Eram dez da manhã de um sábado
chovia em Fortaleza quando eu a vi. Descia a rua calmamente, ela vinha na minha
direção. Fotografei em minha memória em quadros perfeitos seus trejeitos:
simples movimentos. Foi a primeira vez que a vi, depois seguiram se outras
vezes, mais memórias, mais detalhes; o sorriso dela, o jeito dela dar sinal pro
ônibus, o perfume natural dela na penumbra cheio de insígnias sobre o vento da
noite. Ela nunca vai me notar, mas como na música do Ben Jor: “eu não me
importo...” Ela me trás uma sensação de alegria e raiva. Natureza morta;
sentimento vivo em meu peito. Eu coloquei-a no meu altar, não quis desmitificar
seus jeitos. Preciso de uma musa inalcançável para sobreviver nesse paraíso de
tísico. Ás vezes no auge da tristeza lembro dela. Na forma que o seu cabelo faz
quando dobra a esquina, e suas ancas, finas, traçadas, bordadas em perfeitas
linhas inacabadas. Imperfeitas. Metaliguistica. Seus peitos, seus pentelhos
imagino, não minto. Seu tom de voz: entre a preguiça e a pressa, sua canção
predileta, seu jeito de gargalhar, seu jeito de acordar. Não vejo mais ela.
Mudei de mim. Simplesmente mudei. Fui
para bem longe dali, mas qualquer dia desses ainda a espero. Quem sabe? O mundo
não é tão grande assim.
Três
sinais
O primeiro é quando te beijo no
lago do céu como uma estrela matutina. Caiu logo de boca no teu corpo pela
manhã. No teu pescoço logo esqueço meus dentes, pescoço, meu fruto preferido;
beijo e desbeijo. Mordo-o calmamente, sou meio vampiro meio louco maldito. Chupões,
marcas, estigmas e, essa tua nudez... volta e meia você morde meus lábios
sangro e acabo, acabamos por aqui.
O segundo é quando te perco na
multidão. Deve parecer vertigem minha. Você sumindo devagar entre corpos
remotos meu coração disparando e, tudo silenciando abruptamente. Você parte, eu
fico ficando. Sem chão; eu me abandono. Não insisto continuo na inércia perdido
em devaneios insolúveis. Continuo caindo.
O terceiro é quando tenho certezas
sobre nós. Você e eu na mesma cama contando vantagens sobre o mundo. Parece até
que o universo não sobrevive sem nós. Temos medo, temos tudo, a cura o sonho e,
todos parecem não entender isso. Nossos corpos correm como o rio que beija os
pés do canavial. Quase somos confundidos com estrelas por que continuamos
caindo. Esperamos. Continuamos depois.
"a beleza mais feia possível continuará sendo o padrão de estética artístico"
A
inspiração existe?
Sim, caros leitores
(e futuros escribas). Tudo na vida é eco de alguma coisa do nosso
subconsciente. Sem mais delongas: inspiração é coisa que botam na sua cabeça.
Platão dizia que: “qualquer um se torna poeta quando sofre de amor” e muitos
outros levantavam voo sobre essa questão meio (quase) mítica. Um dos
pensamentos que sou de acordo vem do grande poeta e conterrâneo meu Chico
Miranda que afirmava: “não foi preciso que me beijasse a boca para que me
tornasse poeta.” Ou seja, é um Platão com mais (in)verdades. A musa, bela
molhada, garota de Ipanema, loira, morena, mulata da cerveja... é uma invenção
do nosso imaginário masturbatório, não? A estética é a priori do artista, mesmo
ele negando dizendo que não. É. Não é? O mundo é dividido por células de dois pólos,
então, a beleza mais feia possível continuará sendo o padrão de estética artístico
e, como diria o cantor brega pop Falcão: “as feias que me perdoem, mas feiúra é
de lascar” e é disso que o povo gosta.
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