Cansei de ideologias. Com toda a minha sinceridade, cansei dos -ismos, -istas, bandeiras, partidos, ideias, escolhas, escolas, posturas, padrões; cansei de tudo. Não existem verdades, conclui, apenas conveniências. Não existe debate, apenas imposição. E, disso, eu cansei mais do que qualquer outra coisa. Talvez eu deva me explicar antes de continuar essa bobagem, outro dia estava comentando em um post da
Lyzza, no qual ela expunha sua opinião quanto à algumas medidas que andam sendo tomadas para a liberação do casamento gay (ou homossexual, ou homo afetivo, depende do quão chato você é). Discordava de algumas das posições dela, mas, depois de uma conversa, entendi o que ela quis dizer e decidi expor minha opinião quanto a coisa toda, afinal ela é relevante pra cacete, não?
Não existe - repito, não existe - qualquer ideologia tão pura que não possa caminhar em direção ao autoritarismo. Assim como não existe ideologia que seja tão verdadeira que mereça ser imposta. Seja você conservador, liberal, GLS, machista, feminista, nazista - ora, vai me dizer que estes não existem mais -, militarista, raio que o partista; dependendo da força da sua convicção nas ideias que seu partido apoia, existe uma grande porcentagem de chance que o seu discurso carregue um desejo secreto de dominação. Sendo assim, admito, dentre as milhares de bandeiras balançando por aí, carrego uma delas com muito orgulho - a da liberdade individual. O que diz minha bandeira? Faz o que tu queres, pois eu quero que se foda. Pois é, esse é o slogan. Você pode nunca tê-lo ouvido por aí, e eu explico a razão: nosso grupo é desorganizado, afinal é difícil estipular um horário de reunião quando todos são livres para chegar a hora que bem entenderem.
Vou tentar ser mais claro na minha explicação usando como exemplo o próprio casamento gay. Minha opinião sobre isso? Ora, casem-se, que me importa? Desde que não casem comigo, a pessoal com a qual cada um escolhe se unir não é da minha conta. E isso não vale só para homos e héteros; toda essa história de poligamias, trigamias, orgias em união legal, por mim, também estaria liberado. Afinal, e já estou me repetindo, não sou forçado a me unir a eles. A palavra-chave aqui é
forçado. Não sou forçado a nada, assim como ninguém é forçado a nada. Todos são livres, desde que não firam a liberdade do outro.
E é aqui que eu retorno às ideias da Lyzza. Os motivos pelos quais ela é contrária ao modo que a união homossexual anda sendo defendida é devido à questão religiosa. Não, não é porque a bíblia diz que ser gay é pecado, mas porque é possível que venham a forçar as igrejas a realizarem essas cerimônias de casamento. Aí chega o momento em que eu concordo com ela. Igreja nenhuma deve ser forçada a aceitar coisa alguma. Isso, desde que eles entendam que a capacidade restritiva da sua religião se mantém apenas entre os seus adeptos. Isso mesmo Malafaia, Bolsonaro e qual o nome do Ministro racista do qual todos estavam falando sobre até uns dois meses atrás? aquele chorão? - deixe-me perguntar ao tio Google, só um minuto - ah! Marco Feliciano, claro. Estes três pastores - e o ato que eu estou prestes a descrever não veio somente deles, mas de toda uma cúpula religiosa brasileira; eles são apenas os nomes mais influentes e presentes nos jornais - insistem em fazer parecer que os costumes cristãos estão tão enraizados na cultura brasileira que todos os seus habitantes os seguem, e os que não seguem estão à margem da sociedade, são minoria e não precisam ser ouvidos - isso também faz menção à outro mal-costume dessa gente, que é de achar que democracia é ditadura da maioria, mas isso é outra história e não quero sair, ainda mais, dos trilhos dessa crônica mal planejada. Não é assim que funcionam as coisas. Talvez nem todos sejam familiares a esse conceito, mas é possível não ser cristão, ou não seguir os dogmas cristãos de forma fundamentalista e absoluta. A religião pode impor quaisquer formas de restrições aos seus seguidores, nunca ao mundo todo - isso se chama ditadura.
Sei que estou repetindo termos aqui - ditadura, religião, liberdade... -, mas isso é apenas para que ninguém perca a ideia geral desse texto. Não é direito de ninguém, que dirá uma religião - que não passa de uma instituição como qualquer outra -, definir padrões de comportamento. Você pode criar pequenas regras àqueles que decidem te seguir, mas deixe os que não te seguem em paz - isso é liberdade. Mas Deus criou a todos nós e a bíblia é a palavra direta dele, não é função dos que defendem a palavra de Deus fazer com que a palavra dele seja cumprida? Não. Simplesmente, não. Primeiro de tudo, vai saber se foi Deus mesmo que escreveu essa porra - nem vou entrar no mérito da existência ou não de deus, já discorri sobre isso ano passado, nos primórdios do blog, não cheguei à conclusão alguma e deixei isso pra lá. Segundo, se ele quisesse tanto assim que o livro fosse seguido, já teria mandado alguma outra praga eliminadora da sociedade - todos sabemos que isso sempre fora um costume, nem sei porque isso parou hoje em dia. Terceiro, seguir sob ameaça não é seguir de verdade, e Deus, onipotente que deveria ser, saberia diferenciar entre o falso seguidor e o verdadeiro. Sendo assim, relaxe. Deus não precisaria de advogados e defensores, se ele realmente se importasse tanto assim com quem transa com quem. Porque, no fim de tudo, é a isso que se resume. Quem transa com quem. E isso não é da conta de ninguém além dos indivíduos transando. Se realmente existem regras divinas quanto à esse assunto, deixe que o divino as resolva. Se o inferno existe, deixe que ele venha a nós pecadores - porque sou um pecador, com orgulho - após a morte; não torne a vida um inferno maior do que ela já é.
Verdade que forçar uma igreja a casar dois gays seria ceder privilégios a este último grupo, mas proibir que gays se casem só porque algumas religiões são contra, ou poderiam quem sabe talvez num futuro próximo possivelmente um dia vir a ser afetadas, também é ceder privilégios. Se o objetivo é impedir que um receba mais vantagens que o outro, que ninguém receba vantagens e todos sejam livres.
Fiquei repetindo e repetindo essa história do casamento gay e parece até que é só sobre isso que esse texto fala, mas não, estou falando de tudo por aqui. Falo de drogas, falo de aborto, falo de expressão - todas as formas de expressão -, falo de, exatamente, tudo. Tudo deveria ser legalizado. Afinal, não é só uma questão de liberdade, mas porque a proibição também é só uma forma de atiçar a vontade e criminalizar o supérfluo. Que fique claro, em nenhum momento eu disse aborte, use drogas, seja gay, seja polígamo. Tudo que eu digo é: faz o que tu queres, pois eu quero é que se foda. E nem me venham com plebiscitos, como eu ouvi um idiota sugerir um outro dia. No dia que fizerem um plebiscito sobre qualquer uma dessas coisas - que se você analisar com bom senso e honestidade intelectual verá que não passam de escolhas pessoais (releia a palavra "pessoais" dezenas de vezes, até que o conceito consiga penetrar sua mente) -, vou querer que seja feito um plebiscito sobre absolutamente tudo: da aprovação de uma lei ao que uma pessoa qualquer come para o café-da-manhã.
Ah, somente mais uma nota não-relacionada antes que eu me esqueça. Se o Marco Feliciano se candidatar à presidência e ganhar, eu saio do país em exílio.