Olá, você que ainda esbarra com esse canto obscuro e empoeirado da internet. Eu lancei um livro semana passada. Tá na Amazon. Talvez você goste de ler.
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Meus agradecimentos a quem vier a comprar. Comprou? Leu? Gostou? Deixa lá um comentário pras pessoas ficarem sabendo que o livro é bacana.
A música me acompanha desde os
tempos que eu era menino tímido; não que tenha deixando de ser. Lembro de ficar
por horas e horas ouvindo Raul Seixas, Luiz Gonzaga, Paulo Sérgio e outros
discos com o meu pai. Às vezes acompanhado de uma revista do Tex ou do Conan.
Esse costume ganhou mais forma depois que eu descobri a escrita. Foi à mistura
perfeita na minha adolescência: escrever poemas enquanto ouvia as canções dos
Mutantes. Sonetos e mais sonetos para aquela menina de franja nos olhos ao som
de i will do Beatles. Lembro de conseguir o primeiro emprego ao som de Belchior
— monólogo das grandezas do Brasil.
Voltava para casa com os fones no ouvido, mas minha caminhada era triste, me
sentia um merda feliz... era a época de minha boêmia. Escutava Fagner, Ednardo,
Manassés. À noite quando chegava depois da farra; sentava na cadeira e ia
escrever contos taciturnos sobre como Fortaleza era melancólica ao amanhecer da
lua. Romantizava toda a minha vida que era banhada de música, literatura e
cinema na minha escrita sangrava quase que instantaneamente. Depois do trabalho
passava num sebo estava escutando Smiths
lia Nietzsche como um louco. Escrevia cada vez mais e mais. Tinha uma banda de
grindcore, chegamos até a gravar uma demo. Larguei a banda. Não achava mais
aquilo necessário. Logo depois ensaiava escrever um romance.
O meu primeiro romance se chamava:
o admirador do nada. Era algo bem adolescente. A estória de um homem que
descobre que é um personagem de um quadro. Ele vai vivendo de acordo com o tipo
de leitura que as pessoas fazem do quadro. Escrevi a esse livro escutando muito
Raul Seixas, Bob Dylan. Já rasguei, joguei-o fora, me desfiz do manuscrito numa
fogueira autocrítica anos depois, mas que foi bem divertido na época foi. Mesmo
ninguém entendendo bem a estória (inclusive eu), o ato de ter algumas pessoas
lendo o que eu escrevia era bacana. Já escrevia poesias, mas nunca mostrava
para ninguém: sempre me achei muito rude na escrita e tinha medo de mostrar
meus versos, pois pensava sobre o que as pessoas iriam falar sobre mim (coisa
de adolescente). Um disco que meio que me ajudou muito nessa questão foi o Wish you were here. Não sei bem o
porquê, mas eu posso fazer um paralelo com a frase do Somerset Maugham que diz:
“Quando leio um livro tenho a impressão de lê-lo somente com os olhos, mas de
vez em quando deparo com um trecho, talvez apenas uma frase, que tem um significado
para mim, e ele se torna parte de mim; tirei do livro tudo o que me é de alguma
utilidade, e não posso extrair mais, ainda que o releia uma dúzia de vezes.” As
canções do Pink Floyd com todo aquele instrumental lúdico Shine on you crazy diamond (homenagem ao Syd) com certeza extraíram alguma vergonha que tinha.
Com um tempo agente vai meio que deixando
de lado muitas coisas. Escutava muito rock pesado Death, Krisiun, Nasum. Fiquei
um tempo sem escrever continuamente como fazia noutros tempos feito um louco
fazendo dezenas de paginas todos os dias. Parei. Só escrevia nas sextas ou nos
domingos à noite. Via que não ia mudar mais o mundo, e nem me sentia mais na
obrigação de querer mudar-lo. Quem me dizia isso e muito mais era o Roy
Buchanan. As coisas não pareciam difíceis escrevia, trabalhava, ficava em casa
delirando e escrevendo com minhas próprias
anedotas. Hoje em dia continuo escrevendo coisas bobas que muitas vezes nem
merecem ser lidas, às vezes apago, às vezes deixo. Às vezes. Agora enquanto
estou escrevendo esse texto não estou escutando nada. Mas, eu não queria acabar
sem música, então, eu vou colocar um trechinho do romance que eu estou
escrevendo mais a música que eu estava escutando quando escrevi esse dito
trecho. Vamos falar logo da música. Outro dia conversando com o Raphael falei
do Black Keys para ele. O Raphael disse que o Black Keys é legal, mas falta um
baixo nas músicas. Eu como sou ruim de memória me esqueci de mandar a música
que tem um riff de baixo sensacional. Em minha defesa esse disco é de 2014
chama-se Turn Blue é um disco bem
mediano. O que salva o disco é a primeira música Weight of love. Então. Apertem o play da
música e leiam o trecho do romance.
Tudo que via era a
cinza dos seus olhos no meu rosto. Fortaleza parecia invertebrada. A pintura
das casas nos arredores se derretia sobre o manto d’água. Os meus braços
pareciam almofadas, e o corpo dela parecia uma pluma. A minha existência era
uma redoma. Todo o calor que possuía tentava transpor para minhas mãos geladas.
No fundo eu não sabia o que queria fazer — por dali em diante. Voltei para o
meu apartamento com Natasha nos braços: seu corpo atrofiado no meu peito. A
chuva parecia diminuir. Coloquei Natasha no sofá delicadamente. Arrumei alguns
cobertores. Observei que seu rosto parecia mais pálido que o natural, mas seus
lábios continuavam vermelhos como morangos silvestres. Coloquei panos quentes
sobre seus pés; tentei enxugar um pouco seu cabelo. Nada adiantava. Deitei no
chão comecei a espernear; de repente cansei de tudo aquilo. Tomei dois
diazepans e dormi entre algumas alucinações, fadiga, exílio... Havia um baque
de consciência, mas logo voltava para o abismo do sono. Eu sonhava com ela e nossa
essência se metamorfoseava. O seu cabelo negro cobrindo meu corpo nu em queda
livre. Nós dois caíamos, mas ela não abria os olhos, não se dava conta de que
estava caindo. O barulho da chuva entrou no sonho e tudo aquilo era surrealismo
circense. Natasha corria pelas ruas de Fortaleza ainda chovia muito; era como
se a chuva no mundo real desaguasse no mundo dos sonhos. Natasha movimentava-se
como uma sombra pelas calçadas, eu a seguia sonâmbulo preso em meus próprios
elos fictícios. Sua pele era branca o céu de Fortaleza ainda era cinza, no
sonho alguém dizia — meu deus quando essa chuva vai parar? O cabelo de Natasha
era só vertigem, eu sentia essa vertigem me pegar devagar numa leve onda. Agora
estávamos os dois no fundo branco: ela parecia não entender nada daquilo. O
amor que sentia por ela não cabia nos meus pensamentos, não doía, não sarava,
não tinha tato nem secura. Embora ainda não soubesse para onde iria dali em
diante, eu queria acordar não recordando das coisas que mais amava nela.
Natasha. Os seus trejeitos matutinos, a forma que ela mordia os lábios quando
queria algo, o jeito dela olhando para os prédios da cidade. Fortaleza ainda
estava lá derretendo com um inverno nunca visto antes. Sentei na escada da
praça verde e fiquei pensando naqueles três troncos conjeturados. Minha alma
era pequena, e não conseguia acessar minha memória. No sonho tudo era nítido,
mas volátil. A nitidez se potencializava em nuvens insolúveis. O céu era uma
gota d’água gigante. Pessoas sem rostos dissolviam quando as olhava. Sentia
alguém tocar na minha mão. O vento encobria uma palma. Era Natasha. Sua mão
sobre minha mão era febril, o momento outrora não parecia mais tão sublime. As
melhores frases de amor começam com o silêncio no infinito. Eu balbuciava falar
algo, mas Natasha só queria o meu lado transigente taciturno. Tudo não passava
de um sonho em várias camadas. Sobras de desejos incolores. O lado bom era que
sabia dentro do sonho que quando abrisse os olhos; não me lembraria o que
realmente havia acontecido. O sonho seria algum recorte túrgido da minha
fantasia sobre o esquecimento. O consciente alucinando no inconsciente. Eu
sabia me perder quando queria. Entre as ruas e latrinas desse mundo em crise.
Já havia visto muita solidão e tristeza nas paredes da vida. Agora quem caia
era o céu, ou talvez, o céu não existia. Natasha abria os olhos negros, o seu
cabelo negro flutuava: adorava citar sobre o negro do seu cabelo que escorria
por seus olhos. Tons negros viciantes. Natasha era quem me segurava nos braços,
e pela primeira vez, tudo parecia certo naquele estante. Eu abri os olhos ainda
chovia. Natasha não estava mais lá do meu lado. Não me lembrava do resto. O meu
sonho acabava.
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