Páginas

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Ao Farol- Virginia Woolf

Atenção, esta resenha contém spoiler!!!

Num breve resumo do enredo, pode-se dizer que este livro conta a estória de uma família que passa as férias numa casa de veraneio na Escócia, enquanto o maior desejo de um dos filhos, o mais novo, é visitar o Farol que tem ali perto, porém é continuamente impedido pelo mau tempo.

O livro é dividido em três partes: "A janela", "O tempo passa" e "O farol", as quais são compostas por 19, 10 e 13 capítulos, respectivamente. Os acontecimentos narrados ocorrem em dois dias distintos, separados por um intervalo de dez anos. Assim, em "A janela" vemos os acontecimentos do final de uma tarde e noite de setembro; em "O tempo passa", vemos os acontecimentos de dez anos após esse primeiro dia. Nesse período ocorre a Primeira Grande Guerra. Em "O farol" vemos o que acontece numa manhã após a Guerra.

Quanto aos personagens, temos a família do sr. e da sr. Ramsay com seus oito filhos. Do mais velho para o mais novo: Andrew, Prue, Nancy, Cam, Jasper, Roger, Rose e James; os convidados da família: Lily Briscoe, que é pintora; William Bankes, que é botânico; Charles Tanslay, Minta Doyle, Paul Rayley e Augustus Carmichael, que é poeta; e os empregados que cuidam da casa na segunda parte: a sra. MacNab, a sra. Bast e seu filho George.

O livro se inicia com uma fala da sra. Ramsay dizendo ao seu filho James que eles irão ao farol no dia seguinte caso o tempo esteja bom. O menino fica contente com o que ouve, mas o pai não deixa que a alegria dure muito dizendo que o tempo não estará bom, fazendo com que James o odeie.
 Ao longo dos capítulos, aparecem alguns dos convidados da família. Entre eles Charles Tanslay, que é pouco estimado pelas crianças. Logo após, Lily Briscoe que faz sua primeira aparição pintando um quadro da sra. Ramsay enquanto a vê pela janela com James e aqui, a janela é figura central. Não é à toa que este é o título da primeira parte. E o capítulo é encerrado com a visão da cabeça da sra. Ramsay "Absurdamente recortada pela moldura dourada" ( ou seja, pela janela).

Agora, vou me deter mais demoradamente no capítulo cinco dessa primeira parte. Logo no primeiro parágrafo, nos deparamos com dois tipos de exposição dos fatos: o narrar e o mostrar, que se dão através do discurso direto da personagem e do discurso do narrador. Temos o pensamento da personagem e a narração direta ao mesmo tempo. Por isso é preciso muito cuidado para não se perder durante a leitura. Um pouco mais para a frente, a voz da narrativa vaga numa indeterminação, é difícil atribuir se o que está sendo dito é feito pelo narrador ou é um pensamento da personagem, além disso, vemos que um simples ponto muda todo o sentido de uma frase.
Nesse capítulo, a sra. Ramsay tricota uma meia marrom para levar de presente ao filho do faroleiro e usa James como modelo de medição. O menino, tomado de ciúmes, fica se remexendo a fim de atrapalhar o trabalho da mãe, que se irrita e é um pouco mais severa com ele. Por fim, ela consegue medir a meia e constata que ainda está muito curta.

Em "O tempo passa", parte com menor número de capítulos, apenas 10 (curioso notar que dez é justamente o número de anos compreendido nessa parte). Ao longo dos capítulos, a passagem do tempo é quase palpável, acompanhamos a decadência e abandono da casa de veraneio que é atingida pelas intempéries, mas segue resistindo com os cuidados da sra. MacNab, da sra. Bast e de seu filho George.
Nessa parte, eclode  a Primeira Grande Guerra, Andrew é morto atingido pela explosão de uma granada, Prue morre por causa de uma complicação no parto e a sra. Ramsay também morre. Não há preparação prévia para dar a notícia das mortes, então somos pegos de surpresa com elas são anunciadas [dentro de colchetes], como se fosse só um detalhe. A implacabilidade do tempo e dos acontecimentos se faz muito marcante, mas de uma forma quase poética.

Passada a Guerra, a casa de veraneio é novamente habitada e em "O farol", finalmente se concretiza a ida ao farol, após dez anos. O sr. Ramsay leva James e Cam ao farol, os dois vão contra suas vontades, mas preferem não contrariar o pai. Paralelamente à ida ao farol, Lily Briscoe pinta seu quadro, aquele mesmo ela tinha iniciado há dez anos atrás e o termina no mesmo momento que o barco chega ao farol. Essa terceira parte é permeada pela falta que a sra. Ramsay faz, principalmente a Lily, que é a que mais evoca lembranças dos tempos passados.

O livro é genial, não tanto pela história em si, mas sim pela forma como se dá a narrativa, num fluxo de consciência no qual o estado psíquico das personagens é mais valorizado do que as ações concretas. Indico fortemente a leitura e certamente o lerei novamente.

Li este livro para a matéria de Introdução aos Estudos Literários e o professor indicou o livro da L&PM, com a tradução da Denise Bottmann, mas como está esgotado e não se encontra mais tão facilmente, ele também indicou o da Autêntica, com tradução do Tomaz Tadeu. A primeira leitura que fiz, foi do livro com a tradução da Denise e para escrever esta postagem estava com a tradução do Tomaz em mãos. Particularmente, achei a tradução da Denise mais indicada para um primeiro contato com o livro da Virginia, como foi o meu caso, mas a do Tadeu, apesar de ser um pouco mais rebuscada, também é boa.
Deixo abaixo, nas duas traduções, um trecho que eu gostei:

"(...) deviam aprender desde a infância que a vida é difícil, os fatos inflexíveis, e que a jornada até aquela terra fabulosa onde nossas mais vivas esperanças se extinguem, nossas frágeis embarcações soçobram nas trevas (...), exige, acima de tudo, coragem, verdade, e a força de resistir". -Tradução de Denise Bottmann.
"(...) deviam estar conscientes desde a infância de que a vida é difícil; os fatos, inarredáveis; e a passagem para aquela terra lendária onde nossas mais vivas esperanças se extinguem, nossos frágeis barcos afundam na escuridão (...) é uma passagem que exige, sobretudo, coragem, verdade, e força para resistir". -Tradução de Tomaz Tadeu.

3 comentários:

  1. O livro parece realmente interessante, tanto que você pretende ler novamente. Gostei demais da tua resenha, sério mesmo. E achei muito bacana você colocar quotes no final, porque da aquela vontade de ler logo!!! rsrs
    Beijos, fica com Deus.
    Post novo: www.lendoeaprendendoblog.blogspot.com

    ResponderExcluir
  2. Olá, como vai?
    Puxa, tive a oportunidade de conhecer um trabalho da autora na faculdade de Artes Cênicas e gostei muito da profundidade da sua escrita. Adorei a sua resenha e as citações escolhidas. É ótimo quando temos uma experiência tão positiva com uma obra, não é?
    Queria também ter visto uma foto da capa, quem sabe já não esbarrei com a obra por aí e não me lembro? Ou, quem sabe, eu não esbarre em breve? :D

    Beijocas ♥
    Thati Machado;
    htpp://nemteconto.org

    ResponderExcluir
  3. Queria demais ler a resenha, mas quero ler o livro também, e fiquei tão dividida entre ler spoiler e saber sua opinião ou ir na surpresa... Queria uma resenha sem spoiler hahaha
    Depois que eu ler, vou voltar aqui, ele está na minha estante me esperando.

    Beijos

    Meu Meio Devaneio

    ResponderExcluir

caixa do afeto e da hostilidade