Páginas

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Sobre a Ética no Restaurante Self-Service (Hora da História com o Tio Rapha)



Olá, você que ainda esbarra com esse canto obscuro e empoeirado da internet. Eu lancei um livro semana passada. Tá na Amazon. Talvez você goste de ler.

O link: https://tinyurl.com/yy394a8y

Meus agradecimentos a quem vier a comprar. Comprou? Leu? Gostou? Deixa lá um comentário pras pessoas ficarem sabendo que o livro é bacana.





Moro sozinho desde o meio de meus dezessete anos, quando comecei a faculdade em uma cidade distante de minha terra natal. Como todos aqueles que já passaram por essa nobre experiência, tive algumas dificuldades em meus primeiros anos. Nunca tive qualquer habilidade para trabalhos manuais ou domésticos, não tenho coordenação motora, senso de direção ou equilíbrio  se não bastasse, não sei cozinhar tampouco. Eu sozinho em um quarto-e-sala no meio de uma terra desconhecida, seria a receita para o desastre. Mas eu sobrevivi. Trabalhei pra caralho pra conseguir comer em restaurantes por quilo (self-service) da pior categoria e lavar roupa em lavanderias amigáveis com universitários (que oferecem desconto). Com isso, devo dizer que não foi sofrimento algum - foi até bem confortável. Tentei aprender o básico da vida domesticada, mas não é pra mim.
 
 
A escola em que fiz ensino médio era consciente da possibilidade de seus alunos saírem da cidade após a formatura, por isso ofereceu, gratuitamente, aulas de culinária, adaptadas de modo que até o maior dos imbecis seria capaz de aprender qualquer coisa. Esse era justamente o problema, a maior parte dos alunos eram imbecis (incluo-me nessa). Some isso ao fato da aula ser grátis - convenhamos, é difícil levar algo que não te fere o bolso a sério -, poucos saíram de lá com qualquer conhecimento. Os alunos que já sabiam cozinhar usavam aqueles que não sabiam para fazer o trabalho desagradável, cortar cebolas, descascar batatas, picar cenoura, alho e por aí vai - era o que eu fazia, não era minha vontade, mas os olhos verdes da moça que me pedia para fazer esse serviço me hipnotizavam. Então, na hora de cozinhar de verdade, algum imbecil gritava: - Truco! - e nos reuníamos à mesa até que servissem o prato, magicamente, pronto. Foi uma bela perda de tempo, mas a culpa foi toda minha. 
 
 
Mas esse texto não é sobre culinária e sim sobre restaurantes. Em Itajaí, devo dizer que me tornei uma espécie de pioneiro do paladar. Um restaurateur da classe operária, por assim dizer. Almocei em basicamente todos os restaurantes self-service da cidade, conheci os padrões, as combinações diárias, variações semanais, preço por quilo, acompanhei as mudanças, frequentei inaugurações, fiz indicações e resenhas verbais, descobri os melhores horários para evitar filas e como conseguir uma mesa independente da situação, além de breves análises sociológicas sobre o tipo de ser humano que frequenta esses ambientes.  Isso me permitiu desenvolver uma espécie de código de ética. Não etiqueta, etiqueta é para senhoras frescas que dedicam a vida a segregar garfos e facas, enquanto ingerem uma refeição do tamanho do meu punho, subdividida em cinco pratos. Não é sobre isso que esse texto trata, mas sim sobre normas de comportamento social, não escritas em legislação, mas que deveriam sujeitar a punição o sujeito que as quebra.
 
 
Peço que o leitor visualize uma fila de quilo ao meio-dia e quinze. Sim, meio-dia e quinze, não meio-dia em ponto. Meio-dia em ponto é quando os funcionários dos grandes prédios comerciais estão se matando por um espaço no elevador (que por sua vez será o tema de minha próxima história), os quilos ainda não estão lotados nesse horário (lembrando que esse guia somente é válido para Itajaí e cidades de tamanho igual ou menores). Os quinze minutos são um detalhe essencial, pois é quando as pessoas começam a chegar, em manadas, nos restaurantes; quando a fila começa a sair do restaurante e tomar conta das ruas. É nesse tipo de situação que se baseiam as primeiras regras:
 
 
Regra 1: Nunca vá até um conhecido bater papo só para furar a fila.
Isso acontece com uma frequência assustadora. Um cretino decide conversar com aquele amigo do colegial que ele não via faz dez anos. Por acaso, o tal amigo está quase alcançando a pilha de pratos em frente à comida. Ele não quer falar com o amigo, nem se lembra dele. O único objetivo do cretino é entrar na frente de todos. Não se intimide de constranger uma pessoa assim, mesmo que para isso seja necessário incitar uma revolta. Gente assim merece a cadeira elétrica.
Regra 2: É proibido guardar lugar. Se uma pessoa não está com você na fila, ela não está na fila.
Regra 3: Mantenha uma distância razoável da pessoa em sua frente, mas não deixe que uma distância maior que um braço se abra. Use o bom senso, do contrário pode-se considerar que você abandonou a fila.
Regra 4: Sempre pegue o prato do topo da pilha.
 
 
Essas são as regras da fila. Deve ter mais coisa, mas isso pode ser revisado um dia. Vamos avançar para o principal. Você não está mais na fila, tem um prato e talheres em mãos. Chegou a hora de se servir.
 
 
Regra 5: Não pense. Você sabe o que é a comida, pegue-a ou deixe-a. Tem dezenas de pessoas famintas atrás de você, respeite isso. Se você não respeita as pessoas, respeite a fome. A comida não vai falar com você, nem muito menos vir andando ao seu prato, se quiser decidir vá ao restaurante à la carte.
Regra 6: Não devolva a comida. Tocou seu prato, é seu, ponto final.
Regra 7: Não olhe pra trás. Se você deixou passar alguma comida específica e uns passos a frente mudou de ideia - tarde demais. Siga em frente com a vida ou volte para o fim da fila.
Regra 8: A comida disponível não é só sua, ela tem que alimentar toda a fila até a reposição. Limite seus instintos animais. Não carregue consigo todos os doze filés de frango. Em uma utopia, a quantidade de comida seria regulada.
 
 
Na hora de pesar e escolher a bebida:
 
 
Regra 9: São três etapas simples - pôr o prato na balança, pesar, retirar o prato da balança. Não é tão difícil.
Regra 10: Pense na bebida enquanto estiver na fila, depois disso, siga a regra 5.
Regra 11: Em todas as etapas, mantenha movimento. Essa é a chave para todas as filas - se é possível seguir, siga.
 
 
Essa parte é delicada. Escolher a mesa.
 
 
Regra 12: Nenhuma das mesas tem um prêmio escondido debaixo da cadeira. Não tem porque passar horas de pé pensando, se você vir uma mesa vazia, pegue-a.
Regra 13: Não deixe sua carteira, capacete de moto, celular ou qualquer outro pertence em uma mesa, enquanto estiver na fila. Em uma utopia, esses itens seriam considerados abandonados e passariam a pertencer àquele que pegasse a mesa primeiro.
Regra 14: Você está sozinho ou com um acompanhante, fique longe das mesas para quatro pessoas, exceto que essas sejam as únicas disponíveis.
Regra 15: As cadeiras vazias de sua mesa podem e devem ser ocupadas por qualquer um, caso todas as mesas estiverem cheias.
Regra 16: Se o restaurante estiver cheio e você tiver que se sentar com um desconhecido, peça permissão.
Regra 17: Quando uma pessoa pedir permissão para se sentar com você e o restaurante estiver cheio - aceite.
Regra 18: Nunca se sente com um desconhecido se ainda houver uma mesa vazia.
Regra 19: O primeiro a pegar a mesa é seu dono até que este termine sua refeição.
Regra 20: Evite conversas ou mesmo contato visual com o dono da mesa.
Regra 21: Ao dono da mesa é reservado o direito de ignorar qualquer um que a ele dirija a palavra.
Regra 22: Se seu prato e sua bebida estão vazios. Saia. Vá para casa, vá para o trabalho, vá para a rua, vá para a puta que te pariu, mas desocupe a mesa.
 
 
Acho que é o suficiente. Cobre os principais momentos, da fila até o fim da refeição. O código não é fixo e, a todo o momento, algo pode ser adicionado a ele. Retirado, somente se seguido de devida argumentação. Sigam as regras e até a proxima história com o Tio Rapha.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Meu Primeiro Livro (Hora da História com o Tio Rapha)

O leitor que acompanha essa bagunça que eu insisto em chamar de blog, sabe que eu sou um contista irregular, poeta ruim, cronista medíocre e romancista indeciso, ou seja, de tempos em tempos fico sem material e preciso improvisar fazendo resenhas apressadas e criando colunas que, por mais que eu diga que são contínuas, nunca voltam. Por isso eu me recuso a criar um cronograma - não consigo trabalhar com prazos e não acho que ninguém aqui se importa.
Decidi então criar, depois de escrever meus sonhos, tentar fazer um conto com temática medieval e me aventurar com haikai, a "Hora da História com o Tio Rapha". Por que Tio Rapha? Porque todos me chamam de Rapha, mesmo eu não gostando que homens me chamem assim, e o tio dá um toque de sabedoria. Lembro-me da primeira vez que fui chamado de tio. Estava saindo do cinema, com um grupo de amigos. Creio que tinhamos acabado de assistir o Motoqueiro Fantasma - e que filme horrível foi este -, estávamos rindo das cenas e ridicularizando o Nicolas Cage. Eu tinha dezesseis anos (isso foi em 2007, acho eu), estava começando a desenvolver minha arrogância cinematográfica. Não eram bons tempos, mas eu era jovem e pensava ter um futuro pela frente. Um futuro que não se baseasse em escrever devaneios e memórias em um blog visto por ninguém e, ao mesmo tempo, agindo como se fosse lido por vários, ou pelo menos tivesse um certo "cult following". Ela deveria ter uns catorze anos no máximo. Loura, magra e maquiada como uma pré-adolescente. Andava despreocupada a passos desajeitados e risos juvenis, segurando o braço da amiga que era como uma imagem do espelho, um pouco maior e mais cheia talvez. A mais bonita entre as duas cutucou meu ombro distraído pelos comentários sarcásticos que fazia sobre o filme risivelmente ruim. Sério, já falei que o filme foi ruim?
Viro para trás e sua aparência me surpreende. Quero saber se a conheço de algum lugar ou por que ela me chamava. Então ela diz: - "Tio, que horas são?" E eu respondo: -"Tio? Que história é essa! Tá bom, são nove e meia." Tio... Naquele momento, pensava que ela tinha a minha idade. Hoje penso que ela deveria ser mais nova, mas não sei, pode ser que fosse a noite, embora aquela rua fosse iluminada o bastante. Virei lentamente de volta para os meus amigos que seguravam o riso. Tinha de haver uma explicação para ela vir falar comigo e não era minha simpatia. Mas o tio foi de lascar.
Eu me perdi completamente nessa história, sobre o que eu ia falar mesmo? Sim! A coluna nova - Hora da História com o Tio Rapha.
A ideia aqui é falar sobre um assunto qualquer. Uma lembrança, um tema, um livro. Sem aquele tom de resenha, crônica ou ensaio. Só uma conversa. Ver se eu consigo atrair algum leitor usando um tom mais pessoal e amigável. Mas acho que é melhor eu ir direto ao tema de hoje, se não esse post fica quilométrico.
Queria falar sobre meu primeiro livro. Não o primeiro que fui forçado a ler ou que alguma tia me deu e eu atirei para o canto com desinteresse. O primeiro que eu escolhi e disse, "vou ler esse filho da puta."  Li, fui até o fim e gostei. O suficiente para ler outro e outro e por aí vai.
Para minha vergonha, já estava relativamente velho quando perdi a virgindade literária. Tinha lido outros livros, é verdade, mas por obrigação escolar, o que, em termos sexuais, equivale a punheta, ou seja, não conta. Minha primeira vez foi com Misto Quente do velho Bukowski. Li em e-book, em inglês, nos momentos de ociosidade do trabalho, no computador da empresa. Tinha começado a trabalhar lá fazia pouco tempo, então não era muito ocupado. Li o bicho em três dias. Nunca tinha lido nada tão rápido na minha vida. Estava impressionado com o estilo e a sinceridade do autor. A verdade é que eu não sabia que livros assim existiam. Conhecia apenas os pólos opostos - clássicos escolares e livros juvenis (hoje conhecidos como YA) e nenhum dos dois me agradava na época (hoje gosto e entendo os clássicos, pelo menos alguns). Depois segui para Cartas Na Rua e Factotum, o último em livro físico, pois a tela de computador passou a me dar nos nervos, e na tranquilidade de casa.
Misto Quente, pra quem não sabe, é um romance de memória ficcional (como quase todos do Bukowski), que fala sobre o desenvolvimento de Henry Chinaski, da infância ao começo da idade adulta. As principais descobertas do homem - mulheres e álcool. A frieza do mundo, o abandono e a "mediocrenização" - a forma que a sociedade conspira para destruir qualquer sinal de individualidade que resta em um ser humano, com o objetivo de torná-lo parte da máquina - e a revolta contra isso. Um livro inspirador que, se eu tivesse conhecido durante a adolescência, teria mudado tudo - talvez nem tivesse me incomodado por ter sido chamado de tio.
Buk mudou minha vida. Se não tivesse passado por ele, talvez passasse a vida sem livros, o que seria triste. Sugiro a todos que nunca o leram ou nunca leram na vida, vale cada palavra de cada página.
Gostei dessa "coluna", provavelmente seguirei com ela no futuro. Espero que vocês, minhas centenas de leitores diários, tenham gostado também, o suficiente para comentar e falar sobre sua primeira vez literária. Talvez continue com aquela coluna sobre os sonhos... O problema é que, justamente quando eu me propus a escrever algo assim, parei de me lembrar dos meus sonhos ao acordar. É carma, eu sabia que algo assim ia acontecer. Bom, chega por hoje.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Norwegian Wood - O filme e uma leve comparação com o livro.


Sugiro a todos que, antes de lerem essa resenha, busquem a resenha do livro, que fiz não faz muito tempo. Não pretendo retornar em conceitos básicos do roteiro, isso já foi feito, se você não viu o filme, não leu o livro, não leu minha resenha do livro, mas mesmo assim quer ler e entender essa resenha (qual o seu problema?), pesquise sobre no tio Google. Não quero ficar repetindo coisas.

Ontem a noite assisti a adaptação para o cinema de Norwegian Wood, lançada em 2010 no Japão, em 2011 nos EUA e nunca no Brasil. Dirigido pelo vietnamita Ahn Hung Tran, conhecido em concursos da Europa, mas não por mim - esse é o primeiro filme dele que vejo. Tampouco conhecia o elenco, mas fiquei bem feliz com as performances. Estava curioso para assistir uma adaptação de um filme do Murakami, é bem possível sentir esse lado cinematográfico nas histórias dele e algumas influências do cinema europeu tradicional e um pouco de Woody Allen. Esperava alguma coisa assim nesse filme e foi mais ou menos isso, no entanto, com algumas complicações.

Antes de tudo, o filme é um espetáculo visual como todo o cinema asiático parece se esforçar em ser. As luzes, as cores, o ambiente, tudo perfeitamente escolhido conforme o clima que a cena quer oferecer. Nesse quesito, se estivesse resenhado uma obra de arte puramente visual, receberia a nota máxima. Contudo um filme precisa de roteiro. É aí que começam os problemas.

O livro Norwegian Wood é uma extensa obra de mais de 350 páginas, com poucos personagens relevantes, mas todos com um desenvolvimento fenomenal, começo meio e fim. Não esperava que isso fosse perfeitamente representado no filme. Primeiramente, gostaria de avisar que não sou desses que criticam com fúria adaptações de livros. esse é um trabalho extremamente complexo. O livro não sofre com o mesmo número de restrições de um filme. O livro para ser escrito só precisa das palavras e ideias de seu autor, publicação e outros detalhes acontecem depois de o livro estar pronto. O filme pode ser pensado e escrito, mas precisa de um puta investimento para sair do papel e para conseguir isso, ele precisa ser vendido para alguma produtora. Livros passam por isso, mas as editoras me parecem bem mais abertas que as produtoras de cinema. No cinema detalhes como, tempo de duração, drama rentável e toda essa bobagem, devem ser respeitados. Nesse caso decidiram fazer esse filme em apenas duas horas. Sinto informar-lhes, mas não é possível.

A trama é tão mal-cortada e desorganizada que qualquer um que não tenha lido o livro, não vai entender uma cena sequer. Nenhum personagem passa por um desenvolvimento em cena, é tudo presumido. O Nazista, um personagem muito interessante no livro, aparece no filme, mas seu nome não é mencionado, suas peculiaridades são reduzidas a duas linhas desconexas de diálogo e, sem mais nem menos, o personagem, assim como no livro, desaparece. Isso tem efeito no livro, pois nós fomos apresentados ao personagem, nos relacionamos com ele e nos acostumamos com sua presença. No filme, sua existência é um grande foda-se. Se ele nem aparecesse na história talvez fosse melhor. O problema é que não é só o secundário "Nazista" que passa por isso. Todos sofrem esse problema, até os protagonistas. Em muitas cenas o espectador desavisado vai encarar a tela com um profundo olhar de confusão, porque algo está acontecendo, algo que até parece fazer sentido, mas é completamente incoerente ou mal-explicado. Imagino que o roteiro deva ter sido muito maior originalmente (ninguém consegue ser tão ruim assim em seu trabalho), além do mais, toda a equipe é competente, por que logo o roteirista não seria? O roteiro deveria ser ótimo, mas algum produtor o cortou em pedaços para que ele se encaixasse nas malditas duas horas. Honestamente, um filme assim nem precisaria existir.

Outro defeito é a trilha sonora. Em todos os livros do Murakami música é algo fundamental, sempre tem algum disco de jazz tocando em algum lugar em suas cenas. Norwegian Wood recebe seu nome por causa de uma música. Repito, música é fundamental nessa história. Não sei se eles não conseguiram os direitos autorais ou coisa assim, mas nenhuma das músicas citadas no livro aparecem no filme, exceto por um pedaço de Norwegian Wood, contudo, a história por trás da música não é explicado, então que se foda. A trilha que eles realmente usam, não é tão ruim. Embora não seja a mesma do livro, combina, na maior parte das cenas, com a história. No entanto, em alguns trechos, a música utilizada me fez sentir que um assassino iria aparecer em alguma cena, de preferência em um hospital escuro - essa faixa me confundiu profundamente.

Confundir, tá aí o verbo que resume o filme. Todas as cenas parecem se esforçar para confundir por completo o espectador. As cenas do livro são fiéis, mas completamente soltas e sem explicação. Para quem leu o livro, esse filme é uma experiência incompleta e insatisfatória. Para quem não leu, o filme não é experiência alguma, apenas um conjunto de cenas bonitas e coloridas e sem sentido algum.  Imagina que um cidadão afobado e com alguma deficiência de atenção, que você nunca viu na vida, aparece na sua frente e te conta a história desse livro, mas como ele está com pressa, fala muito rápido para cobrir a coisa toda em cinco minutos - o filme é mais ou menos isso. Não recomendo a ninguém, mas não culpo os envolvidos. O filme me cheirou a corte de produtora gananciosa, mas não posso provar nada. Talvez tenha sido realmente incompetência, darei o benefício da dúvida.

Nota: 2,0/5,0 (somente pela atuação e visuais, se não seria 0 mesmo)

domingo, 4 de novembro de 2012

Norwegian Wood - Haruki Murakami



Não queria resenhar livros de um mesmo autor em sequência, creio que isso deixaria minhas resenhas previsíveis e desagradáveis para o leitor. Acontece que eu não planejo essas críticas, não planejo os filmes, os discos ou os livros. Simplesmente resenho aquilo que li, ouvi e vi - não necessariamente tudo, mas aquilo que é resenhável. Esse é o caso. Acabo de ler Norwegian Wood. Comecei sexta, achei que levaria mais tempo, mas esse livro é incrivelmente rápido, mais ou menos como a vida universitária - não sei se foi o objetivo, mas parabéns ao Muraka por gerar esse impressão, afinal, como ele é famoso por seu ritmo, lhe darei crédito independentemente.

A história é sobre Toru, um jovem universitário. Seus encontros, desencontros, amores, felicidades e tristezas. Ele se apaixona por Naoko, namorada de seu melhor amigo Kizuki, que por sua vez se suicida aos 17 anos, formando todo esse quebra cabeças afetivo que é o tema do livro. A música favorita de Naoko é Norwegian Wood, dos Beatles (excelente música por sinal). Toru a ouve, muitos anos depois dos acontecimentos desse livro, em um aeroporto, em versão orquestrada, o que lhe traz todas as memórias de sua juventude.

Além de Naoko, Toru se encontra com Midori (que personagem fantástica!), companheira de sala que acaba se envolvendo com ele, complicando ainda mais essa tragédia moderna. Tragédia que, "por coincidência" é o tema de estudos dos jovens - Sófocles, Eurípides, sabe?

Em geral o livro é sobre perdas. De pessoas, amores, juventude, até a vida. Todo tipo de perda ou, mais exatamente, transição, pois como o narrador define, morte não é necessariamente a perda da vida, mas sim parte dela. Mostra a difícil transição da juventude para a vida adulta, esse período entre os 18 e 20 anos, que, diferentemente da adolescência - que simplesmente acontece -, é uma transição escolhida e, muitas vezes, forçada e confusa, embora necessária.

As referências à cultura pop e o humor sutil e peculiar são os pontos fortes do romance, que fazem com que história não se torne um poço de depressão, até porque o objetivo da história é justamente esse - mostrar que, nesse mundo imperfeito de pessoas imperfeitas em que vivemos, merda acontece, e por mais cruel que isso possa parecer, essa merda deve ser superada. É difícil, mas não há nada que sexo, jazz, uísque e viagens não ajudem a esquecer.

Fizeram um filme sobre esse livro. Pelo que vi no trailer, ele é visualmente fantástico - como tudo que os orientais fazem. Não sei se é tão bom, mas irei vê-lo e, quem sabe depois faça um comparativo.

Vamos, então, aos resultados do Bingo de Murakami para Norwegian Wood: ear fetish - dried-up well - cats - old jazz record - train station - precocious teenager - cooking - weird sex (tive problemas para definir o que é estranho para os padrões do autor, mas acho que entendi) - tokyo at night

Passei o livro todo esperando algo desaparecer, mas não aconteceu. Deve ter sido o efeito de "Minha Querida Sputnik". Tampouco sei o que é um nome estranho para japoneses, por mim todos são esquisitos - tal como Raphael deve ser bizarro pra caralho para eles...

Agora gastarei o dinheiro que não tenho para comprar Kafka a Beira Mar (pelo que ouvi é o melhor) e Após o Anoitecer. Depois digo o que eu achei.

Obs.: Isso não vai afetar a nota, pois a culpa é dos tradutores e revisores, mas a edição da Alfaguara vem com três belos erros de concordância, os quais não marquei, mas são bem visíveis durante a leitura. Não prejudica o entendimento, mas é feio pra cacete, viu Alfaguara (Objetiva)!

Nota: 5,0/5,0



Não é linda a música?


Esse é o trailer do filme.