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quinta-feira, 4 de abril de 2013

Alphaville - Jean-Luc Godard


Difícil pensar em cinema francês, sem que o nome de Godard e toda a Nouvelle Vague (Nova Onda) venham a mente. Gosto muito dos filmes dessa época e de toda a cultura francesa (um dia ainda irei a Paris - uma pena que nos dias de hoje e não naqueles tempos), eles basicamente formaram toda uma geração de cineastas e fizeram que eu me interessasse mais pelo cinema "arthouse", que pelo hollywoodiano.

Alphaville é um país oprimido por um governo tirano, ditatorial, que reprime, não só as atitudes, mas as emoções e até as palavras, permitindo que se aja apenas conforme a lógica. A história acompanha o espião Lemmy Caution (Eddie Constance), que "visita" essa terra, com o objetivo de socorrer uma habitante do "mundo externo" (qualquer lugar fora de Alphaville) que foi levada para lá, e, enquanto isso, derrubar o governo - algo realmente muito americano de se fazer. Em meio a um mundo de opressão, prostituição e frieza, Lemmy encontra a moça perdida, Natacha von Braun (interpretada pela belíssima Anna Karina), que sofreu uma lavagem cerebral completa, para se adaptar a vida de Alphaville. Pois é assim que funciona por lá, ou você se adapta, ou morre. 


Acho que o termo distopia é usado muito gratuitamente hoje em dia, para qualquer estoria meia-boca, sobre um país vivendo uma ditadura no futuro. Aqui o termo se encaixa muito bem. Alphaville é o exato oposto de uma utopia, mas ao mesmo tempo consegue evitar o tom de propaganda que as distopias costumam carregar. Aqui não se critica só uma forma de governo, mas a falta que fazem as emoções e poesia para o bem-estar de uma sociedade. Todo o tom do filme é bastante filosófico e poético, principalmente em se tratando da narração. Em muitos momento, me senti lendo um romance - considerando que precisei ler as legendas, coisa que raramente preciso fazer em filmes (infelizmente meu francês é péssimo, em comparação ao meu inglês). 


As atuações podem parecer meio frias de início, mas esse é justamente o objetivo. É visível a diferença entre Lemmy, habitante do mundo exterior, e os habitantes de Alphaville, que mais parecem robôs. Quando o susto passa, as atuações travadas dos outros personagens, se tornam um toque muito interessante. A trilha sonora também é aterradora, quando ela se faz presente, outro detalhe que contribui para o ar distópico do enredo. E o ritmo é lentíssimo. Foram longos 98 minutos que eu passei assistindo esse filme, mas isso não é um problema, já que a história é interessantíssima e compensa toda a lentidão.


Eu sou um fã assumido do Godard, esse é o quarto filme que vejo dele, então sabia o que me esperava antes de começar a assistir. Admito que não é para todos, então é possível que o leitor discorde de cada uma das minhas palavras. Para mim, esse filme se trata de uma obra prima cinematográfica, espero que meus leitores gostem tanto quanto eu.

Nota: 5/5

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