Assim como Haruki Murakami é o mais ocidental dos escritores japoneses, Yukio Mishima é o mais oriental. Extremamente nacionalista, ele foi um militar que prezava tanto pela força do intelecto, quanto a do físico. Passou a vida inteira trancado no armário, devido aos preconceitos da sociedade japonesa, que até hoje é um tanto repressiva em se tratando de sexo, que dirá homossexualismo. Passou a vida fascinado pela estética da violência, da morte, do suícidio e da sexualidade contida e cheia de culpa - temas frequentes em seus livros, principalmente Confissões de uma Máscara. Sempre pensando em dar fim a própria vida, tentou aplicar um golpe de Estado, sabendo que seria ridicularizado após seu discurso, o que realmente aconteceu, e, em nome da honra, cometeria o seppuku.
Confissões de uma Máscara é uma das ficções autobiográficas mais honestas da literatura. Seguindo a vida de um protagonista sem nome - ao que tudo indica é o próprio autor -, de sua infância até o fim da juventude, a história narra as fases da vida dessa criança perturbada. A forma em que, aos poucos, ele foi descobrindo sua sexualidade, e como ele se viu forçado a fingir ser o que não era durante toda a vida. Foi militar durante a segunda guerra e meio que viveu a angústia da destruição de Hiroshima, seguida da promessa - não realizada - da destruição de Tóquio, cidade na qual ele vivia. Narra suas relações amorosas e tentativas falhas de se "normalizar". Tudo fazendo uso de uma linguagem poética belíssima, que por si só já vale o livro.
Esse livro foi mesmo fascinante. De início foi um tanto chocante ler uma descrição tão brutalmente sincera e pessoal, mas, chegando ao fim, só resta ao leitor se sensibilizar com o sofrimento e as dúvidas do protagonista - até, e por que não, se identificar com certos questionamentos, afinal as máscaras podem servir para qualquer coisa. Também é possível perceber, contudo muito sutilmente, a invasão ocidental no Japão pós-guerra e como o autor não via isso com bons olhos. A poesia da linguagem e o final que, se não fosse pelo fim das páginas, seria totalmente inesperado, deixa muito aberto para discussão e interpretação, o que torna Confissões de uma Máscara um livro muito profundo e complexo.
Agora o problema. Eu adoro as edições da Companhia das Letras, mais até que as da Cosac Naify. Verdade que as da última tem um acabamento bem melhor, mas a Companhia das Letras trabalha com autores muito mais interessantes (Kundera, David Foster Wallace, Philip Roth, Mishima, Saramago, Isaac Singer, Roberto Bolaño, James Agee, deu pra entender). Até pretendo enviar meu livro pra eles assim que terminar a revisão, só pra ver se pelo menos uma carta de rejeição eu recebo. Mas nessa edição eles relaxaram. Tá bom, não relaxaram tanto assim, só 5 erros - que eu tenha percebido -, mas ainda assim, que porra é "estlio"(palavra correta para os lentos de percepção: estilo)? "Comparandas"? Além de uma palavra faltando numa frase e mais coisas que eu me esqueci. Até entendia ver uma coisa dessas num livro da Novo Século, mas da Companhia das Letras? Olha, se o livro não fosse tão bom a ponto de me deixar 50% mais tolerante que o normal, teria tirado um ponto da nota, mas não foi pra tanto.
Nota: 5/5
Rapha! Eu amei um romance dele chamado "O Marinheiro que perdeu as graças do Mar". É genial, é um texto tão limpo, tão certeiro, tão polido... putz... o menino observando pelo buraco do armário a mãe transar com o marinheiro, o cara querendo fazer amizade com ele, querendo ser o pai que ele não teve, a graça perdida no final... DEMAAIS! É baratim na EV...
ResponderExcluirPois é, eu preciso caçar mais coisas dele. Se você não leu Confissões de uma Máscara, procure ler.
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