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sábado, 22 de setembro de 2012

Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany's) - Livro x Filme


Deixe-me lhes contar sobre como se deu início o meu fascínio, ou tara, pelo olhar feminino. Tinha quinze anos quando a conheci, uma garota espetacularmente linda. Ela era loura e pequena e tinha um sorriso hipnotizante, constante e fixo. Ela era tudo isso, e o leitor terá que me perdoar as imprecisões, mas não a vejo faz quatro anos. Ela costumava sentar-se em minha frente na sala de aula e, durante as aulas de física, começaríamos uma disputa imutável de jogo da velha - que sempre terminava em empate -, e me olhar com aquelas janelas azuis - ou seriam verdes? Minha memória não tem mais quinze anos infelizmente - curiosas e exploradoras. Sentia que ela poderia me pedir qualquer coisa, tirar qualquer coisa, descobrir qualquer coisa, olhando-me daquela maneira. Infelizmente eu era muito estúpido, na época, para compreender e muito tímido para aproveitar. Meus momentos com ela são os maiores arrependimentos da minha vida, e fique sabendo que eu não sou um desses idiotas que saem por aí dizendo não ter tristezas ou arrependimentos - só os vegetais e as crianças eternas não se arrependem. Hoje essa história é só uma bela memória, e o olhar dela foi logo substituído por outro, que foi substituído por outro, e outro por este. Só me resta a marca mental que ela me deixou, a marca que toda a grande mulher deixa em um homem, quando parte.

Holly Golightly é uma dessas, se não a grande mulher da literatura internacional. A mulher que escraviza, tortura e fascina o narrador - o aspirante a escritor, o qual Holly chama de Fred (nome de seu irmão) - e uma série de outros homens. O livro de 1958, conhecido no Brasil por Bonequinha de Luxo (Truman Capote), virou filme em 1961, dirigido por Blake Edwards.

Vi o filme antes de ler o livro, e sugiro a todos, que se interessarem pela história após essa resenha, que façam o mesmo. O filme é excelente, no entanto, se visto após a leitura do livro, vira um lixo, o que é uma pena, considerando que Bonequinha de Luxo, o filme, é uma experiência fascinante, graças a bela atuação de Audrey Hepburn (pra mim, a mulher mais linda que já existiu. Sério, tente encarar a foto no começo do post e não se sentir paralisado) e o roteiro bem executado, leve, mas sem cair no padrão das comédias românticas. Quase como um Roman Holiday, exceto que este não é uma adaptação de romance e é bom independente das circunstâncias.

O livro, como sempre, é extremamente superior ao filme. Tanto que torna o que, de outro modo, seria uma experiência cinematográfica interessante, em um romancezinho pretensioso e mal executado. Após ler o livro, a única coisa que me pareceu aproveitável no filme foi a cena inicial, com Audrey Hepburn saindo de um táxi, ou seria limousine, com um saco que contém seu café da manhã, caminhando lentamente em frente as vitrinas do Tiffany's, mordiscando seu sanduíche de forma melancólica. É uma excelente apresentação de personagem e, se o filme se mantivesse fiel ao livro em todos os momentos, hoje seria um dos melhores da história do cinema.

Infelizmente estamos falando da década de 60. A personalidade literária de Holly, criada por Capote, é polêmica até nos dias de hoje. Uma moça livre, tanto pessoal, quanto sexualmente, que não vê no homem um protetor, ou um parceiro, mas um meio para alcançar o estilo de vida que ela desejava. Ainda assim, não tão superficial a ponto de achar que o que ela faz é ideal. Somente não acredita no ideal. A curiosidade de Holly quanto ao homossexualismo é completamente apagada, embora as referências ao possível desejo incestuoso com relação ao seu irmão seja mantida, embora de forma bem mais sútil. Na realidade, todo o homossexualismo foi apagado, inclusive do protagonista, que de acordo com o próprio Capote, era gay, mesmo o livro não explorando esse lado. Se o filme não explorasse esse lado tampouco, não haveria problema, mas parece que os responsáveis pela adaptação queriam modificar o narrador por completo.

Existia no livro, um interesse romântico entre o narrador e Holly, mas era um tanto relutante e surpreendente para ele. Enquanto na adaptação ele é uma espécie de gigolô, sustentado por uma senhora rica, e não só se apaixona por Holly, como também... não vou dar spoilers, está decidido.

Muitas pessoas que leram o livro, não gostaram da interpretação de Audrey para Holly, nem mesmo Capote, que via sua amiga Marilyn Monroe no papel. É verdade que a personalidade de Marilyn é mais compatível com a personagem, contudo, o jeito, a delicadeza, a simplicidade e a beleza humana de Audrey me convenceram de que a interpretação não foi ruim, toda a falha é de responsabilidade do roteirista e da época. Não vou entrar no mérito de qual atriz seria melhor, pois não poderia ser imparcial. Acho que ambas fariam um trabalho igualmente interessante, em suas diferenças.

Se você for um desses idiotas que precisa ter os genitais de seus sentimentos esfregados a todo o instante, somente veja o filme e ignore o livro. Se você estiver atrás de uma excelente história e experiência cultural, veja os dois, mas o filme primeiro.
 
Nota: livro: 4,5 / filme: 4,0 (antes da leitura); 3,0 (depois da leitura)


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Sirva o exército, menino!

“Todo jovem, ao completar dezoito anos, deve se direcionar ao posto militar de sua cidade e cumprir com o alistamento obrigatório”.

Quem nunca, na infância ou na juventude, sentiu calafrios ao ouvir essas palavras na televisão e no rádio. O exército foi uma de minhas fobias de criança, com aquelas propagandas em que um homem uniformizado e autoritário, gritava palavras incoerentes sobre responsabilidade e amor à pátria para uma fileira de jovens. Não entendia realmente como funcionava aquilo e quando perguntava aos meus pais, ouvia sempre que meu pai fora dispensado por excesso de contingente, e meu avô por ter pés chatos – esse último caso geralmente era complementado pela minha mãe observando que “meus pés eram bastante côncavos”. Aos seis anos de idade, eu não fazia ideia do que significavam essas palavras, contingente, pé chato, pé côncavo, mas formava, ainda assim, suposições infantis e surreais das quais hoje já não me recordo.

Quando eu atingi a maioridade e tive que me alistar, juro que estava tão ocupado com outras preocupações, que só parava para pensar que aquele era o ano do exército quando tinha que fazer algo relacionado a isso. Estava sozinho, tinha acabado de me mudar para um apartamento em uma cidade distante da minha terra materna, começado uma faculdade e um emprego. Meus devaneios pertenciam a essas preocupações – os novos gastos, a família distante, os amigos abandonados, a namorada perdida, os horários corridos, ocupavam minha mente mais do que qualquer outra coisa. Na verdade, lembro-me que nessa época, minhas esperanças estavam em um pedaço de legislação que havia pesquisado no ano anterior que dizia, mais ou menos, que pessoas com ideologias filosóficas ou religiosas contrárias ao exército poderiam ser dispensadas. Era simples, no dia do alistamento, diria a pessoa responsável pelas inscrições que sou pacifista e, portanto, deveriam me liberar. Criei coragem e, no dia do alistamento, disse exatamente isso à atendente, que me respondeu com um sonoro “e...?”, enquanto me intimidava com um olhar de nojo, esperando que eu reagisse de alguma forma. Gaguejei um pouco, mas respondi que a lei mencionava que pessoas de ideologia religiosa ou filosófica contrária ao exército, poderiam ser liberadas. Ela me olhou como se não tivesse entendido e disse que aquilo só era válido para adventistas.

Acreditei naquela exceção. Poderia não ser verdade, mas, considerando as liberdades que os adventistas andam recebendo, era muito possível que eles sejam os únicos com o poder de receber dispensa automática do serviço militar. Aparentemente, eles fossem os únicos pacifistas oficiais do Brasil, mas isso é outro assunto.

Não tinha jeito, tinha que me alistar, no entanto isso não significava nada. Teria que esperar uns meses, me direcionar novamente até a secretaria do exército – que ficava a uma considerável distância da minha casa – para que me informassem se eu tinha sido selecionado para a segunda fase, que consistia de uma série de testes que eu logo lhes direi quais foram.

O dia dos resultados chegou logo, mas a essa altura eu já sabia que teria que fazer todos os testes, seguir até a última etapa antes da dispensa. Não tinha nenhum motivo para pensar assim, entretanto me parecia bastante óbvio que eu teria que seguir por todas as etapas. A secretaria era uma sala pequena, com aparência antiga e duas mulheres de meia-idade atendendo com um humor condizente a aparência. De vez em quando, um homem uniformizado passava e gritava instruções para as senhoras, tive medo que aquilo se tornasse minha vida – ouvir gritos de um idiota. Na parede tinha um quadro pendurado e orgulhosamente moldurado com os dizeres do juramento a bandeira. Devo ter lido compulsoriamente aquele quadro três ou quatro vezes enquanto aguardava os jovens que, antes de mim, recebiam suas condenações. Ao meu lado estava outro rapaz, acompanhado do pai orgulhoso por ter um filho que desejava seguir carreira militar. Sabia disso, pois ele não parava de falar sobre como o exército lhe foi uma experiência magnífica, como era importante o exército para ensinar responsabilidade a um jovem e toda uma série de coisas que, depois de algum esforço, consegui ignorar, graças à placa do juramento que me servia como chama de vela para meditação. A cada frase ele dava um tapa no ombro do filho, que sorria olhando para o pai como para uma estátua divina de Ho Chi Mihn.

Dirigimo-nos, eu e o orgulho do papai, praticamente ao mesmo tempo, à mesa em que se encontravam as duas senhoras, que naquele momento, já pareciam estar mortas. Eu recebi um papel que dizia que eu fui aprovado para a segunda fase, com o endereço do local onde seriam realizados os testes para a aprovação final. Não me surpreendi, até que ouvi choro. Ao meu lado, o aprendiz de soldado chorava, dizendo:

- Mas por que não, senhora? Eu quero me alistar! Eu quero servir à pátria! – algo me levava a crer que o pai da figura, ao ouvir estas palavras, teve o orgasmo mais bizarro de sua vida.
- Desculpe menino, mas não a nada que possamos fazer. – gritava o uniformizado, que surgiu do nada ao ver o choro do menino-modelo.
- Mas é o meu sonho... – seu pai teve orgasmos múltiplos, e o uniformizado uma indiscreta ereção, eu imaginava.
- Você estuda, meu jovem? Faz faculdade? – indagava o uniformizado.
- Engenharia naval - fungou e enxugou os olhos.
- Então! Vá estudar, aproveite a juventude. Essa sua faculdade vai te permitir um cargo bom no exército, caso você queira mesmo seguir carreira no futuro.

Enquanto esse diálogo acontecia, eu me direcionei ao cadáver que me atendia e sussurrei:

- Vocês não podem dar a minha vaga para esse coitado?

Ela não me respondeu. Só me olhou com reprovação e desgosto, o que me silenciou até o fim do processo. Por algum motivo, eu esperava um sim ou um riso, mesmo que isso fosse totalmente fora da personagem que a atendente interpretava.

Era isso. Eu, um estudante de comércio exterior, fisicamente inapto, contrário ao exército e indisciplinado, “roubei” a chance de um futuro engenheiro naval, responsável, amante do exército e com sérios problemas psicológicos (esse último é uma adivinhação minha). Qual é o critério dessa seleção? A intenção é gerar uma nova geração de soldados competentes ou simplesmente ser um grande inconveniente para o “pós-adolescente” avesso à vida de soldado? Restava-me aguardar os testes e o resultado final.

Naquela época eu era relativamente novo na cidade. Conhecia os lugares que eu frequentava, mas os nomes de rua e bairros para mim eram outro idioma. Ao ler o endereço, precisei buscar um mapa na internet. No grande dia, o imprimi e sai pelas ruas com ele, às cinco e meia da manhã (o teste era às oito, mas tinha medo de me atrasar), fazendo consultas a cada esquina, para garantir que estava no caminho certo. Já no meio do caminho, percebi que havia um erro na impressão e estava seguindo o caminho errado o tempo todo. Procurei pedir informação, mas é difícil falar com as pessoas antes das seis. Aproximei-me de uma varredora e lhe pedi informações, ela me indicou para a direção contrária a que estava seguindo. Chegando ao local onde deveria ser, - de acordo com a varredora - a base da Marinha (única possibilidade de alistamento em Itajaí) na qual se realizariam os exames, não encontrei nada que pudesse me servir de indicação. O único ponto de referência que tinha era o Mercado Público, que eu não sabia onde ficava e nem a varredora que eu abordara antes. Falei então, já depois das sete, com outra varredora, as únicas pessoas dispostas a ajudar no período da manhã em Itajaí. Essa sabia onde ficava o tal Mercado Público e, com o seu sotaque peixeiro irritante, disse:

- Vish nego! Pra chegar no Mercado Público tens que ir toda vida reto na direção da Igreja Matriz. Aquela igreja lá longe, ‘tas vendo?

Eu via a igreja. Ficava longe, mas era enorme, então servia de ponto de referência na cidade, independente de onde se estivesse. O que me irritou foi que, no momento que falei com a primeira varredora, estava razoavelmente próximo da igreja. Como poderia ela não saber onde ficava o Mercado se estávamos tão próximos dele? “Ela quis foder com a minha vida!” – pensei. Mas pouco importava, tinha que percorrer um longo caminho e não me restava muito tempo.

Consegui chegar as cinco para as oito, na praça onde fica a igreja. Encontrei um grupo de taxistas e perguntei em que direção ficava o Mercado Público. Um deles me direcionou para uma rua pela qual eu segui, até perceber, no meio do caminho, um homem vestido com o uniforme do exército e cabelo raspado. Perguntei se ele era da Marinha e ele afirmou. Acompanhou-me até o local do exame. Já estava uns quinze minutos atrasado, mas aparentemente não importava. Fui recebido por um marinheiro que perguntou se eu estava lá pelo alistamento obrigatório. O cansaço da caminhada de três horas me deixou razoavelmente hostil. Não ajudou que, para diminuir minhas chances de aprovação, no dia anterior eu fui ao mercado e comprei uma garrafa de uísque qualquer para me embriagar (isso sim deveria ser o dever de todo o jovem ao cumprir dezoito anos), só para fazer os exames de ressaca. “Onde está o Mickey, Pato Donald?” – pensei em responder, mas tive medo que ele fosse uma das autoridades que é crime desacatar. Então simplesmente afirmei e o segui até a sala de espera, na qual se encontravam dezenas de jovens que aguardavam seu nome ser gritado por outro uniformizado, que ficava em frente de um computador anotando as informações dos examinados.

Esse processo seria muito mais rápido se o militar em questão soubesse usar mais de um dedo para digitar. Por isso meu atraso foi irrelevante. Cheguei lá às oito e vinte, mas só fui chamado depois das nove.

Começou o tal teste. Fomos encaminhados para uma espécie de sala de aula, com carteiras e quadro negro. Lá um marinheiro, de cargo superior ao pato Donald da recepção, gritava instruções. Ficava imaginando o quanto o governo não gastava com pastilhas para a garganta para os soldados.

- O teste se divide em: um exame vocacional e intelectual, um exame físico e uma entrevista. O exame intelectual se divide em testes de lógica, matemática e engenharia mecânica.

Ao ouvir isso, lembrei-me do engenheiro naval e de como ele seria muito mais apto para tais testes do que eu, um simples auxiliar de exportação de uma firma de despacho aduaneiro. Até que eu li a prova e vi que pouco importava a aptidão do candidato. Qualquer um que tivesse passado pelo ensino fundamental, talvez nem isso, conseguiria fazer estes testes. Queria muito errar as questões, mas tinha medo que minha tentativa se tornasse óbvia. Tive que disfarçar e fazer parecer que os erros eram um acidente. Contudo, não deveria me preocupar com isso ainda. Primeiro teria que completar o exame vocacional. Já tinha feito um desses, o resultado foi “algo na área de humanas ou gestão”, nada nem sequer remotamente similar à militar.

Até hoje questiono a lógica daquele teste vocacional. Tínhamos uma série de quadros ilustrados indicando cada uma das possíveis áreas de atuação de um militar, com isso, marcávamos aquela que nos parecesse mais agradável. Um dos quadros tinha como opções: Operador de linhas telefônicas; operador de lança-chamas; mecânico; motorista. – Escolhi operador de linhas telefônicas, não sabia quais eram as funções, nunca operei uma porra de linha telefônica, mas estava escolhendo sempre a opção mais distante do serviço militar regular. Em outra questão dessa série, marquei que gostaria de ser médico, afinal todo o assistente de exportação que se preze, sabe realizar cirurgias emergenciais.

O maior dos insultos foi o exame intelectual e lógico. Principalmente por causa do fiscal da sala, que nos ficava rodeando e pressionando, como se aquele fosse o teste mais difícil concebível pela humanidade. Não vou falar sobre o teste de lógica, pois até hoje não o entendi, mas o tal teste intelectual foi, possivelmente, o mais fácil que eu já vi em toda a minha vida. Tão fácil, que o mais difícil era escolher uma opção errada que não parecesse tão forçada e levantasse suspeitas das minhas tentativas de forjar os resultados.

Uma das perguntas tinha o desenho de um balde, nele estavam marcados cinco pontos diferentes, um no topo da alça, e quatro em cada “extremidade”, superior e inferior do balde... balde de metal. O texto era: considerando a imagem abaixo, em qual dos pontos o soldado deve amarrar uma corda para erguer o balde sem derramar uma gota d’água? – Marquei que o ponto correto era o inferior direito. Não sei como amarraria uma corda nesse ponto, já que a corda teria que passar por dentro do balde de metal sólido, mas pouco me importava.

Durante a prova de matemática, o fiscal ficou ainda mais excitado e passou a pressionar os possíveis recrutas ainda mais, dizendo que “matemática é sempre difícil, mas um soldado deve ser rápido durante situações extremas”. A situação extrema, para ele, era o problema “2+5+3-4”, que, para mim, era igual a 14. Terminei a prova com tempo de sobra, o que chamou a atenção do fiscal, mas ainda teria que esperar o resto da sala, até que cada um de nós seria chamado, em grupos de três, para ainda outra sala, na qual seria realizado o exame físico.

Entrei na sala, que mais parecia uma enfermaria com um quadro negro, e, antes mesmo de dizer bom dia, os examinadores, dois homens (provavelmente soldados), exigiram que eu e os outros dois jovens que me acompanhavam, nos despíssemos e ficássemos somente em nossas roupas de baixo. Os outros dois que estavam comigo, cumpriram a lei social que diz: um grupo de homens seminus trancados em um mesmo ambiente não devem fazer contato visual. Ou, pelo menos, eu acho que a cumpriram, não os olhei para verificar. O examinador pediu para que cada um de nós puxasse uma barra de ferro presa a um aparelho que, supostamente, media nossa força. Estava fraco, não tinha tomado café da manhã, e minha cabeça estava me matando por causa do uísque da noite anterior, todos esses fatores devidamente planejados com antecedência. Fiz o máximo de força possível, mas não creio que o resultado tenha sido muito satisfatório, vide os olhares de reprovação que me foram lançados. Nunca havia recebido tantos olhares de reprovação na minha vida como naquela época. Tudo ficou ainda mais estranho quando fomos chamados individualmente para um canto coberto por uma cortina. Lá o segundo examinador fazia uma espécie de inspeção genital no examinado. Toda a movimentação manual era feita pelo próprio examinado, mas mesmo assim, não estava - e ainda não estou - acostumado a manipular meu pênis em frente a outro homem, ainda mais um que nem me deu bom dia. Mas o pior de tudo foi que ele nem me ligou no dia seguinte.

Todo o constrangimento passou, estava sendo direcionado para a última fase dos exames – a entrevista. Fui encaminhado para uma fila, relativamente curta e que se movia rapidamente, ela levava até o escritório do responsável por aquela área da Marinha. Não sei seu cargo, não me importava o suficiente para descobrir. Estava cansado, com fome e me sentindo péssimo, então ficava feliz ao ver que as entrevistas eram breves.

Chegou a minha vez, entrei e recebi autorização para me sentar.

- Seu nome é... Raphael Sal...cedo? É isso? – ele começou, com uma voz firme e desnecessariamente alta.
- Isso mesmo. – todas as minhas respostas foram curtas, cansadas e em voz baixa. Basicamente um oposto ao entrevistador.
- O senhor... Me desculpe a pergunta, mas hoje em dia ela é necessária. O senhor é homem?

Em minha mente se passaram as mais diversas respostas para essa pergunta, entretanto, tudo que eu queria era fazer a entrevista, receber o resultado e ir embora. Queria esquecer de todo aquele dia. Então eu segurei o “depende, na verdade só transo com árvores, e às vezes... elas transam comigo” na garganta, respondi que sim e seguimos em frente. Mais tarde, ao visitar uns amigos em minha cidade natal, ouvi que um deles tinha dito ser homossexual. Ele foi dispensado na hora. A única coisa que lhe disseram ao sair foi: - “Vê se come uma bocetinha um dia desses, rapaz!" – Em retrospecto, deveria ter feito o mesmo, ou mantido minha versão ecologicamente correta.

- Você estuda comércio exterior? Há quanto tempo?
- Comecei esse ano, então, uns quatro meses.
- Muito bom. Tem interesse em se alistar?
- Não. – ele riu da minha resposta rápida. Acho que ele ainda não tinha terminado a pergunta quando eu respondi.
- Vou ver o que posso fazer por você... Sabe nadar?
- Não, senhor.
- Se alistando pra marinha sem saber nadar?! Como assim? – ele parecia indignado pela falta de lógica (eu não o culpo...), contudo, Marinha é a única opção de alistamento em Itajaí, e ele sabia disso melhor que eu. Não apontei a estupidez do seu comentário, novamente, por medo do famigerado desacato, que pode incluir de ofensas verbais até respostas educadas, mas contrárias à vontade da dita autoridade.
- Pois é, senhor.
- Então, com você é só nos cem metros fundos?
- E sem volta, senhor.
 
Estava encerrada a entrevista e, com ela, todo o exame. Voltei à sala de espera inicial, até que um dos superiores de lá apareceu com os certificados carimbados com o resultado. Chamou os nomes daqueles que estariam dispensados, os outros teriam que aguardar por novas instruções. Fui dispensado por excesso de contingente. Não esperava o contrário, acontece que imaginava que iria ser dispensado muito antes. A sequência de surpresas desagradáveis me fez imaginar que teria que seguir o caminho todo e perder um ano da minha vida fazendo seja lá o que for que a Marinha faz.

É a isso que tudo se resume. O Brasil exige que todos os seus homens se alistem aos dezoito anos, mas como este país já é um dos que mais recebe voluntários interessados em seguir carreira, a grande maioria é dispensada. Para quê organizar toda uma série de exames e processos, se já se sabe que de nada serve? É como prestar um vestibular para uma faculdade que já distribuiu suas vagas. Além disso, por que o exército militar brasileiro, mesmo que este não recebesse voluntários o suficiente, precisaria de tantos recrutas? O último grande desempenho brasileiro em guerra foi durante a 2ª Guerra Mundial, e por grande, eu realmente quero dizer quase relevante. É verdade que nossos soldados foram úteis em muitas batalhas, mas a ausência brasileira não significaria a vitória alemã. Todos os recentes esforços do exército para a ocupação das favelas não deveria existir. Ocupar favela é serviço de policial, não soldado, no entanto, como a polícia não está preparada para grandes operações, o governo utiliza o exército como tapa-buraco. Como o Brasil é o país da gambiarra e do jeitinho, não adianta discutir. A não ser que haja uma espécie de Revolução Francesa por aqui nos próximos cinco anos (guilhotina inclusa), não haverá nenhuma mudança nesse sistema. Junto da minha dispensa, recebi o horário, data e endereço do Juramento à Bandeira, independentemente do que se passava pela minha cabeça.

O mais perturbador foi ver de perto a arrogância dos militares. Nunca simpatizei com esse grupo, acho que o mundo seria melhor sem eles. Militar é como um advogado, se a humanidade fosse perfeita, eles não seriam necessários. Durante o juramento à bandeira, fui obrigado a ouvir o responsável pela cerimônia proferir a palavra “civil” mais vezes do que eu escrevi a palavra “exame” ou “teste” nesse texto. Não há problema nenhum com essa palavra. Civis são todos que não fazem parte do exército de um país e, portanto, devem por ele ser protegidos. Além disso, pagam, por meio de tributos, o salário de cada soldado, sargento, general e almirante. O militar é um agente de segurança do governo, que existe para a proteção da soberania e do povo de uma nação, não necessariamente tornando-o superior àqueles cujo seu dever é proteger. A única ocasião em que militar é superior ao civil é durante um governo militar, o que já aconteceu no Brasil e, para não dizer coisa pior, não deu muito certo e, graças a Shiva, terminou. Foi justamente o contrário que presenciei na cerimônia.
 
O homem cujo título eu não me dignei a descobrir, tinha um tom de desprezo claro em sua voz, sempre que nos dizia que aquele momento significava que nos manteríamos como civis. Era possível sentir o nojo em sua pronúncia sempre que ele dizia essa palavra.

Mas de tudo isso, o maior absurdo é que, mesmo depois de tantos anos de opressão em uma ditadura militar - 0pressão esta, de consequências ainda desconhecidas, muitas vítimas ainda não foram encontradas -, o país ainda força seus jovens a fazerem parte dessa instituição que realizou um golpe de estado. E como se não bastasse, desse-lhes autoridade o suficiente, para tratar o povo, seus empregadores, como lixo. Em minha utopia pessoal, o Brasil dá fim ao exército militar. Os desempregados são incorporados à polícia militar, assim como todo o armamento e fundos de investimento. Guerras não são uma ameaça para esse país, mas mesmo que fossem, não é como se o exército brasileiro fosse capaz de gerar grande resistência, perderíamos em algumas semanas, salvo se o inimigo fosse a Bolívia, porém, até nessa hipótese, tenho minhas dúvidas. Tornaríamos uma força obsoleta, em uma força útil. O alistamento deixaria de ser “voluntariamente obrigatório”, como é hoje, e seria como na polícia, concurso. Não haveria mais riscos de uma nova ditadura militar (não que haja hoje, mas nunca se sabe), a polícia teria fundos, pessoal e armamentos, e os jovens do amanhã não terão que passar pelo que eu passei.

Quanto a mim, ao sair do juramento a bandeira – tendo mantido o silêncio durante a parte que dizia sobre “morrer pela pátria” -, passava do meio-dia e sol estava forte. Avistei não muito distante, um bar, e nele uma mesa na qual se encontrava um grupo de pessoas se refrescando com cervejas. Pensei em ligar para a empresa na qual trabalhava e inventar algum atraso na cerimônia, avisando que não voltaria após o horário de almoço, indo, então, juntar-me às cervejas, mas não poderia. Invejei-os por um instante e fui ao trabalho.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Chris Robinson Brotherhood - The Magic Door


O leitor vai ter que me perdoar se pela metade dessa resenha eu perder a coerência, o motivo é que, sempre que faço uma resenha de um álbum, tento escrever enquanto o escuto, para passar a impressão mais direta que a música me passa. O novo disco do Chris Robinson Brotherhood (CRB para os íntimos) me fez passar pela porta mágica e entrar em alfa, estou em meio a uma viagem astral cósmica e não quero mais voltar.

Você, que assim como eu, acompanha este blog com frequência, sabe que eu já fiz uma análise de três partes da Black Crowes (banda da qual Chris Robinson foi vocalista) e CRB fez parte do finado momento cultural. Sei que existem milhares de outras bandas por aí, mas a culpa não é minha que ninguém hoje em dia é tão profissional a ponto de lançar dois álbuns em um mesmo ano, ambos excelentes, pois é, queria manter o mistério por pelo menos um outro parágrafo, mas não consegui, The Magic Door é um excelente disco. É tão bom quanto seu antecessor, mas não é mais do mesmo, é possível ouvir os dois, um após o outro, sem ter a impressão que é tudo a mesma merda (viu Rush? É possível! Vocês já foram assim um dia).

Não é um álbum para todos. Já deve ter dado para perceber que eu som fanático pela psicodelia. Se eu pudesse voltar no tempo, para qualquer momento da história, eu não tentaria salvar a Terra de um grande desastre, prevenir um assassinato, ou mesmo concertar um momento da minha vida (e olha que existem vários que eu gostaria de revisitar com meu conhecimento e experiência atual). Eu iria voltar para o período de '66 até '69. Sim, eu não me contentaria só com Woodstock, eu gostaria de fazer parte do movimento. Me juntaria a algum grupo hippie, que vagava pelos EUA, de São Francisco a Nova York em uma combi velha, com nada além das roupas do corpo, uns instrumentos velhos, qualquer esmola que nos dessem e uma plantação de erva. Gostaria de ir aos velhos Acid-Tests, o Summer of Love, Woodstock e todos os outros concertos da época. É isso tudo que esse disco representa. Toda essa era, mostrar que ela não foi esquecida ou assassinada. Está dentro de alguns de nós e, não só pode, como deve ser revivida. Tudo na história volta, então porque não o amor livre, as drogas e a música boa.

Voltando ao álbum. Não é nenhum segredo que Chris Robinson é um Deadhead da 2ª ou 3ª geração (década de 80), se ainda havia alguma dúvida, acaba aqui. Desde a primeira faixa eu pude sentir aquele clima Grateful Dead da música. Aquela mistura rock, blues, jazz, country, ácido e improviso, que só o Jerry Garcia e equipe conseguiam executar com perfeição. Jerry pode estar morto, mas não seu legado.

Todas as músicas são originais, salvo por Blue Suede Shoes; standard clássico da música americana composto por Carl Perkins e interpretado por Elvis, Buddy Holly e outros; em uma versão mais lenta e "trippy", e Let's Go, Let's Go, Let's Go do grande Hank Ballard. Outro "cover" é uma versão diferente, um pouco mais lenta e cósmica de Appaloosa, do próprio Black Crowes (não sei decidir qual versão é melhor), que por sua vez é uma das minhas favoritas, a letra é fantástica.   O álbum inteiro é uma série de pérolas em sequência. Sem pausa, sem paz, sempre em frente, como toda boa viagem deve ser. Um álbum fantástico para qualquer um que goste do velho rock psicodélico da velha e finada era Flower Power.
- Nota: 5,0/5,0 (preciso resenhar um álbum ruim um dia desses)



O álbum é bem recente, então está difícil achar vídeos bons. Outro dia adiciono uns outros.



quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Black Crowes - Obra Completa (Parte 3)

 
 
Após o quebra-pau e o divórcio da banda após o Lions. Cada músico tentou uma carreira solo, que não realmente deu certo, embora o guitarrista Marc Ford tenha lançado um álbum excelente. Em 2006, após muita terapia, a banda se reuni e grava um CD/DVD ao vivo, com todos os grandes clássicos da banda, chamado Frek 'n' Roll... Into the Fog. Não vou perder tempo resenhando esse disco, pois é bem simples. A banda é foda, a setlist desse show foi foda e ao vivo os caras são ainda melhores que em estúdio.
 
O que realmente interessa nessa parte 3 da análise é que, após esse show, a banda continuou sem gravar nada. Até que do nada eles mudaram a formação, trocando o tecladista Eddie Harsch e o guitarrista Marc Ford (ambos favoritos dos fãs), por Adam MacDougall (não sei do currículo desse cara, mas ele é um bom tecladista) e Luther Dickinson, o guitarrista e vocalista da banda North Mississippi Allstars, que por sua vez, é foda pra caralho. Essa nova formação gravou em 2008 e 2009 dois álbuns em um estúdio em Woodstock.
 
Warpaint (2008)
 
 
 
Eu não sei se foi a mudança na formação que diminuiu as divergências criativas e permitiu que o lado "Deadhead" da banda ganhasse voz, mas esse álbum é muito bom e completamente diferente dos seus antecessores. Na verdade, eu não gosto de comparar este e seu sucessor, com os discos anteriores da banda. A Black Crowes sempre foi conhecida pelo seu saudosismo e amor pelos grandes clássicos do passado, fazendo uso de fitas e métodos arcáicos de gravação, ao invés do digital que tornou-se padrão na indústria musical atual. Todas essas influências e paixões são refletidas claramente em Warpaint. É notável as influências do folk e do country, que era comum nas bandas da era "flower power", como The Band, Grateful Dead (essa é, provavelmente, a minha banda de rock favorita) e até mesmo Rolling Stones no fim da década de 60 (essa última, a Black Crowes já foi acusada por vários críticos, de copiar descaradamente. Eu discordo. A influência existe e é óbvia, mas não é uma cópia exclusiva. Quando uma banda cópia cerca de 5 ou 6 outras bandas diferentes, essa pode ser chamada de original - quase como um filme do Tarantino). A psicodelia também está presente, as letras são poéticas e a improvisação tornou-se ainda mais presente. Pra mim esse é um dos melhores discos da banda e um dos melhores dos anos '00 (é assim que chamam a primeira década dos anos 2000?).
- Nota: 4,5/5,0
 
 
 
  Sem comentários cômicos dessa vez... Tá bom, eu não aguento, quando foi que o vocalista virou Jesus?
 

 
Before the Frost... Until the Freeze (2009)
 
 
 
Agora a banda botou pra foder. Esse álbum é perfeito. Before the Frost reune o rock psicodélico; o country; o folk; uma faixa meio disco, mas ainda assim muito boa; os improvisos de sempre, enfim, tudo que a banda tem de bom, está nesse álbum, e como se não bastasse, se você estiver em um clima mais relaxado e quiser um álbum mais acústico e quase puramente folk, aqueles que compraram o álbum original, receberam inteiramente "de grátis" o direito de baixar o ...Until the Freeze, que é justamente isso. Ou seja, é perfeito e capaz de agradar a qualquer um que tenha um mínimo de bom gosto. Se você não gosta desses discos, saia já deste blog! Esse território não é pra você, infiel!
 
Isso não é tudo. Pra completar, o álbum foi gravado inteiramente ao vivo no estúdio, com uma platéia de 300 sortudos. Você que lê isso, talvez não leve música tão a sério quanto eu e não consiga perceber o quanto isso é arriscado e difícil de se fazer, mas saiba que, nenhum, repito, nenhum músico hoje se arriscaria a fazer uma coisa dessas. Isso se chama profissionalismo e amor pela música. Eles estavam pouco se fodendo se a reação inicial fosse negativa, eles sabiam que o trabalho era bom e, se alguém pensasse o contrário, estaria errado. Mesmo assim não aconteceu, é possível perceber em meio aos aplausos que dividem as faixas, que todos estão adorando as músicas e se sentindo naquele clima hippie, quando os músicos eram humanos e amavam sua obra e aqueles que compartilhavam desse amor. Isso, meus caros, é música!
- Nota: 5,0/5,0
 
 
 
 
Sim, é exatamente isso que vocês estão pensando, existe uma música disco boa nesse universo!
 
 
 
Sem mais, se antes desse post, você não conhecia essa banda. De nada.
 
 
Tá bom, tá bom. Um cover do Velvet Underground pra encerrar.
 


quinta-feira, 6 de setembro de 2012

A Insustentável Leveza do Ser - Milan Kundera

Chegou a hora, companheiros, minha primeira resenha literária. Para quem não sabe - todo mundo -, estou criando aos poucos um hábito de leitura. Comecei ano passado, na verdade, antes disso, não poderia dizer que já havia lido um livro por gosto. Para melhorar a experiência, decidi que, assim como já faço com filmes e música, ao terminar de ler um livro, publicarei aqui uma resenha sobre ele.
 
O sonho da minha vida é visitar a República Tcheca. Não sei porque, sempre tive essa vontade e já venho economizando para essa viagem já tem alguns anos, não conseguindo arrecadar nem 10% do valor necessário. Creio que o que me atrai nesse país são as construções antigas, as ruas boêmias, as belas mulheres e o absinto. Já imaginei-me até vivendo em uma dessas casas, bebendo e escrevendo, apreciando a paisagem por uma janela de madeira, levemente comida por cupins (meus sonhos são realistas, sou pobre e não vai ser escrevendo que eu vou mudar essa situação). Contudo, nem sempre foi esse o cenário, quer dizer, todos esses fatores positivos estavam lá, mas sob a sombra do regime Soviético, perseguições políticas a intelectuais e sem liberdade de expressão. É nessa Praga recém invadida pelo comunismo, que se passa a história de "A Insustentável Leveza do Ser". Romance da década de 80, escrito em francês por Milan Kundera, e uma de suas obras mais admiradas.
 
A história se passa pelo ponto de vista de quatro personagens. Tomas, um cirurgião, intelectual, que, após se divorciar, decidiu nunca mais entregar sua liberdade a uma mulher ou qualquer outra coisa, evitando relacionamentos estáveis, família e até o próprio filho do casamento perdido. Ele vive trocando diariamente de mulher até encontrar Teresa, que faz com que ele mude de atitude com relação ao compromisso, mas não quanto a infidelidade. Teresa é uma moça mais jovem, que se apaixonou por Tomas a ponto de permitir que ele se encontrasse com diversas mulheres, fingindo (até determinado momento) não se importar com isso. Ela tem problemas familiares, principalmente com a mãe, que definiram sua personalidade. Sabina, uma das várias mulheres de Tomas e sua principal amante durante o relacionamento dele com Teresa. Ela é forte, independente e artística. Deseja fugir de toda a política que invadia o seu trabalho, assim como compromissos. Era também, a mulher com quem Franz (quarto personagem), traía sua esposa. Franz é fraco mentalmente (embora seu corpo seja forte), inseguro e sofre ao longo da história com o peso que sua traição traz a sua consciência. Ele teme machucar sua esposa com a verdade, por isso adia sua busca a felicidade até o momento que ela, inevitavelmente, vem à tona.
 
É um livro excelente, que mistura a prosa de ficção, com alguns ensaios filosóficos que se misturam e completam a ideia do romance. Aborda temas como liberdade, sexo e existência de forma extremamente profunda e interessante. Recomendável a qualquer um que goste de livros.
 
- Nota: 5,0/5,0 (não queria dar a nota máxima logo na primeira resenha, pois acho que me falta base de comparação, mas foda-se. Fica isso mesmo.)

sábado, 1 de setembro de 2012

Black Crowes - Obra Completa (parte 2)


Three Snakes and One Charm - 1996

Quase todas as bandas de rock, em qualquer era da música, tiveram seus problemas com drogas. Black Crowes não era uma exceção, muito pelo contrário, se alguma banda lutou para que seus vícios se tornassem legalizados, foi essa. Os membros admitiam em entrevistas o uso frequente de drogas, principalmente alucinógenas, o que, na minha opinião, explica porque eu gosto tanto deles. Sinceramente, acho que a única explicação para a queda na qualidade das bandas de rock atuais é a falta das drogas. Reparem que bandas como, Siena Root, Baby Woodrose, Acid Mothers Temple, entre outras atuais, são excelentes e totalmente chapadas. 

Essas drogas afetam diretamente a composição dos músicos e não há, na carreira do Black Crowes, demonstração mais clara disso, do que o álbum de 1996, Three Snakes and One Charm. Nesse disco, a banda finalmente explora suas influências psicodélicas como, Grateful Dead (uma das minhas bandas favoritas), The Band, Velvet Underground, Beatles (fase boa), entre outras no gênero. Por isso, entre todos os álbuns da banda, esse é o meu favorito, por motivos de gosto pessoal. Imagino que a maior parte dos fãs discorde dessa afirmação, mas estou pouco me fodendo para eles. As músicas Nebakanezar, Girl from a Pawnshop, Blackberry, Halfway to Everywhere, todas, são originais, diferentes do que a banda vinha produzindo e do mercado musical da época e por isso, para mim, esse é o ponto alto da banda.
- Nota: 5,0/5,0

Óia o ácido!



By Your Side - 1999


E tudo que chega ao pico, uma hora cai. E a queda é feia, vide os figurinos da capa do álbum. Leitor, olhe para a figura dos músicos e me diga se algo bom poderia ter saído disso? Pois é, não saiu. By Your Side poderia ter sido bom, se tivesse sido gravado por qualquer outra banda, principalmente uma que não tivesse acabado de gravar um dos álbuns mais interessantes da década. O que seu antecessor tinha de original, o atual tinha de "nada". Algumas faixas são animadas e até muito boas, o disco é definitivamente audível, o problema é a época em que ele foi lançado e a banda que lançou. Em resumo, By Your Side é preguiçoso e genérico, típico de uma banda de rock que precisa de férias e que está prestes a explodir.
- Nota: 2,0/5,0

Meh... eu teria uma piada a fazer quanto a aparência do vocalista, mas eu não sei por onde começar...

Lions - 2000


Depois de tantas drogas, uma hora acontece - Lions, a bad trip do Black Crowes. Esse disco é o mais experimental e louco de todos. Já devo ter ouvido esse CD dezenas de vezes, toda vez termino com uma opinião diferente. Ele é ainda mais psicodélico que o TSOC, mas flerta muito com a música eletrônica pro meu gosto. Ainda assim, faixas como Lickin' e Midnight from the inside out, têm um ritmo muito interessante e são muito boas. Acontece que esse disco me conquistou aos poucos e acho que ele só não é tão popular, porque as pessoas não investiram tempo o suficiente em sua audição. Lions é, definitivamente, um progresso em relação ao By Your Side, mas ainda não é tão bom quanto o 2º, o 3º e o 4º álbum da banda. Independentemente do progresso, foi após esse álbum que a banda decidiu encerrar suas atividades temporariamente, devido a uma série de problemas pessoais entre seus membros, voltando a tocar juntos apenas em 2006.
- Nota: 4,0/5,0



Continua...