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quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Norwegian Wood - O filme e uma leve comparação com o livro.


Sugiro a todos que, antes de lerem essa resenha, busquem a resenha do livro, que fiz não faz muito tempo. Não pretendo retornar em conceitos básicos do roteiro, isso já foi feito, se você não viu o filme, não leu o livro, não leu minha resenha do livro, mas mesmo assim quer ler e entender essa resenha (qual o seu problema?), pesquise sobre no tio Google. Não quero ficar repetindo coisas.

Ontem a noite assisti a adaptação para o cinema de Norwegian Wood, lançada em 2010 no Japão, em 2011 nos EUA e nunca no Brasil. Dirigido pelo vietnamita Ahn Hung Tran, conhecido em concursos da Europa, mas não por mim - esse é o primeiro filme dele que vejo. Tampouco conhecia o elenco, mas fiquei bem feliz com as performances. Estava curioso para assistir uma adaptação de um filme do Murakami, é bem possível sentir esse lado cinematográfico nas histórias dele e algumas influências do cinema europeu tradicional e um pouco de Woody Allen. Esperava alguma coisa assim nesse filme e foi mais ou menos isso, no entanto, com algumas complicações.

Antes de tudo, o filme é um espetáculo visual como todo o cinema asiático parece se esforçar em ser. As luzes, as cores, o ambiente, tudo perfeitamente escolhido conforme o clima que a cena quer oferecer. Nesse quesito, se estivesse resenhado uma obra de arte puramente visual, receberia a nota máxima. Contudo um filme precisa de roteiro. É aí que começam os problemas.

O livro Norwegian Wood é uma extensa obra de mais de 350 páginas, com poucos personagens relevantes, mas todos com um desenvolvimento fenomenal, começo meio e fim. Não esperava que isso fosse perfeitamente representado no filme. Primeiramente, gostaria de avisar que não sou desses que criticam com fúria adaptações de livros. esse é um trabalho extremamente complexo. O livro não sofre com o mesmo número de restrições de um filme. O livro para ser escrito só precisa das palavras e ideias de seu autor, publicação e outros detalhes acontecem depois de o livro estar pronto. O filme pode ser pensado e escrito, mas precisa de um puta investimento para sair do papel e para conseguir isso, ele precisa ser vendido para alguma produtora. Livros passam por isso, mas as editoras me parecem bem mais abertas que as produtoras de cinema. No cinema detalhes como, tempo de duração, drama rentável e toda essa bobagem, devem ser respeitados. Nesse caso decidiram fazer esse filme em apenas duas horas. Sinto informar-lhes, mas não é possível.

A trama é tão mal-cortada e desorganizada que qualquer um que não tenha lido o livro, não vai entender uma cena sequer. Nenhum personagem passa por um desenvolvimento em cena, é tudo presumido. O Nazista, um personagem muito interessante no livro, aparece no filme, mas seu nome não é mencionado, suas peculiaridades são reduzidas a duas linhas desconexas de diálogo e, sem mais nem menos, o personagem, assim como no livro, desaparece. Isso tem efeito no livro, pois nós fomos apresentados ao personagem, nos relacionamos com ele e nos acostumamos com sua presença. No filme, sua existência é um grande foda-se. Se ele nem aparecesse na história talvez fosse melhor. O problema é que não é só o secundário "Nazista" que passa por isso. Todos sofrem esse problema, até os protagonistas. Em muitas cenas o espectador desavisado vai encarar a tela com um profundo olhar de confusão, porque algo está acontecendo, algo que até parece fazer sentido, mas é completamente incoerente ou mal-explicado. Imagino que o roteiro deva ter sido muito maior originalmente (ninguém consegue ser tão ruim assim em seu trabalho), além do mais, toda a equipe é competente, por que logo o roteirista não seria? O roteiro deveria ser ótimo, mas algum produtor o cortou em pedaços para que ele se encaixasse nas malditas duas horas. Honestamente, um filme assim nem precisaria existir.

Outro defeito é a trilha sonora. Em todos os livros do Murakami música é algo fundamental, sempre tem algum disco de jazz tocando em algum lugar em suas cenas. Norwegian Wood recebe seu nome por causa de uma música. Repito, música é fundamental nessa história. Não sei se eles não conseguiram os direitos autorais ou coisa assim, mas nenhuma das músicas citadas no livro aparecem no filme, exceto por um pedaço de Norwegian Wood, contudo, a história por trás da música não é explicado, então que se foda. A trilha que eles realmente usam, não é tão ruim. Embora não seja a mesma do livro, combina, na maior parte das cenas, com a história. No entanto, em alguns trechos, a música utilizada me fez sentir que um assassino iria aparecer em alguma cena, de preferência em um hospital escuro - essa faixa me confundiu profundamente.

Confundir, tá aí o verbo que resume o filme. Todas as cenas parecem se esforçar para confundir por completo o espectador. As cenas do livro são fiéis, mas completamente soltas e sem explicação. Para quem leu o livro, esse filme é uma experiência incompleta e insatisfatória. Para quem não leu, o filme não é experiência alguma, apenas um conjunto de cenas bonitas e coloridas e sem sentido algum.  Imagina que um cidadão afobado e com alguma deficiência de atenção, que você nunca viu na vida, aparece na sua frente e te conta a história desse livro, mas como ele está com pressa, fala muito rápido para cobrir a coisa toda em cinco minutos - o filme é mais ou menos isso. Não recomendo a ninguém, mas não culpo os envolvidos. O filme me cheirou a corte de produtora gananciosa, mas não posso provar nada. Talvez tenha sido realmente incompetência, darei o benefício da dúvida.

Nota: 2,0/5,0 (somente pela atuação e visuais, se não seria 0 mesmo)

2 comentários:

  1. Logo quando terminei de ler o livro fiquei extremamente animada pra assistir o filme. O livro tem uma pegada tão boa, dá para imaginá-lo como um filme, mas... foi uma decepção. Eu, mesmo tentando muito, não consegui passar dos primeiros 40 minutos, e, ainda assim, com muito esforço. A Naoko do filme me exasperou tanto que desejei que a morte dela fosse logo no começo. Enfim, uma pena. Tinha tudo pra ser um filme incrível, assim como o livro.

    E sobre a trilha sonora, chega a ser um pecado ter sido assim, não ouvi tudo, mas por suas palavras já fiquei triste por terem perdido uma das melhores coisas a respeito da obra, que é, justamente, toda a musicalidade envolvida.
    "No entanto, em alguns trechos, a música utilizada me fez sentir que um assassino iria aparecer em alguma cena, de preferência em um hospital escuro" hahahahahah

    Gostei bastante da sua review, e do seu blog! Me deu uma vontade enorme de assistir alguns dos filmes sobre os quais você escreveu... Enfim, curti pra caramba. :')

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    Respostas
    1. Oi Taciele, seja bem-vinda a essa bagunça que eu chamo de blog.
      Esse filme só me prendeu até o fim por causa da fotografia. Convenhamos, o filme é uma beleza de se olhar. Eu realmente queria ter gostado desse filme, já que é visível que todos os envolvidos tinham as melhores intensões com o projeto, é uma pena que tenha dado tão errado. Se o filme tivesse tido mais tempo, para que eu pudesse ser apresentado aos personagens e a começasse a me importar com eles, poderia ter sido perfeito. Uma trilha sonora melhor também ajudaria, talvez se usasse mais jazz e rock psicodélico, que é o que livro pedia.

      Fico feliz que tenha gostado do blog, o objetivo é fazer com que os leitores descubram filmes diferentes, então eu espero que você assista às minhas sugestões e, depois, me diga o que achou. Também gostei muito do seu blog e pretendo aparecer por lá muito mais vezes.

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