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domingo, 21 de dezembro de 2014

Momento Musical #5 - The Mamas and the Papas, Love, The Velvet Underground


Nessa casa da mãe Joana que é o Momento Musical, por mais que eu tente evitar, acabo caindo num tema. É inconsciente. Defino as bandas de improviso, cinco minutos antes de escrever a postagem, aí uma meio que se conecta a outra dessa maneira. Estou escutando o disco enquanto penso no próximo, e o próximo acaba vindo. Na edição de hoje, são bandas da minha tão amada década de 60. Uma delas, a primeira, é meio deslocada, mais ligada ao pop que ao psicodélico, mas não está tão distante. Vamos à música que é o que importa.

The Mamas & The Papas -  If you can believe your eyes and ears


Minha primeira memória dessa banda é bem distante. Era a minha mãe quem gostava especificamente da música California Dreamin'. Nunca foi muito meu estilo, eu achava, até ouvir esse disco por completo uns dois anos atrás. O som é leve, cheio de harmonias vocais, meio folk, meio pop com uma pitada de psicodélico (que era meio onipresente no som de 66-68). Acho que não gostava por nunca ter prestado atenção mesmo. É uma banda relaxante.

Love - Forever Changes


Esse disco é um dos melhores do seu período, o que é dizer muito (foi lançado em 67, e agora você vai no Google e pesquisa "álbuns lançados em 67", se vocês gostam desse tipo de música, mas não são tão ligados na história por trás dela, vocês terão um orgasmo). Encabeçou toda uma geração, mas hoje ninguém lembra deles. Culpo o nome da banda. Convenhamos, nossa geração baixa música e descobre tudo pela internet. Tenta pesquisar a palavra Love na internet. Vai demorar umas 30 páginas do Google, até encontrar alguma informação sobre a banda. Mais bagunçado ainda é pesquisar Love no PirateBay. Sorte de vocês que o tio Rapha existe e trás essas joias diretamente pra vocês, sem necessidade de perder tempo pesquisando.

The Velvet Underground - Loaded


Fiquei triste pra cacete quando o Lou Reed morreu ano passado. Puta compositor, e eu acho que o melhor trabalho dele está nesse disco. Já me peguei ouvindo esse álbum e cantando junto com Sweet Jane, Who Loves the Sun, Oh! Sweet Nuthin'. Esse é um dos meus discos favoritos da história do rock e eu não faço ideia de por que essa é a primeira vez que ele figura aqui no blog (se bem que tem dezenas de álbuns que eu amo e nunca falei sobre por aqui - só aguardem as próximas edições do Momento Musical).

É isso. Não farei mais Momentos Musicais esse ano, mas 2015 estará aí logo. Quem sabe eu até bote ordem nesse barraco, organize minhas postagens por semana. Não prometo porra nenhuma, mas não é impossível de acontecer.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Divórcio - Ricardo Lísias [2013]


Peguei esse livro emprestado dois meses atrás. Nunca tive coragem de pedir livros emprestados para ninguém, não importando o quão bem eu conhecesse a pessoa, por causa da pressão. Passado muito tempo, se eu não terminasse a leitura e devolvesse o livro, ia começar a me sentir cada vez mais culpado. Fiz essa exceção porque queria ler algo do Lísias já faz tempo, mas não sabia qual comprar, e sempre que fazia uma lista de futuras compras, deixava o dele para depois. Então me atirei nessa pressão psicológica propositalmente para me forçar a ler o livro, e em um ritmo razoável. A pessoa que me emprestou havia passado as últimas semanas elogiando Divórcio, então pedi o empréstimo. Ela aceitou, até porque já havia emprestado dois livros para essa pessoa.

Feito em uma série de fragmentos divididos em 15 capítulos - que o livro chama de quilômetros, mesmo número de quilômetros da São Silvestre -, Divórcio conta a história de como Ricardo Lísias (personagem, não autor) se divorciar da esposa após um casamento de quatro anos. Os fragmentos são formados de pensamentos do autor durante e depois do divórcio, momentos do passado, trechos do diário que a esposa do narrador mantinha (causa principal da separação) e autoanálise. Seguindo a linha já bastante tradicional na literatura francesa de autoficção, Ricardo se põe como personagem, mas não exatamente.

A narrativa de Divórcio trafega a linha tênue entre ficção e realidade, com o autor, talvez intencionalmente, fazendo o leitor ceder àquela voz que o acompanha enquanto ele lê, que insistem em dizer que aquilo aconteceu daquela forma, que o eu-lírico e o eu autor são um e o mesmo. Ele faz isso colocando, ao lado das invenções (o treino para São Silvestre que ele nunca fez e a corrida da qual ele não participou - embora ele narre com a verossimilhança de um participante) os fatos - citações aos montes sobre o livro Céu dos Suicidas, que existe e foi Ricardo Lísias, autor, quem escreveu. Resisti o que pude, mas, como imagino tenha sido o caso da maior parte dos leitores, botei o nome dele no Google e fui investigar quanto daquilo foi real. Saí da pesquisa sabendo tanto quanto quando entrei - nada. Nem sei dizer ao certo se o cara foi casado. E, querem saber, bom que tenha sido assim. Não vem ao caso quem é Ricardo Lísias, o autor. O livro trata de Ricardo Lísias, o personagem, e, para este, tudo que se passou no livro foi real, mesmo que tudo não passe de ficção.

Apesar das distrações, das fofocas, do drama, do real contra a ficção, o livro fala mesmo é de jornalismo. Desse mundo que todos sabem ser corrupto chamado mídia, a principal responsável pela informação. Lísias escreve sem medo sobre o poder que existe nesse meio, e o poder que estes que o representam (jornalistas) acreditam ter. Nesses momentos, a prosa beira a fúria, o que só aumenta a curiosidade do leitor para saber se Divórcio é biografia ou não. Ironia que vou julgar ter sido intencional, fazer o leitor se entregar ao mesmo mundo do jornalismo que o autor condena.

Devo dizer, entretanto, que as repetições do livro me cansaram. A metáfora insistente sobre "estar sem pele" e as descrições exaustivas da pele voltando e não voltando e se ferindo me fizeram sair da narrativa muitas vezes. Escolha estilística, imagino, mas pra mim não funcionou. O livro não fica ruim por causa disso, o resto do conteúdo compensa. Para mim ele foi além do jornalismo e brincou com esse obsceno gosto humano por tudo que é do outro, mesmo que o outro seja um fundo de banalidade tão ordinário quanto você.

Atropelando as repetições, o romance é muito interessante. Me deixou curioso pelas outras obras do autor, principalmente agora que já estou vacinado e desencanei da realidade, pelo menos quando estou lendo (às vezes nem preciso ler pra isso).

Nota: 4/5

Não confie em mim. Leia um trecho e, se gostar, compre o livro: http://www.objetiva.com.br/arquivos/capas/Divorcio__1oCapitulo.pdf?1416486760

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Les Amants Réguliers (Amantes Constantes) - Philippe Garrel [2005]


Eu tenho esse fascínio pela década de 60 que muitos de vocês já conhecem, foi isso que me levou a me interessar pelas crises políticas da época (a ditadura militar brasileira, os hippies e a contracultura nos EUA, a primavera de Praga, e os eventos de maio de 68 em Paris). Fiquei sabendo em meio às minhas pesquisas particulares da existência desse filme e logo o baixei e assisti. O diretor é Phillipe Garrel, que, em 68, fez parte da revolução, ao lado de Godard e Truffaut. Esse filme, Les Amant Réguliers (não confundam minha preferência pelo título original com pedantismo ou francofilia, é porque o título nacional é composto de duas palavras que rimam e vocês não fazem ideia do quanto isso me incomoda), é de 2005, mas tenta recapturar o espírito daquela época. Sem colocar a carroça na frente dos bois, li sobre a possibilidade desse filme ter sido uma resposta a Os Sonhadores (The Dreamers), do Bertolucci, de 2003, que trata mais ou menos do mesmo tema, a diferença sendo The Dreamers mais focado no lado erótico/sexual, e Les Amants... mais filosófico/introspectivo (não contendo uma só cena de nudez). Em uma cena, inclusive, uma personagem se volta à câmera e cita Antes da Revolução (Prima della rivoluzione), de 64, enunciando muito bem ao espectador o nome de quem dirige: Bernardo Bertolucci. Pode ou não ter sido um cutucão, um jeito discreto de dizer: você costumava se importar. Isso foi o que um crítico disse, e vocês sabem como são os críticos. Como nunca ouvi nem Garrel nem Bertolucci falarem nada sobre isso, e até onde sei os dois são amigos, não tomarei partido no caso. Mencionei apenas caso algum leitor mais informado quisesse me esclarecer.


Os conflitos entre os estudantes e os policiais na França em 1968 (época em que o governo era bastante conservador) estão cada vez maiores e mais violentos. Um grupo de jovens artistas, entre eles o poeta François (Louis Garrel) e a escultora Lilie (Clotilde Hesme), tem hábito de se reunir na casa de um amigo deles para fumar ópio, trabalhar, discutir, dançar e planejar os próximos passos da revolução. Um policial um dia vai à casa de François para perguntar porque ele não se apresentou para o exame militar obrigatório. Ele se recusa a ir com o policial e, quando este busca reforços, ele foge. Depois desse evento, François se torna mais engajado na revolução.


Em um dos "ataques", ele conhece Lilie e a reencontra numa das festas dadas na casa do "padrinho" deles todos. Os dois iniciam um relacionamento, ela tem dificuldades com a monogamia no começo, mas logo se apaixonam. A revolução, agora em 69, já foi em sua maior parte esquecida. Os trabalhadores voltaram a trabalhar e os estudantes à universidade.


É um filme de três horas, então já adianto que é indicado apenas aos que se interessam pelo tema e/ou gostam de histórias envolvendo artistas drogados e seus muitos questionamentos que os impedem de trabalhar. Se você gosta desse tipo de história (eu gosto), não será chato, as três horas passarão voando. Perfeito também para os aficionados sobre a época, já que o filme parece ter o objetivo de mostrar um retrato preciso do que foi viver naquele tempo, feito por um diretor que o viveu, lutou na revolução junto das tantas personalidades do período. Isso não quer dizer que o retrato seja romantizado ou ausente de críticas, pelo contrário, o vazio das personagens é bem demonstrado e a falta de sentido generalizada é muito bem explorada.


Estéticamente, Les Amants Régulier é uma homenagem à Nouvelle Vague. Preto e branco, cheios de diálogos tirados de livros de filosofia existencialista francesa, música somente quando necessário, quebras da quarta parede, referências a outras artes, jump-cuts, até mesmo as personagens têm um quê de godardianas, sendo que suas interações parecem cortadas diretamente dos filmes da primeira fase do auteur.


Não tem jeito de eu ser objetivo aqui. O filme, apesar de longo - uns diriam, sem estarem errados, longo demais -, tem tudo que eu gosto, trata de vários assuntos que me interessam, desde a liberdade sexual à liberdade criativa. Isso não me impede de entender que não é para todos. E não, isso não é uma dessas frases elitistas, como se o filme fosse muito complexo ou denso para certas pessoas, que, por isso, seriam inferiores. De forma alguma, muito pelo contrário. O que eu quero dizer é que ele pode ser extremamente desinteressante para muitos, e, para esses, sugiro qualquer outro filme. Talvez até algo do Godard, que com certeza é menos pessoal que esse filme do Garrel.

Nota: 5/5