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sexta-feira, 5 de abril de 2013

Film (Filme) - Alan Schneider / Samuel Beckett


Estamos tendo muitos "primeiros" aqui no Delirando e Escrevendo, essa semana. A primeira resenha de um filme pornô e agora a primeira resenha de um curta metragem, isso não é maravilhoso? Eu também acho. Esse filme - que atende pelo nome de "Film", ou Filme, no Brasil (tradução minha, já que eu acho que esse filme não veio parar por essas bandas) -, foi escrito pelo dramaturgo irlandês, vencedor do Nobel de literatura, Samuel Beckett (mais conhecido pela peça Esperando Godot), e é estrelado pelo famoso comediante sem expressão, Buster Keaton - o avô de Camille Keaton, moça que foi estuprada em "Dia da Mulher", ou "I Spit on Your Grave", lembram dessa referência?

O enredo é sobre um homem que não quer ser visto, baseado no princípio do Bispo Berkeley "esse est percipi" (ser é ser percebido). Ele anda pelas ruas com pressa, cobrindo o rosto e atropelando as pessoas, sempre evitando qualquer contato visual. Em seu apartamento ele tenta eliminar qualquer coisa que possa gerar percepção - janelas, espelhos, e por aí vai. Mesmo assim, ainda restavam um gato e um cão, que sempre o observavam, então ele os retira do quarto. No entanto, sempre que ele retira um, o outro volta. Ele finalmente retira os animais, mas ainda lhe resta um peixe dentro do aquário; ele cobre o aquário, mas não consegue se sentir em paz. Algo ainda o observa, algo onisciente e invisível.


Como vocês perceberam, não me incomodei em entregar todo o enredo logo de cara, simplesmente porque não existem spoilers. Não é um filme óbvio, ele permite diversas interpretações, que variam de acordo com o espectador - é isso que torna a obra tão interessante. Além do mais, esse é um filme mudo, mudo de verdade. Não só pela ausência de falas, mas também de qualquer som - música, vozes, respiração, passos, nada existe, exceto por um "Shh". Isso em um tempo que o cinema falado já era mais que comum, 1965. Em nenhum momento vemos o rosto do protagonista, salvo pelas cenas finais, o que causa certa ansiedade, principalmente pelo ator ser alguém tão conhecido pelo seu rosto, Buster Keaton.


Eu achei o filme extremamente interessante, assistindo-o duas vezes seguidas - já que ele só dura uns vinte minutos. E o mais interessante é que, mesmo com vinte minutos, não sei dizer se o entendi por completo. É uma obra que carrega muito conteúdo, mesmo não sendo quase nada - um homem andando por uma sala. Levanta questões como, quem é este homem? Por que ele não quer ser visto, nem por animais? O que é que lhe persegue? Deus? Uma câmera? E qual o motivo de seu medo?


É um desses filmes que te faz querer discutir. Infelizmente não conheço mais ninguém que o tenha visto, mas gostaria muito que meus leitores o vissem (os que já não o viram) e comentassem sobre, tentassem gerar uma discussão.

Nota: é o primeiro curta-metragem que eu assisto seriamente e ele me intrigou bastante, então 5/5
 
 
 
Achei no Youtube, caso queiram assistir.

2 comentários:

  1. Hahaha, que diferente. Confesso que achei graça no começo, mas depois fiquei curiosa. Vou assistir sim, depois volto e digo o que achei.

    Já vi gente que gosta de andar despercebida, mas esse cara... O que é isso, nem animais? kkkkk
    Nem preciso dizer que algum tipo de probleminha ele tem. kkkk

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  2. A parte mais interessante é que o ator principal é o Buster Keaton, lenda das comédias mudas - talvez tão conhecido quanto Chaplin, na época. E a fama dele era justamente pelo rosto, já que ele sempre mantinha a mesma expressão. Pra quem conhece os filmes dele, é interessante ver um filme que quase não mostra o rosto dele.

    Aproveitando que você passou por aqui, não sei você viu, mas eu escrevi um conto faz uns dois dias e postei aqui. Se incomoda de me dizer o que achou, quero enviá-lo para publicação numa antologia da Andross.

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