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domingo, 14 de junho de 2015

Nada de novo no front



Ser escritor às vezes tem haver com sanar a dor, ir, buscar, gritar, partir. Um escritor só vira escritor porque é obrigado a escrever. Ser escritor é uma maldição. Escrever é reverberar os medos, as confianças, os sonhos, as lágrimas. Quantas pessoas um escritor pode ajudar através de um texto (além de ajudar ele mesmo)? Escrever é isso e, um pouco mais. Escrever é derramar solidão nas palavras, fazer do sangue a tinta. Sempre quando escrevo esqueço lembrando: dos vazios que nos cercam. A arte de escrever vem das noites viradas. O bater dos punhos nas teclas. Aquela garota que não sai da minha cabeça se vai neste texto que escrevo agora, mas não demora. Lá se vai o meu amor novamente num ângulo fechado. Ser escritor é cair no sono constante do fracasso. Perder num dia. Continuar. Continuar. Continuar. Cair faz parte. O escritor ganha de vez em quando, mas aí ele percebe que ganhar não é tudo (não adianta). Perder é marketing. Escrever é dominar o silêncio com os sussurros urbanos. Penso na juventude descobrindo a escrita tentando jogar alguma coisa no pedaço de papel. O jovem escritor desabafa: se alivia com todo o direito. Ele escreve sobre sua solidão, sua alegria repentina, sua rotina, seus anseios, suas dúvidas, e assim, descobrimos que todo escritor mente, trapaça, balbucia sobre tudo porque ele se esconde nos seus textos. Já rasguei muitos textos com medo de alguém ler. Já me perdi numa mascara social que não soube como tirar, mas escrever também é isso. A sinceridade vem com o tempo. Faz tempo que não tenho sido sincero. Tenho escrito pessimamente. Faltava alguma coisa na minha escrita algo que tinha perdido. Todos os dias assim que abro os olhos penso no futuro e como ele me assusta. A vida é foda assim mesmo... sou romântico de mais às vezes... Já era noite cheguei em casa fui para o banheiro acendi um cigarro (fazia tempo que não fumava) sentei na privada e fiquei pensado: nos desesperamos facilmente com tudo (como disse sou romântico, sentimental). Fui para frente do computador. Agora já era madrugada coloquei o disco do Ornette Coleman bem baixinho suave (ele morreu recentemente não sei se vocês sabem) peguei aquela garrafa de uísque e, comecei a trabalhar num romance que há tempos adio. Gosto de escrever de madrugada porque os silêncios são mais barulhentos. O som dos meus dedos batendo nas teclas, o som do uísque sendo derramado no copo, isso sim é romantismo. Queria colocar sangue novamente naquilo que escrevo. Existem muitas distrações por aí no mundo virtual: pornografia, facebook, youtube... Eu sei a culpa é minha. Antigamente escrevia poesias nos guardanapos de bar, nos panfletos de supermercado etc. Ninguém nunca me atrapalhou. Lembrei uma vez que escrevi um bom poema e li em voz alta. Esqueci o papel no bar.  O escritor envelhece rápido porque já nasceu maduro. Nunca tente roubar do acaso. Os telefones não são para serem atendidos sempre. Escrevo pensando em você agora me lendo se perguntado: que louco é esse? Ou, talvez não. Você apenas esteja lendo por ler, se desinteressando aos poucos pela linha do tempo perdida. Escrever pode ser confuso como tudo na vida, mas a pergunta é: você tem coragem para escrever? Não se preocupem ando meio sentimental.  

Um comentário:

  1. "Gosto de escrever de madrugada porque os silêncios são mais barulhentos."
    É isso.

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