, Palestina, Azul é a Cor Mais Quente, etc. são quadrinhos “cults” literários, mas aí vai o meu questionamento: o que seria literatura dentro dos quadrinhos? Numa discussão com um amigo aqui de Fortaleza falei que algo como cinquenta tons de cinza é considerado literatura arbitrariamente ou não, mas se por acaso fizerem uma graphic novel desse livro, iai? Continua sendo literatura? Ou nunca foi literatura? Já nasceu como algo sem definição, pois se trata apenas de entulho comercial? A discussão se alastrou, até que o assunto quadrinho de heroi venho à tona. Eu como bom cuequinha verde; comprei a briga do bátema. “Cinquenta tons de cinza é mais literatura que Cavaleiro das Trevas”. Isso me frustrou um pouco, mas cinquenta tons... só é literatura por quê? Porque tem mais caracteres-palavras-simbolos do que uma HQ. Um quadrinho é só figuras? A arte visual de um quadrinho pode atrair péssimos leitores e transformá-los em porra nenhuma. Como a literatura, também, pode criar leitores vorazes que tem preconceito de ler Spirit, Fantasma, Homem-aranha... porque acham que quadrinhos seria algum tipo de arte menor, entendem?

Os quadrinhos foram essenciais na minha formação como pessoa. Passei do Groo para Stevenson com o tempo, mas nunca me desliguei do universo dos comics. Eu poderia fazer uma lista de quadrinhos de herois que são bem melhores que certos livros (de escritores consideráveis até). O víeis comercial existe em qualquer coisa: até no lixo. Os quadrinhos não são consideráveis obras de arte por que tendem a buscar um público mais popular, porém, isso pode ser destacado mais com a advento de hollywood cuspindo blockbuster todos os dias, derrubando qualquer visão mais crível dos quadrinhos. A literatura essa vadia; não tem critério para carimbar textos. Lembremos o acontecimento da Patrícia Secco querendo deixar Machado de Assis mais “legível”. DEIXAR MACHADO DE ASSIS MAIS LEGIVEL? Porra, me ajuda aí... então, o Fábio Moon e o Gabriel Bá fizeram isso. Eles transformaram O Alienista do Machado em quadrinhos, em quadrinhos, em quadrinhos! Eles deixaram então Machado de Assis mais legível, interrogação? Agora no pique. A literatura às vezes se veste de pavão, e os quadrinhos às vezes de hiena. Existe o esnobismo de ambos: isso é mais visto por parte dos quadrinhos — por incrível que pareça, pois nos quadrinhos a massa de fanáticos-lunáticos é bem maior que os fanáticos-lunáticos da literatura. Vai ser muita mais fácil você ver alguém com a cueca por cima da calça do que você imagina.

Os quadrinhos deveriam ter um melhor destaque dentro da arte. Os grandes autores de quadrinhos vivem a margem de uma insurgência editorial que nunca irá acontecer. Fico um pouco com uma sensação agridoce: triste/alegre pelo fato do cinema derrubar mais ainda o ato da leitura no geral. É bom ir ao cinema assistir o filme baseado no quadrinho (livro), mas também, é muito melhor você ler o quadrinho do homem-aranha e descobrir que ele é muito melhor do que aquilo que você assistiu no cinema. Leiam quadrinhos de herois (ou não) e repassem para os seus filhos: A Última Caçada de Kraven, Demolidor Ano Um, Batman Ano Um, Lobo Solitário (mangá), O Que Aconteceu ao Homem de Aço, Miracleman (esse último vale muito comprar, a panini vem publicando recentemente as primeiras estórias do Alan Moore, foi um avanço na forma de escrever estórias de heroi). Eu mesmo com toda essa baboseira, ainda considero cinquenta tons de cinza literatura, pois sem esse livro não existiria esse pensamento, essa logística de mercado l... enfim, o que vocês acham ser literatura no mercado atual: Paulo Coelho? Autoajuda? Augusto Cury? Autoajuda? Maria Bethânia lendo Fernando Pessoa, ganhando um milhão para fazê-lo, é literatura? José Dirceu? Pensem sobre isso, se turma da Mônica não é, então, o que poderá ser?     

Um comentário:

  1. Eu não sei você, mas sinto certa hipocrisia por parte das pessoas que dizem que quadrinhos podem ser literários, ou jogos, enfim, meta aí qualquer substantivo que você pensar, e acrescente "literário" como adjetivo. Essas mesmas pessoas, porque tem gente "fã" de literatura que também vê certos quadrinhos como literários, condenam o fato de um livro, ou da própria literatura mesmo, por exemplo, ter logo depois os adjetivos "cinematográfica", "quadrinhística", ou então, "jogável" (se é que isto existe).

    Claro que não desmereço o valor estético-artístico dos quadrinhos que se "assemelham" à alta literatura ou algo assim, mas pessoalmente acho que as pessoas estão supervalorizando demais a literatura, como se dentre todas as artes ela fosse o epítome da Arte em si; bem, pelo menos, a narrativa.

    Queria que os livros (ou a literatura) também fossem reconhecidos como "quadrinhísticos" ou "cinematográficos". Até acho que deve existir trabalhos assim, só não são reconhecidos; nem pelo público de livros e nem pelo próprio público de quadrinhos ou de cinema.

    Acho que isso pode-se resumir no verbo "elitizar". As pessoas elitizam os quadrinhos dando-lhes o adjetivo "literário", e acham que empobrece a literatura dando-a os adjetivos que mencionei acima.

    No fim isso é um pensamento incrustado na sociedade desde que o conceito de alta arte surgiu. Não vai mudar nada saber disso. Eu só queria apontar a hipocrisia das pessoas.

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