Páginas

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Sharknado (...Tubarãonado?) - Anthony C. Ferrante (2013)

Vejamos o histórico desse blog: Béla Tarr (cineasta artístico e obscuro da Hungria), Erik Satie (músico e compositor vanguardista francês) e Sharknado. Está confirmado que eu não tenho nenhum padrão de qualidade ou bom senso.

Eu sei o que você está pensando, "porra Raphael, agora você se superou, o que é essa merda e por que você decidiu resenhá-la?" Bom, deixe eu me explicar. Isso não é exatamente um filme. Quer dizer, é um longa-metragem, tecnicamente, mas foi feito exclusivamente para televisão. Na verdade, esse tipo de filme é bem comum e bem infame, mas esse, Sharknado (que, por falta de tradução melhor, será denominado por mim de agora em diante como Tubarãonado, porque foda-se), acabou ganhando muito mais fama do que o normal, porque é um tornado...com tubarões, o que mais vocês querem?

Eu tentei tirar um screenshot pra cada cena inacreditável demais para ser descrita...foram muitas fotos, mesmo.
E como que eu vou explicar o enredo dessa porra? Acho que dá pra começar pelo básico. Tem um tornado vindo em direção à Los Angeles. No meio do caminho esse tornado se enroscou com uns tubarões - tubarãonado!

Eu sabia! Tornados transformam tubarões em computação gráfica mal-feita. E, sim, eu cortei esse parágrafo só para poder encaixar mais uma foto.
Só que isso não basta pra um filme inteiro, supostamente, então eles precisaram colocar uns personagens no meio pra encher o enredo. Tem o dono de um bar que aparentemente foi uma lenda do surf, Fin - trocadilho intencional - Shepard (Ian Ziering, não se preocupe, também não sei quem ele é); sua garçonete gostosa, Nova (Cassie Scerbo, famosa por Sharknado); um amigo do Fin, Baz (não precisa dizer quem é o ator, porque ninguém nunca ouviu falar), cuja personalidade gira em torno do fato dele ser neozelandês; George (John Heard, que, de acordo com IMDB, já fez 151 filmes, incluindo Esqueceram de Mim - ele é o pai), um cliente do bar; aí aparece a ex-esposa (Tara Reid) do Fin, os filhos, mas nada disso importa porque Tubarãonado está fodendo a cidade.

Fala a verdade John Heard, você não foi contratado pra esse filme. Ele só, por acaso, foi filmado no mesmo bar que você frequenta e você meio que deixou rolar. Só pode ter sido isso.
Esse filme é uma merda. Sério, esse filme fez The Room parecer elaborado de tão comicamente ruim que ele é. É tão ruim que nem mesmo o tubarãonado parece querer fazer parte dele, só aparecendo em duas cenas separadas por uns 40 minutos. E tudo que preenche esse tempo sem tubarãonado não deveria existir. O diálogo é péssimo, os personagens tem toda a profundidade e carisma de uma folha de papel sulfite, os cortes acontecem a cada 2 segundos, impedindo que qualquer um dos ataques de tubarão sejam compreendidos, e a computação gráfica faz o filme Tubarão 3-D (Jaws 3-D, isso existe, eu juro) parecer realista.

Esse figurante foi contratado para um filme chamado Sharknado, mas a causa da sua morte foi uma roda-gigante desgovernada. Que merda, hein?
Como eu fiz questão de citar The Room, vou fazer aqui o mesmo que eu fiz naquela resenha, redigir alguns diálogos para que você, leitor, entenda por que o filme é tão ruim, já que só palavras não causam o efeito completo. Lembrando que todas as cenas são tiradas do IMDB e as traduções são minhas.

Depois de Fin salvar um monte de crianças presas dentro de um ônibus escolar, uma ventania destrói aquele letreiro "Hollywood" e faz com que as letras voem pra todo lado. O motorista, que também foi salvo, assim como todo o grupo do protagonista, consegue se esquivar das letras assassinas, até que ele diz:
Robbie, o motorista de ônibus: Minha mãe sempre disse que Hollywood ia me matar! (então uma das letras o esmaga, porque a ironia é engraçada, aparentemente, ou deveria ser.)

Pois é Robbie, sua mãe tinha razão...que engraçado.
Os heróis encontram uma loja de conveniência (muito conveniente por sinal) para se reabastecerem de suprimentos. Lá, somos agraciados com essas pequenas falas seguindo um anúncio do jornal que dizia que alguns grupos religiosos estão tomando o tubarãonado como um sinal do apocalipse:
Caixa da loja de conveniência: Apocalipse é o cacete! Isso não é fim do mundo! Deuses, eles não estão bravos com a gente, aliens não estão descendo aqui! É o governo! Com "G" maiúsculo! Eles estão por trás de TUDO! Eles sabem o que nós compramos, sabem o que comemos, quando nós vamos ao banheiro. Eles sabem que tipo de QUEIJO eu gosto...Pepper Jack [sussurra].
Caixa da loja de conveniência: Eles controlam tudo! Controlam o tempo também! Só que eu tenho que admitir, TUBARÕES? Por ESSA eu não esperava.
Fin: É.
(Porque essa conversa era necessária para o andamento do filme, senhoras e senhores...)

Passando por uma rua, Nova percebe que tem um asilo perto do aeroporto e pergunta:
Nova: Por que tem um asilo ao lado de um aeroporto?
Claudia (filha do Fin): Porque gente velha não ouve direito.
(Alguém entregue um Oscar e um Nobel pra essa garota, agora.)

Esses são só exemplos, o filme é cheio desses pequenos momentos de preciosidade cômica.

Vocês nunca vão adivinhar o que acontece depois disso.
Tá bom, se esse filme é tão ruim, como que eu vou justificar o fato de eu ter gostado dele... Não é tão difícil de acreditar. O filme se chama Sharknado! É sobre tornados que carregam tubarões assassinos por aí. Com esse enredo, o que você esperava, Cidadão Kane? É claro que o filme é uma merda e é por isso mesmo que ele é bom.

Talvez vocês tenham adivinhado. Desculpem os spoilers mesmo assim. Eu sei o quanto vocês queriam ser surpreendidos pelo final dessa obra-prima.
Sim, o filme ultrapassa a barreira do inaceitável para qualquer tipo de padrão de qualidade cinematográfica; usa dos clichês mais batidos que um roteiro pode oferecer; ignora por completo a física e até a biologia; exagera no uso de trocadilhos e piadas sem graça; usam computação gráfica da pior qualidade; usam atores que nem mesmo se esforçam para atuar de maneira competente. Mas é essa a graça do negócio.

Só dá pra entender essa assistindo. Talvez nem assim vocês entendam.
 O filme é hilário, e é bem provável que essa tenha sido a intenção - o filme dá vários sinais de ser ciente de si. Claro que, se você está esperando uma obra de arte, Sharknado não é o que você procura, mas vai me dizer que isso te surpreende. Tubarãonado é um filme divertido, perfeito pra chamar os amigos e encher a cara.

Nota: -5/5 - porque é o lixo perfeito!



E antes que você vá embora:

Sim, é real. Vai acontecer.

4 comentários:

  1. Liguei a TV hoje e vi o final dessa merda. Deu tempo de pensar: "que porra é essa?", agora eu tenho medo de viver no litoral, mas pode ser que venha, sei lá, um ciclone extra tropical cheio de tainha, é mais possível por aqui.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Você queria escrever um conto de terror em Itajaí, né? Esquece os zumbis do bloco de medicina da Univali. Tainclone (nome apenas opcional) é uma ideia muito melhor.
      Mas você fique sabendo, Sharknado é digno de Oscar em comparação com Birdemic. A atriz que fez Birdemic é tão ruim que faz que até a Tara Reid (ex-esposa do Fin em Sharknado) pareça com um ser humano.

      Excluir
  2. Não acredito que vc assistiu isso.kkkkk
    Eu já conhecia a história, vi um pedacinho uma vez e foi bem engraçado. De onde esse povo tira essas idéias? kkkkkk

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Acredite. Sabe que nem é tão ruim quanto dizem por aí. Não me entenda errado, é horrível, mas é tão engraçado que meio que perde o efeito. Tem coisa bem pior por aí. Agora a ideia, tubarões + tornados, é genial. Queria que tivesse sido minha.

      Excluir

caixa do afeto e da hostilidade