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sábado, 9 de maio de 2015

Jimi Hendrix & Schopenhauer



Recentemente me mudei, era dia de faxina aqui em casa. Sempre antes de começar uma faxina tenho um pequeno ritual para fazer esse grande esforço quinzenal. Antes de começar a tirar poeira das coisas e, passar o pano na casa; bebo uma ou três cervejas sentado olhando pro nada, depois, começo a faxina. Sempre começo pelos meus discos. Por quê? Bem, eu os arrumo inicialmente porque é lá que vou fazer minha trilha sonora para começar a faxina. Enquanto eu escutav... quer dizer arrumava meus discos encontrei no meio (entre os discos), o livro do palhaço da melancolia Schopenhauer. Comecei a folhear. Vi as mazelas do amor e da morte. O livro parece que estava à procura de uma companhia. O disco que tinha colocado era Axis: Bold as Love a leitura parecia ter aquele ritmo calculado a cada virada de página. O melhor é que, o livro me dizia coisas não tão boas sobre l’amour. Fazia minha crença cair, desacreditar na condição sincera e afetuosa que se cria nas relações humanas, mas do outro lado começava a escutar coisas como “é melhor você esperar até amanhã/garota o que você está falando?” Comecei a pensar que se Dolly Mae explicasse para o velho Schop que o amor é bem mais... embaixo ele não teria sido tão pessimista assim. Já na litle wing o velho deixou o seu cachorro escutando a música e saiu, ficou sem palavras. Segundo os biógrafos de Schopenhauer ele detestava qualquer barulho que fosse, logo, odiava música não suportava uma nota se quer. Mas, isso é porque ele nasceu na época errada. Um bom blues com certeza iria mexer naquele coraçãozinho solitário. Ah, se ia! O alemão tinha bom humor conseguiria sobreviver a algumas tuitadas da vida moderna. O disco genial de Hendrix (diga-se de passagem) acaba com a música bold as love assim, também como acabará os dois vértices do velho Schopenhauer: com amor e morte.



"O mundo parece seguro amarrado numa coleira."



Desapego

Não parece que é. Estava bebendo num bar qualquer de Fortaleza. Pensava nas coisas que sempre penso: morte, vida, contas, poesia, mulher, nada, dinheiro, nada, e outras coisas sem sentido que não vale a pena comentar. Não parece que é. Joguei bola descalço e acabei perdendo a tampa do dedão. Não parece que é. Comecei a escrever um texto e, de repente, parei. Joguei meu coração na rua para ser atropelado; só porque fui embora e minha casa não me disse adeus. Como eu queria chorar agora entre estes muros surdos. Preparei minha mala algumas roupas, objetos, livros e uns trocados. Olhei uma ultima vez para cozinha, fechei a porta do quintal. A sala onde escrevia no dormir das madrugadas; louco de vinho com os dedos feridos no papel. Lembrei do quarto, do crepúsculo, dos lírios. Quantas vezes não morri dentro de um sonho. Larguei minhas fotografias amareladas numa sacola. Joguei pela ultima vez as cinzas do cigarro no chão. Quantas vezes eu ouvi aquela canção com a luz apagada uma garrafa de cerveja quente, embriagando minha solidão abusiva. O meu cachorro morto. Do outro lado da rua morava minha primeira namorada. Cintia. Cabelo castanho chanel no seu ouvido sussurrava Camões beijava-a como um Sísifo antes do martírio. É difícil retomar as lembranças quando não conseguimos agarrar o âmago da infância. O mundo parece seguro amarrado numa coleira. Lembro do meu primeiro dente de leite jogado no telhado (tradição). Lembro das pequenas epifanias. Coração. Amor. Amor. DECEPÇÃO. Alegria, breve, mas alegria. Caminhei sem olhar para trás. Aquela era a casa que morei durante 15 anos de lembranças infantis, juvenis, entendam como quiser, mas o importante agora é saber que: as únicas lembranças que contam são essas virgens lembranças. Quando não sabia o significado de quase nada. Isso é algo que ninguém pode fotografar, porque a memória é a única que consegue nos levar além das lembranças. As sensações é que são mais resistentes que simples fotografias reveladas. Uma camada de mim fica. Esse texto um dia vai ser só lembrança, assim como minhas digitais naquela casa. Até mais minha pequena.

  



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