Pôster com arte de Ralph Steadman. |
Olá, você que ainda esbarra com esse canto obscuro e empoeirado da internet. Eu lancei um livro semana passada. Tá na Amazon. Talvez você goste de ler.
O link: https://tinyurl.com/yy394a8y
Meus agradecimentos a quem vier a comprar. Comprou? Leu? Gostou? Deixa lá um comentário pras pessoas ficarem sabendo que o livro é bacana.
O ano é 1969, em Londres. Dois jovens atores, Withnail, interpretado por Richard E. Grant, "e Eu" (como ele aparece nos créditos, embora algum maluco tenha visto o nome do personagem escrito num telegrama e descoberto que era pra ser Marwood), interpretado por Paul McGann, são dois jovens atores, desempregados, dividindo um apartamento decadente em Camden. Withnail cada vez mais se entrega ao álcool, bebendo até fluído de isqueiro, "e Eu", apesar de ser mais sensato, tem seus problemas com drogas (assim como Withnail) e com o traficante, Danny (Ralph Brown), parecem que nunca mais vão conseguir um trabalho. As perspectivas melhoram para "e Eu", quando ele consegue uma audição. Mas Withnail, devido a seu temperamento imprevisível, mal consegue contato com seu agente.
Para relaxar, deixar de lado a vida em Londres e a colônia de bactérias criada na pia, eles pegam emprestado a cabana de luxo do tio rico de Withnail, Monty (Richard Griffiths), tio esse que acredita que Withnail é um grande ator, prestes a interpretar Hamlet no teatro - porque é isso que Withnail o diz. Os dois têm dificuldades para aprender a lidar com as limitações do campo. Mas isso não é nada em comparação a visita que Monty, no armário desde adolescente, os presta, para tentar seduzir "e Eu" - novamente, porque Withnail disse que ele poderia estar interessado; preço a pagar pela estadia.
Nós queremos os melhores vinhos disponíveis à humanidade. |
Esse filme é descrito como uma comédia. Bom, isso não é de todo errado, mas não esperem gargalhar. É a questão da comédia britânica. Aquela que não vive tanto das piadas, ao invés faz uso de cinismo, ironia e até tragédia para que o espectador dê umas risadas, de preferência enquanto repensa a própria vida. Assim eu descreveria "Os Desajustados". É a típica tragicomédia - termo que já pode ser considerado um clichê, mas que nesse caso se aplica. Devido às frases marcantes, normalmente proferidas por Withnail e o tema facilmente relacionável entre os "tipos artísticos", desde 1987, ele se tornou um clássico cult, considerado uma das mais icônicas comédias da Inglaterra.
Eu sou um ator treinado reduzido ao status de um mendigo. |
Vendo o filme, a primeira coisa que me veio à mente foi o retrato do gênio incompreendido, remetendo logo ao, mais recente, Inside Llewyn Davis. Tanto um quanto o outro têm o personagem que é muito certo do seu próprio talento. Quase não tem oportunidades de usá-lo, mas está certo de que ele existe. Como disse "e Eu" para Withnail, quando Withnail lhe disse que seu pai sofria sempre que o via sobre o palco: - Então ele deve aprovar sua profissão. Por outro lado, temos "e Eu", muito mais inseguro, quase um espectador dentro do filme. Nunca o vemos recitando Shakespeare, mas é ele que consegue um emprego.
Como a fazemos morrer? |
Existe um certo homoerotismo na amizade dos dois. Uns dirão que é maldade minha, porém devem haver teses comprovando isso que eu digo. Para começar, apenas três mulheres aparecem durante todo o filme. E elas não têm mais que cinco segundos em cena. E só aparecem porque Withnail as insulta de dentro de seu carro, quando embriagado e partindo em viagem para o campo com "e Eu". Sim, e os dois passam dias sozinhos numa cabana isolada da civilização. A figura de Monty e o jeito "tespiano-afetado" de Withnail, não contribuem. Longe de mim pregar visões antiquadas de masculinidade por aqui, mas o filme dá essas deixas constantemente. Tanto que, para fugir de Monty, "e Eu" declara amar Withnail (e quando Withnail tenta convencer de que "e Eu" é homossexual e está atraído por Monty, diz que o rejeitou em um momento passado). Sem falar que a despedida dos dois não deixa nada a desejar a um "Casablanca". Detalhes que acrescentam à complexidade do filme e pedem por um revisitar no futuro próximo.
Monty seu terrível Zé Buceta. Festa da falta de contexto. |
Essa é uma das melhores comédias que eu já vi, e a melhor esse ano. Já está na minha lista de filmes favoritos e pretendo vê-lo de novo logo. Percebo que não falei nada sobre as atuações, mas é porque está perfeito. Não tem o que se dizer. Tanto Withnail quanto "e Eu" dominam seus papéis. "E Eu" de maneira mais controlada, com mais nuances, e Withnail extravagante feito relâmpago. A trilha sonora com Jimi Hendrix também não é nada mal. Não vi defeitos, mesmo. Indico para quem quer rir, mas com algo diferente. Um riso trabalhado.
Que figura estranha é um homem...quão feito um deus! |
Nota: 5/5
Nenhum comentário:
Postar um comentário
caixa do afeto e da hostilidade