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segunda-feira, 11 de março de 2013

Capote x Infamous (Confidencial) - Comparando os Filmes




 
Um dos melhores livros que eu já li foi Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany's), que já resenhei por aqui e até tracei um comparativo entre o livro e o filme - esse é o meu post mais visto, por causa da foto da Audrey Hepburn. Recentemente, decidi ler Música para Camaleões, também escrito por Truman Capote e devo dizer que o livro é uma aula de literatura, tanto que agora quero conhecer a obra completa do autor. Enquanto o dinheiro não permite comprar todos esses livros, decidi ver esses dois filmes sobre ele, para tentar conhecer melhor a figura por tras da obra.
 
Pra quem não sabe, Capote, lançado em 2005, concorreu a vários Oscar e rendeu um de melhor ator a Philip Seymour-Hoffman. Enquanto Infamous não ficou muito conhecido. O motivo: ambos tratam do mesmo assunto, o período da vida do autor, enquanto ele escrevia "A Sangue Frio" - seu livro mais conhecido e, dito por muitos, ter sido sua obra prima. Além de serem sobre a mesma coisa, a diferença de tempo de lançamento entre eles é de um ano, Infamous (aqui conhecido como Confidencial) estreou em 2006. Existe uma longa discussão quanto a qual é melhor e até que ponto é certo lançar um filme sobre o mesmo tema em um espaço tão curto de tempo, por isso, vou falar sobre o que achei de ambos os filmes e, então, compará-los.
 
Vi Capote primeiro, então começarei por ele. É um filme técnicamente impecável. O enredo, as atuações, a imagem, a direção; é justamente o tipo de filme que costuma concorrer a prêmios e levar muitos deles. Trata sobre o tema com muita sensibilidade, analisando o lado psicológico entre todos os personagens envolvidos - o escritor, sua relação com os prisioneiros, suas relações pessoais e como cada um desses reagiu a obra. Tem um clima sério e escuro - e isso já é visível no cartaz -, e, honestamente, chega a ficar cansativo em algumas cenas, mas é o que a proposta parece exigir.
 
Confidencial, por outro lado, consegue conciliar a seriedade e o humor. Inicialmente, parece meio preguiçoso em sua exposição de contexto, usando o estilo de documentário - com as "talking heads" - para que as celebridades do meio de Truman falassem o que pensavam sobre ele, sobre a alta sociedade americana e sobre o livro. Só que essa impressão vai sumindo conforme o filme avança, e ele vai ficando cada vez mais brutal e "corajoso". Toby Jones é uma cópia de Truman Capote, então nem tenho o que dizer quanto a sua interpretação, e o resto do enredo também faz um escelente trabalho, com destaque ao atual 007 (Daniel Craig, como o assassino, Perry Smith) e Sandra Bullock, como a escritora e amiga de infância do Truman, Harper Lee - que, em comparação ao seu amigo, é macho pra caralho!
 
Vamos a comparação. Enquanto Capote é muito mais técnico e "academicamente" agradável, Confidencial me pareceu mais sincero e atento a detalhes, além de ser muito mais corajoso e gráfico. Eu tenho que fazer uma pesquisa mais aprofundada para saber qual é mais correto, históricamente falando, mas, considerando que ambos buscaram chegar o mais próximo possível dos fatos, sinceramente, não sei de qual gostei mais. Como eu disse, o começo é mais preguiçoso; enquanto em Capote, todas as impressões são expostas por meio de ações e expressões dos atores, Confidencial usa as talking heads, como um documentário. Não gostei desse fator e, se fosse apenas isso, Capote teria levado a melhor, contudo, existem diversos outros fatores que mudam tudo. Outro problema de Confidencial, são as cartas de Perry, as quais ele narra para a câmera em um tom incrivelmente monótono - o que chega até a ser engraçado.
 
Primeiramente, em Confidencial, Truman é realmente gay e espalhafantoso - tanto quanto o Truman da realidade. Em Capote, ele é claramente gay, mas muito contido. E isso me leva as atuações; é inegável que Philip Seymour-Hoffman é um dos melhores atores atuais, todos os papéis dele são ótimos, incluindo esse; o problema é que  ele não se deixou levar pelo personagem e acabou mais parecendo ele fazendo uma imitação de Capote, do que ele se tornando o próprio. Toby Jones não teve esse problema. Pra começo de conversa, a criatura já é a cara do personagem; tem a mesma voz, a mesma altura, só precisou imitar os maneirismos, e isso ele fez com perfeição. Por isso, com todo o respeito ao Seymour-Hoffman, Toby Jones foi o melhor Capote - assumindo, é claro, que ele teve suas vantagens.
 
Então tem a questão dos coadjuvantes. Nesse quesito, Capote leva a melhor. Confidencial, em muitos momentos, exagera na atuação. Os atores que fazem Perry Smith são ambos muito bons, mas o de Confidencial é muito "tadinho". Jack Dunphy (parceiro de Truman), não recebeu muita atenção em Confidencial, enquanto Harper Lee, de Capote, estava meio ofuscada. Gostei da forma que eles abordaram o ciúme que Truman sentia pelo sucesso de "O Sol é para Todos". Também gostei dos detalhes aplicados em Confidencial e que foram deixados de lado em Capote. Truman escrevia a caneta e deitado na cama - dizia pensar melhor na horizontal -, e seu uísque preferido era J&B; tudo isso é retratado em Confidencial e esquecido em Capote. Mais pontos de vantagem a Confidencial.
 
Por último, a brutalidade. Capote é um filme de classe, os palavrões podem ser contados nos dedos, a violência é mínima, tudo parece perfeito. Já em Confidencial, os assassinatos são mostrados com detalhes, o que quase chegou a me emocionar - principalmente no que se refere aos gritos das mulheres amarradas, quando elas já sabiam que iam morrer; retrata a homofobia do sul dos EUA, que na época era profunda. Só que, tudo isso, deixa Confidencial um pouco forçado e, considerando que algumas atuações já são exageradas, parece até que o filme precisa se empurrar garganta abaixo do espectador.
 
Resumindo: Capote é melhor na técnica; é muito bem dirigido, sutil e deixa a atmosfera falar mais alto que as cenas. Por outro lado, esse artifício deixa o filme contido e, em alguns momentos chato e pretencioso - como se pedisse para ganhar um Oscar a todo o momento. Confidencial não é nem um pouco sutil, tem uma direção mediocre e algumas atuações exageradas. Ainda assim, é extremamente detalhado e profundo em algumas cenas. Toby Jones é perfeito como Truman Capote e Sandra Bullock é uma boa Harper Lee, mas as performances de Capote não são tão inferiores. Sou obrigado a dar uma nota igual a ambos os filmes e dizer que a preferência vai depender do gosto de quem assiste.
 
Nota de ambos: 4/5 - queria dar 3,8, mas essas notas muito quebradas são uma merda, então arredondei.
 






3 comentários:

  1. Não li nenhum livro dele e também não me lembro de ter visto nenhum dos filmes, Legal saber, fiquei curiosa, assim que tiver um tempinho livre, irei assistir... :)

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  2. Ah, esqueci de dizer, tenho um esmalte que se chama Bonequinha de Luxo. kkkkkkk

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    Respostas
    1. E é justamente por esse livro que você devia começar, caso queira entrar em contato com a obra do Truman Capote. O filme inspirado nesse livro, de 196...e poucos, com a Audrey Hepburn, também é muito bom.

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