Eu não sei fazer verso. Minha rima
é literalmente morta. O meu texto parece que vive de ferrugens. Eu não nasci
poeta. Minha mãe já bem dizia — poesia só enche barriga de lagartixa. Quando
descobri foi um choque. Eu não sou poeta. Eu não sou poeta. Dias e dias batendo
a cabeça na parede desesperado. Mas, porque não sou poeta? O que me falta? Um
caderno, um dicionário, uma bagagem de livros antigos? Camões com dor de
barriga escrevia poesia? Penso logo, desisto: e se existir a tal da reencarnação?
Quem sabe, eu nasça um Gullar meio discreto em outra vida, e deixe de ser mãos
tortas. Esse meu corpo agora sabe até jogar bola, mas poesia nem sentado de
frente da materialização da beleza sublime. Poeta: “ou é, ou não é” já disse o Leminski.
Fazer o quê né? Se quando vejo um pôr do sol agarrando os ombros de uma
montanha fico todo assustado com o castro poético. Castração poética. Escreva
um glossário sobre... esqueça o glossário volte e não aprenda. Não entende?
Então, você não é poeta. Poeta gente, é quem quiser. Não vai ser um laureado
que vai me tirar o verso da boca. Seja verso ruim ou não; ninguém é gênio toda
hora. Qualquer um no mundo pode ser poeta, basta ter coragem. Parábola daquele
filme que o rato cozinha. O rato poeta ensina ao crítico casmurro: qualquer um
pode escrever poesia. Repitam. Repitam. O que ninguém sabe é como escrever,
como cozinhar, jogar bola, fazer cálculos matemáticos. Você aprende na prática,
mas tem sempre uns e outros, que já nascem com o tal do “dom”. Não acredito, ou
deixo de acreditar. Para mim é que nem Deus, só existe quando sinto medo.
Poesia é preciso ter técnica. Como um jogador de futebol recebendo uma bola
difícil de dominar; se ele conseguir dominar a bola ele consegue dominar o
poema de primeira, acerta-lhe uma bela trivela.
Todo ser vivo e não vivo é poeta?
Sim. Até um computador já fez um livro de poemas. Sabiam (busquem no Google
seus preguiçosos)? A poesia é fútil, mas fútil que a própria arte. A arte ainda
é intrínseca, relativista quando o assunto é defini-la, mas poesia, todos já
sabem, que não vale de porra alguma. Honestamente, essa coisa de nascer poeta é
definir, e definir é limitar. Poetas gabaritados que carimbaram essa lei são os
mesmo que dizem que a poesia não tem limite é infinita. Espera. Então quer
dizer que nasce poeta, mas a poesia não tem limite, então... tirem suas
conclusões ou joguem no Google. O homem-cavalo que galopava todas as noites em
busca da licença poética, hoje galopa na
sombra de um jóquei gorducho, mal sabendo o pobre homem-cavalo que, havia
perdido o hífen poético num trote casual. No mais, eu fico desesperado. Dentro
do ônibus olhando pela janela ao voltar do trabalho, vejo o homem-cavalo com os
cascos feridos de trotar na poesia polida. Que viagem minha, mas o homem-cavalo
agora só é vertigem. O motorista do ônibus já tá mais de hora atrasado, e agora
acelera três marchas num só trote.
"Xerox, cheiro de lótus
no papel preto e branco
carbono"
O poeta a beira-mar. Fortaleza já teve um
cenário todo poesia. Hoje é só perdição, assaltos, furtos, furos e tráfico. O
sol vêm derretendo os poetas cearenses, nem mais consigo avistar longe o sol
obtuso que antes era de José Alcides Pinto. O maldito que cantava odes
pornográficas. Os poetas vêm morrendo por que tem medo de escrever poesia.
Culpa desse sinal de nascença. Poetas já morrem antes do parto, quando
descobrem que seu expoente nasceu poeta. Desistem os pobres meninos que fazem
versos de amor para a menina da primeira fileira da escola. A moça, a
menininha, lendo Florbela Espanca aos doze, se espanta com a obra da
portuguesa. As poetizas que me perdoem, mas poesia é como mulher: doce,
misteriosa, sensível, forte como um obelisco. O menino que começa com o soneto
sobre a fita azul no cabelo da enamorada, logo, vai explodir todo o seu sangue
no papel amarelado. A busca pela técnica perfeita não existe. Sempre um verso
simples verdadeiro vai ser melhor que um verso complexo e forçado. O que faz
poesia é a rotina. Até caros amigos, um funcionário de gráfica rápida tira bons
momentos, haicais da sua labuta: xerox, cheiro de lótus/impressa no preto e
branco/carbono. Só cuidado com a poesia, ela exige muitas saídas, muitos
porres, muitas quedas e risos, Bons poemas é preciso muitas marcas, os gatos já
sabem que existem poemas que custam bem mais que sete vidas. Escreva,
reescreva, organize. Poeta, por favor, ande sempre com um papel e lápis no
bolso, quem sabe a poesia esteja atravessando a rua, ou sendo esfaqueada. Não
perca, tente ajudá-la a sair desse paraíso fictício que você a colocou. Leve a
poesia para tomar uma cerveja, um café. “Se você quer que as palavras transem,
não as masturbe”. Poeta. Não caia na discórdia de parar de escrever poesia,
todos somos poetas; só não sabemos. É que nem apendicite, dente siso. Aprenda
só que para ser poeta é preciso não exigir nada de nada, mas para fechar eu
exijo (olha que eu não sou de impor, mas...) que vocês compareçam mais nos
comentários, porra galera! Não temos lá essas coisas de leitores, e os que
temos não comentam. Aí eu vou chorar igual quando assisto a qualquer filme em
que o cachorro morra no fim. Por favor, comentem mais ou eu vou partir para uma
maratona de filmes que me deixam com os olhos suados. Isso é sério!
caralho, esse texto apareceu no momento certo! muito bom, cara.
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