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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Birdemic: Shock and Terror [..Passarêmico"???": Choque e Terror] - James Nguyen (2010)

A qualidade escorre pelo pôster.

Meu povo, nossa busca está terminada. O pior filme já feito foi encontrado. Não! Não é The Room (Cristo, esse é uma obra prima digna de Oscar, se for comparar). Não! Não é Sharknado, seus tolos! Apenas uma palavra (mais exatamente duas mescladas em uma) intraduzível: Birdemic (o qual eu apelidei carinhosamente de Passarêmico - Pássaro + Epidêmico, porque ninguém se deu ao trabalho de criar um título em português, nem mesmo o estagiário filho da puta que traduziu "Airplane" como "Apertem os cintos o piloto sumiu"), senhoras e senhores! Nada mais. Apenas Passarêmico é capaz de ultrapassar o nirvana de má atuação de nomes como Tara Reid e Tommy Wiseau.

Para de chorar, porra! Você teve sua chance, agora é a vez do James Nguyen ser o pior.
Apenas Passarêmico contém diálogos mais sem noção que os de Tommy Wiseau. Apenas uma direção é mais incompetente que a de Tommy Wiseau e até, por que não dizer, de Uwe Boll. Inaptidão e falta de talento, seu nome é James Nguyen. Sim, este homem nascido em Da Nang, uma das maiores cidades do Vietnã, em 1966. Este homem tinha um sonho, senhoras e senhores. Este homem queria fazer um filme. Mas não só um filme. Não, não, de forma alguma. Este homem queria fazer uma obra tão forte que seu nome seria lembrado por gerações, que suas falas seriam repetidas por pessoas de todas as idades, que só a menção do título seria capaz de trazer um sorriso nostálgico no rosto de todo e qualquer ser humano com um coração, uma história grandiosa o suficiente para eternizar o nome de seu criador entre os dos grandes auteurs da história do cinema. Howard Hawks, Billy Wilder, Alfred Hitchcock, Ingmar Bergman, Luis Buñuel, Akira Kurosawa, Ed Wood, John Waters, ...James Nguyen - lembrem-se desse nome!

Ele começou em 2003 com Julie e Jack. Um filme que ninguém nunca ouviu falar. Depois fez Replica, que tampouco ficou conhecido, mas, dizem as más línguas, é vergonhosamente ruim. Precisou vir Passarêmico, em 2010, para que esse grande gênio tivesse sua voz ouvida e sua obra vista.

A venda pode ter sido de 1 milhão de dólares, mas o cubículo continua o mesmo. Culpa do desconto de 50%.
Apenas em Passarêmico você conhecerá Rod (Alan Bagh; eu sei o que você está pensando: Alan quem? - eu também não sei). Rod trabalha em uma firma de software e, algumas semanas antes do ataque dos pássaros, ele realiza uma venda de 1 milhão de dólares, depois de dar um desconto de 50% ao cliente. E eu não farei nenhum comentário sobre isso, apenas lançarei a informação e deixarei que você, caro leitor, a processe. E esse não é o fim da maré de sorte profissional de Rod, não senhor. Na mesma semana, a empresa de software para a qual ele trabalha é comprada por uma empresa de tecnologia por 1 bilhão de dólares (provavelmente a oferta foi de 2 bilhões, mas eles ganharam 50% de desconto também). E não é só isso. Ainda na mesma semana, Rod prepara uma apresentação de slides incrivelmente vaga sobre energia solar e, mesmo assim, recebe 10 milhões de dólares de uma empresa para poder financiar seu projeto ecológico. Aí você comenta: nossa, esses são números infantilmente redondos. Eu respondo: pois é, né? Só que não acabou, ainda nessa mesma longuíssima e cheia semana, enquanto Rod toma café da manhã (tendo recebido um café, um suco de laranja e uma água antes mesmo da garçonete aparecer para anotar o pedido), ele reencontra uma antiga colega de escola, Nathalie (Whitney Moore, também não sei quem ela é, mas gostaria de saber).

Qual o problema desse filme mesmo? Ah, é! Todas as outras cenas.
Nathalie é modelo. Mesmo tirando suas fotos em uma lojinha de foto 3x4 e trabalhando para uma agência que claramente é apenas fachada para algum negócio obscuro de turismo sexual (é o que se pensa de uma empresa que tem uma folha de papel sulfite na recepção servindo de placa com o nome da agência), ela consegue um emprego como capa da Victoria's Secret. Isso a tornaria instantaneamente uma das mulheres mais famosas dos EUA, mas não, não é isso que acontece. Ela simplesmente segue sua vida normal, encontra Rod que a convida para ir a um restaurante vietnamita (sem nome, nem endereço, é só um restaurante vietnamita mesmo) e os dois ficam juntos, porque maus atores se atraem aparentemente.

Olhem lá no seu! É um pássaro? É um avião? Não, é uma imagem gif! Que na verdade representa um pássaro, então...tá bom, é um pássaro, mais ou menos.
Então o filme acompanha os outros encontros de Rod e Nathalie. Como a vez que eles vão assistir o documentário "Uma Verdade Inconveniente" - eu sei que foi esse o filme que eles viram porque Rod faz questão de anunciar, mesmo que ele esteja conversando com outras duas pessoas que acabaram de sair do cinema com ele, como se eles não soubessem o que tinha acabado de ver -, do Al Gore, com um outro casal de pessoas desinteressantes que só servem pra morrer mesmo (ah! e a mulher desse casal é garota propaganda do site da Yoko Ono, e, por algum motivo, anda por aí com uma camiseta na qual está escrita "imaginepeace.com"; isso nunca é abordado, só está lá). Aí você pergunta, mas o que o documentário do Al Gore tem a ver com Passarêmico? Aguarde, infelizmente os dois estão relacionados.

Uma cama barrando a janela, isso vai impedir as águias assassinas de invadirem.

Também tem a vez que Rod e Nathalie vão ao Festival da Abóbora, na cidade deles. Afinal, não é só porque Rod acaba de se tornar um empreendedor milionário e Nathalie uma das modelos mais famosas dos EUA, que eles não vão poder se divertir na feirinha da cidade, não é? Depois eles vão pra praia, e Nathalie tenta tocar num pássaro morto (que pode ser ou uma águia ou um abutre) - por que não? -; e depois vão para um bar totalmente vazio, no qual o músico Damien Carter (que pelo jeito é real) toca ao vivo com uma banda invisível, enquanto o casal dança de um jeito estranho para a música R&B mais amigável e incestuosa da história - Hangin' out, hangin' out, hangin' out with my family, havin' ourselves a par-tay...(ainda está na minha cabeça e se recusa a sair)

Choque e terror!!! ...quase...eu acho...(eu admito que a cena da dança é genuinamente engraçada, mas só porque os atores decidiram tirar sarro do filme e a música é basicamente construída em torno de um tuíte do cantor.)

Agora os pássaros entram em cena? Ainda não, primeiro Rod e Nathalie têm que ir ao motel mais meia boca da cidade, mesmo eles sendo milionários e mesmo eles morando sozinhos, afinal um quarto de motel barato é sempre...mais...sexy. Não é? Só depois deles transarem - aparentemente sem tirarem a roupa, visto que Rod acorda com calça, cinto, meia e sapato -, aí sim, na manhã seguinte, que começa o ataque das águias.gif. Sim, as águias são uma imagem gif colada na tela. CHOQUE E TERROR!!! MUAHAHAHAHAHAHA!

Um ataque de águias. Rápido! Peguem os cabides!

Depois de 45 minutos de filme - quarenta e cinco minutos de filme, sendo esse filme apenas uma série de encontros entre o casal de protagonistas -, é que os pássaros finalmente atacam. E não são só pássaros, eles são kamikazes também e tem um vomito tóxico-explosivo (sendo as explosões e chamas também gif, como todos os outros efeitos especiais - e quando eu digo especiais, na verdade eu quero dizer retardados). As águias parecem ter como alvo os carros e postos de gasolina. O que fazem nossos heróis, então? Encontram um outro casal e fogem de carro com eles. Convenientemente, o homem do outro casal lutou no Iraque (e em determinado momento do filme, ele pergunta para Rod: "por que não dar uma chance à paz?") e, portanto, carrega todo um arsenal consigo, cheio de armas mágicas que nunca precisam ser recarregadas, até que as balas acabam quando o enredo assim exige - que nem na vida real.

Sem palavras. Sem palavras pra descrever o terror! Bu!

Então eles encontram um monte de gente morta; duas crianças ainda vivas e que não demoram para se acostumar a morte dos pais; um velho numa ponte, que usa a "ciência" para explicar que os ataques das águias estão interligados ao aquecimento global - eu falei que Birdemic estava relacionado a Uma Verdade Inconveniente, viram, faz todo o sentido do mundo... -; encontram um hippie (?) com uma peruca muito bizarra, que mora em uma árvore no meio de uma floresta. E chegando aí eu devo ter pego no sono umas quatro vezes, porque eu não faço ideia de como isso tudo aconteceu em tão pouco tempo. As águias se cansaram também, pelo jeito, porque chega uma hora que elas decidem ir embora, mesmo que os efeitos especiais dos pássaros partindo não respeitem nem a mais básica noção de perspectiva (eles voam no mesmo lugar por horas). Então Rod e Nathalie vivem felizes para sempre? Não, o filme lançou uma continuação esse ano, com o mesmo elenco e com os mesmos personagens.

Oh não, é o fim de alguns pequenos pontos específicos do mundo (ou dessa cidade, melhor dizendo). Salvem-se quem puder...

Eu desconheço um insulto forte o suficiente para descrever esse filme de forma apropriada. Mas ele não é só horrível, ele é tão ruim, mas tão ruim, que fica hilário; até que vai ficando chato e, no fim, você já não sabe mais no que pensar, nem no que acreditar; tudo que fica é um leve entorpecimento mental, a sensação de que você foi além, conheceu um mundo desconhecido e separado do nosso, outra realidade. Passarêmico é tão ruim que chega a ser inacreditável, tanto que, pela primeira vez nesse blog, vou deixar aqui o filme na integra, por meio do Youtube, para que vocês entendam bem do que eu estou tentando falar.

A imagem da esperança.

Chega a ser triste, porque o Passarêmico não é ciente de si. Não é uma sátira ou uma diversão entre amigos. James Nguyen, especialmente agora que seu filme adquiriu status cult e ganhou uma continuação, dá a entender que é um cineasta sério, que ama cinema tanto quanto o meio ambiente e seu ídolo, Alfred Hitchcock. Disse em entrevista que a única coisa que mudaria no filme todo seria o realismo dos pássaros. Sério mesmo, James Nguyen? Só o realismo dos pássaros? E o realismo das pessoas que você contratou, e da sequência de absurdos que você ousa chamar de enredo? Isso não é um problema pra você? Constato que conversar com esse diretor deve ser como conversar com uma criança de 10 anos, em posse de uma câmera e muito tempo livre. É essa a impressão que o próprio filme causa.

Conforme o tempo passa, a atuação vai de ruim para totalmente indiferente. Para vocês terem uma ideia, em uma cena, Rod e Nathalie estão em uma loja de conveniência. Reparem que tem sempre uma loja de conveniência nesses filmes...é tão conveniente. Lá, Nathalie (digo o nome da personagem, mas tenho certeza que não foi a personagem que fez isso e sim a própria Whitney Moore em total desconhecimento de que estava sendo filmada) pega uma garrafa de champagne e a mostra para Rod e os dois parecem estar em uma conversa bem interessante, embora o áudio não capture nada dela para o filme (isso acontece várias vezes, nem sempre de maneira intencional). Aí algo chama atenção dela, a cena começando talvez, e ela larga a garrafa. Vamos recapitular. Você está no meio do apocalipse aviário, encontra uma loja sem dono (a dona aparece assassinada uma cena depois), você vê uma garrafa de champagne e demonstra interesse em levá-la, mas decide pôr de volta quando uma "coisa" chama a sua atenção. Explica isso. Explica qual motivo poderia ser, além de "aquela cena não era parte do filme".

Coisas assim, que acontecem mais de uma vez, fazem com que eu visualize James Nguyen como um cara bem chato, insistindo o tempo todo para que seus amiguinhos do bairro se comportem para a sua filmagem "muito importante". Entendem o que eu quero dizer?

Nosso Hitchcock do Vietnã.
 Fica pior quando você fica sabendo que James Nguyen tem um título. Isso mesmo, ele se deu um título. Ele é "Mestre dos Thrillers Românticos". E esse título é registrado, pode procurar no google e mais de uma vez você vai encontrar o nome dele disposto da seguinte forma: James Nguyen, Master of Romantic Thrillers™. Seria hilário, se esse fosse o objetivo, mas não. Ele parece querer carregar uma mensagem com a sua obra e deseja ser levado a sério. Tommy Wiseau também, quando ele lançou The Room, queria ser comparado a Tennessee Williams, mas quando sua obra foi lançada e, consequentemente, ridicularizada, ele baixou a bola e se aceitou como comediante. Por que Nguyen não faz o mesmo? Será que ele assistiu Passarêmico e mesmo assim disse para si mesmo: sim, esse é um bom filme. Ou ele é apenas o Ed Wood da nossa geração, fingindo se levar a sério ao mesmo tempo que rindo dos críticos e alimentando sua conta bancária. Vou torcer pela segunda opção, porque, se a primeira for verdadeira, posso ser acusado de estar tirando sarro de um deficiente mental.

Ainda assim, independente de tudo o que eu acabei de dizer, assim como Sharknado, assim como The Room, eu indico esse filme. Não para ser visto como uma obra prima, nem mesmo serviria como um filme medíocre. Só serve para diversão mesmo. Eu ri muito durante o filme todo, mesmo que esse não fosse o objetivo. Tanto que vou ver a continuação, sério mesmo. E nessa categoria de filmes (categoria: chame os amigos e encha a cara enquanto assiste), não há obra melhor que Passarêmico. Talvez haja, admito que ainda nem cheguei no fundo do poço em se tratando de filmes ruins - ou talvez tenha chegado, mas ainda tenho que cavar para ver o que existe além da terra. Mas atualmente, considerando meu conhecimento cinematográfico, esse é o melhor pior filme da atualidade.

Nota: -6/5 (porque ele é assim tão ruim)


3 comentários:

  1. Tenho uma breve lembrança de ter visto esse filme, eu era muito pequena, mas lembro de algumas cenas, eu acho. Lembro que fiquei com medo! kkkkkkkk

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  2. Opa, só agora vi que o filme é de 2010. Então o que eu vi foi outro, mas tbm era desse tipo e tinha uns pássaros assassinos. kkkk

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    1. Sim, deve ter confundido com Pássaros, do Alfred Hitchcock, lá em 1960. Um filme muito melhor, com menos tecnologia e efeitos melhores, vai entender. Mas Birdemic é hilário.

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