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terça-feira, 20 de agosto de 2013

The Room - Tommy Wiseau (2003)

Antes de ler essa resenha, vá ao espelho mais próximo e tente fazer essa cara. É impossível...sério.
O que dizer de um filme que é tão ruim, mas tão ruim, que meio que você acha que está ficando bom, mas logo fica horrível? Se você não sabe, The Room (que não foi traduzido para o português, mas que eu sei que ficaria entre "A Sala" ou "Uma Traição do Barulho") é um filme independente lançado em 2003, produzido, escrito, dirigido e estrelado, pela criatura mal-formada do cartaz chamado Tommy Wiseau. Não é incomum que um cineasta execute todas essas funções, mas só funciona quando o artista tem talento, e isso é uma coisa que passou longe do Sr. Wiseau, mas muito longe e, considerando o número de repetições de palavras no roteiro, talvez ele nem conheça a palavra. Tendo apresentado o contexto dessa...obra, vamos ao enredo.

Ah! A mais eficiente das preliminares - luta de travesseiros.
Johnny (Tommy Wiseau, famoso por The Room) trabalha em um banco, tem uma noiva, uma vida confortável, sem falar de sua mania de sempre cumprimentar todo mundo e rir, da forma menos natural possível, de exatamente qualquer coisa, até do que não deveria ter graça. Ele aparentemente é feliz com essa noiva, Lisa (Juliette Danielle, famosa por...The Room), mas ela não é feliz com ele e, portanto o trai com seu melhor amigo, Mark (Greg Sestero, famoso por...isso mesmo, The Room), que aceita ser amante, depois não aceita, aí aceita de novo, depois esquece de tudo, mas aceita mais uma vez, até negar de novo e aceita e nega e aceita e nega... Além disso, existem uma série de personagens secundários que não adicionam nada ao enredo, como um moleque pervertido chamado Denny (Phillip Haldman, famoso por...não, não por The Room, ele não é famoso por nada), que meio que é como um filho para Johnny, mas na verdade não é; a mãe da Lisa, que sofre de câncer, mas ninguém se importa, nem mesmo ela; uns amigos de Johnny, umas amigas de Lisa e...foda-se.


Nada de muito errado no enredo, certo? Pois é, mas espere só para ver a execução. Os diálogos são construídos como se o roteirista não tivesse qualquer conhecimento de como seres humanos conversam, cenas acontecem sem qualquer sentindo e se resolvem sem qualquer explicação (uma hora Denny deve dinheiro para um traficante, até que, depois de uma cena emocionalmente vazia, o traficante some, literalmente, ele nunca mais aparece). A cada duas cenas, o filme para e mostra uma longa cena da paisagem de San Francisco - filmes costumam usar esse tipo de cena para estabelecer local, mas o local nunca muda, então não são necessárias 25 pausas para estabelecimento de cenário. A atuação é digna de filmes caseiros de tão ruim, talvez pior, principalmente Tommy Wiseau, que não sabe falar inglês, que dirá atuar ou demonstrar emoção. Personagens aparecem, mas nunca são apresentados, ainda assim eles parecem ter alguma influência na história. Os problemas são indescritíveis. Certo, parece que eu os estou descrevendo, mas isso não é nem 10%, nem 5%, é preciso ver pra crer, mas ver essa abominação é uma das experiências mais dolorosas que um filme pode proporcionar.

Parece um derrame, mas é só um boquete. E não, os envolvidos não são os protagonistas, só dois personagens secundários que nunca são apresentados, mas que decidiram transar no apartamento de Johnny. Outra coisa, todas as cenas de sexo - e elas são muitas, e longas, e chatas - são acompanhadas de música R&B lenta ao estilo Softcore anos 90.
Para que minhas reclamações pareçam mais lógicas, vou descrever algumas cenas. As traduções são de minha autoria e as cenas eu tirei do IMDB:
Exemplo 1:
Mark e Johnny estão tomando café numa espécie de Starbucks genérica.
Mark: Como foi o trabalho hoje?
Johnny: Muito bem. Arranjamos um novo cliente e o banco vai ganhar muito dinheiro.
Mark: Qual cliente?
Johnny: Não posso te dizer; é confidencial.
Mark: Ah, qual é. Por que não?
Johnny: Não, eu não posso, como vai sua vida sexual?
(Sutileza - seu nome é Wiseau!)

Exemplo 2:
Johnny: Eu te amo, eu estou bêbado...eu te amo querida.
(executado sem qualquer emoção)

Exemplo 3:
Johnny entra no terraço.
Johnny: Eu não bati nela, não é verdade! É mentira! Eu não bati nela. (Johnny atira uma garrafa de plástico no chão) Eu não BATI! Oh, oi Mark.
(Distração - seu nome é Wiseau!)

E tem muito mais, muito pior que isso, mas eu não quero estragar a experiência dos meus leitores teimosos que vão insistir em assistir essa merda apesar dos meus avisos, o filme já se estraga por si.

Sim, eles estão jogando futebol de terno. Não é por causa de uma festa, nem casamento ou comemoração que exija o traje. Não tem motivo. A cena acontece, termina, mas nunca é explicada.
Eu vou admitir, quando escolhi que ia assistir The Room, eu já tinha sido avisado da tragédia, ainda assim eu insisti, pensando não sei em quê. Sei lá, talvez pudesse ser engraçado, o que realmente foi, mas não é o suficiente e, mesmo que fosse, não é o objetivo do filme, logo meu julgamento seria tão cruel quanto. Pelo que andei vendo - sim, porque eu precisei pesquisar qual foi a razão de ser desse desastre -, a ideia era fazer um drama com toques de humor negro. Tem drama, mas não tem emoção, tem humor, mas não é negro - se ri do filme e não com o filme -, sendo assim, ele falhou em cumprir com seus objetivos. E o pior de tudo, até poderia ter potencial, se não fosse a incompetência de todos os envolvidos.

Todos os defeitos até poderiam ser vistos com humor, se o filme não se levasse tão a sério. Claramente é uma obra muito pessoal, que fala sobre os problemas amorosos de seu "auteur", mas o tom que a obra usa para carregar o dilema é tão juvenil que beira a misoginia. Os diálogos mais "psicológicos" do roteiro parecem uma rotina de comédia stand-up da década de 80, só que sem a piada - "eu não entendo as mulheres, huh", ninguém entende as mulheres, ha ha", "as mulheres são manipuladoras e destroem a sua vida" - Ora, deixe de viadagem e dê logo esse cu, se é assim que você pensa! A propósito, toda vez que você ouvir um "huh" ou um "ha ha" nesse filme, tome uma dose de tequila. Tome uma dose e entre em coma alcóolico na primeira meia hora!

Tá bom, o filme acontece em San Francisco, já entendi, não precisa continuar apontando.
Com toda a derrota, The Room conseguiu, desde 2009-2010, arranjar uns fãs. Não fãs no sentido de "gente que ama o filme", mas no sentido de "gente que gosta de se reunir para ver o filme e tirar sarro dele". Sendo assim, ele ainda é exibido em salas de cinema nos EUA, e se tornou uma espécie de Cidadão Kane dos filmes ruins. Mesmo tendo reclamado durante toda essa resenha - não por falta de motivos - aconselho que o assistam. De novo, não como um filme interessante, mas como um filme para ver com os amigos, se embriagando e fazendo piadas. 

Nota: -2/5

Amostras da desgraça:




9 comentários:

  1. Raphael, esta foi, sem dúvida, a sua resenha mais divertida. Vou te contar que eu fiquei muito curiosa a respeito desse filme, tenho a impressão que a falta de sentido seja ao menos divertido. E essa cena do boquete? hahahaha O ator está a cara do Tonho da Lua, personagem de uma novela antiga da Globo.
    Definitivamente eu adorei esta resenha, mesmo o filme sendo tão ruim! "Nota: -2/5" hahaha

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    1. Pois é, é que a maior parte das minhas resenhas são de obras que eu admiro e que me influenciaram de alguma forma, então elas são mais sérias ou analíticas, dependendo do caso. É muito mais divertido de falar sobre algo que você não gostou, por isso eu separei algumas abominações para as minhas próximas resenhas.
      E olha que a moça nem tinha começado direito quando o ator fez essa cara, que bom que a cena cortou logo, se não ele ia ter um ataque epilético.

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  2. Hahaha, concordo com a Taciele, eu dei muita risada.

    Não conhecia esse filme, mas eu juro que meu tio tem a mesma cara do homem da foto, mas o rosto dele é assim mesmo, ele não está tentando fazer aquela careta, é assim ao natural. kkkk
    Tudo bem que meu tio não é uma pessoa normal e eu sempre soube que algum problema mental ele possui, mesmo que ninguém admita. :/

    Bem, ainda bem que fui avisada, pois acho que se visse esse filme irei querer assistir, mas depois de sua resenha... kkkk

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    1. A cara do homem da foto também não é careta, por incrível que pareça. Me diz, seu tio já falou alguma vez que queria fazer um filme? Porque ninguém sabe de onde surgiu Tommy Wiseau, o que ele fez antes de The Room ou o que vai fazer depois, ninguém nem mesmo sabe dizer sua nacionalidade (que não pode ser americana), sendo assim, como seu tio e Tommy Wiseau nunca foram vistos em um mesmo lugar ao mesmo tempo, tudo me leva a crer que foi seu tio quem cometeu essa atrocidade.
      Sem ofensas ao seu tio ou a sua família, mas, sabe como é, se você visse Clark Kent sem óculos também ficaria com dúvidas...

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    2. Tudo bem, eu não gosto desse meu tio mesmo. kkkkkkkkkkkkkk

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  3. Baixando o filme em 3, 2, 1...
    Tô morrendo de rir com a emoção dos atores, genial! "The best movie!" hahaha


    Obs.: a resenha do filme ruim fez mais sucesso que as resenhas dos filmes bons ou é impressão?

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    1. Oh hi Vanessa. Cuidado, assistir a esse filme é um processo irreversível. Mesmo sendo tão ruim, eu ainda tenho flashbacks das cenas. Já acordei três noites seguidas ouvindo a voz do Tommy Wiseau me cumprimentado, e às vezes me vem uma vontade impulsiva de gritar: "You're tearing me apart, Lisa!" - mesmo eu não conhecendo nenhuma Lisa. Mais engraçado foi o trailer: "Sensibilidade de Tennessee Williams", "Melhor filme do ano", e todas essas citações sem fonte.

      Obs.: Dá pra acreditar? Quebrei a cabeça analisando "Morangos Silvestres", "Teorema", "8 e 1/2", sendo que bastava eu reclamar de algum filme ruim qualquer. O mais engraçado é que, de acordo com as estatísticas do blog, minha resenha mais lida é a de "All About Anna", que é pornô...

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  4. Adorei a emoção dos atores, tocante! hahahaha Passo longe de ver esse filme! Aliás, tem um filme que você adoraria fazer uma resenha!
    http://www.youtube.com/watch?v=k2pXxHW1DHs

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  5. acabei de assistir o filme e sem dúvida foi um dos mais engraçados que eu vi na vida

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