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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Nighthawks at the Dinner - Tom Waits (1975)


Não falo tanto sobre música aqui, pelo menos não tanto quanto eu gostaria. O único motivo é que não vejo tanta graça em falar sobre discos que eu já escuto faz anos e já ouvi milhares de vezes, até de trás pra frente. Prefiro criticar/resenhar coisas novas, só que essas eu posso contar nos dedos as que eu escuto. Então decidi que vou falar sobre coisas velhas mesmo e que se foda o resultado. Vou escrever criticas sobre os meus álbuns favoritos, os álbuns que eu mais odeio, e por aí vai. Só que nada vai ser lançamento.
 
Decidi começar por Tom Waits, por vários motivos. O primeiro é que ele é foda, o segundo é que esse é um dos meus discos favoritos entre todos (independente do gênero e da época), terceiro é que ele nunca recebeu a devida atenção do público - o que, considerando o publico, não é uma coisa ruim, de qualquer forma, ele merecia mais reconhecimento -, todos os outros motivos eu pretendo deixar claros no meio do texto.
 
Nighthawks - Edward Hopper
Nighthawks at the Dinner foi o primeiro álbum ao vivo do Tom Waits. Só que não foi gravado ao vivo, foi gravado em um estúdio em Los Angeles, moldado para imitar uma cafeteria, ao estilo da pintura de Edward Hopper que inspira o título e as músicas do disco, em frente a uma platéia ao vivo. As faixas se dividem entre músicas normais e breves apresentações e monólogos com o público. Os convidados a assistir a gravação, tinham direito a comida e bebido, além de terem visto um show de strip-tease, antes das gravações começarem, para aquecer o público e ajudar todos a entrarem no clima proposto pelo álbum.
 
As músicas são todas inéditas, coisa que não se vê mais hoje em dia - um músico apresentando um show inteiro de músicas novas para uma platéia. Começando com uma introdução, do Tom Waits, ao "local" no qual a banda está se apresentando, o fictício "Raphael's Silver Cloud Lounge", seguindo para a música, que é mais um poema recitado com uma banda de jazz tocando ao fundo, "Emotional Weather Report" - que é justamente o que o título indica, uma previsão do tempo que mistura clima com estado emocional do ser humano.
 
A banda é formada por músicos de estúdio, extremamente experientes no cenário do jazz americano. Alguns tendo gravado com Frank Sinatra e Count Basie, para citar uns nomes mais importantes. Embora o disco não seja puramente jazz, os improvisos constantes e o clima geral forjado pelos produtores do álbum, transformam a música em jazz. O que me lembra um outro disco, não relacionado a esse, do Eric Dolphy, ao vivo. Não lembro o nome do CD, mas a música que a banda tocava era The Way You Look Tonight. No meio do música, eu parei de prestar atenção na banda e me foquei no fundo. Nos sons de gelo batendo no copo, pratos quebrando, gente conversando e rindo, isso só serviu para melhorar ainda mais o clima de bar que os discos de jazz geralmente oferecem. Isso acontece em Nighthawks também - em um momento dá até pra sentir o cheiro dos cigarros e do uísque -, só que de propósito, embora de modo espontâneo.
 
Todas as músicas são ótimas, nem dá pra perceber que foram escritas e ensaiadas em apenas quatro dias. Mais inacreditável ainda é saber que as gravações levaram somente dois dias para serem termindas. O resultado é um excelente disco, um dos melhores do Tom Waits. Cheio de jazz, blues e bom humor. Quem ainda não ouviu, deveria dar uma chance.
 
Nota: 5/5
 
 
 
 
 
 


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