Fugindo um pouco da temática que os meus outros textos trabalharam, que era mais a questão biográfica de alguns autores com os quais tive contato, como Carolina Maria de Jesus, Chinua Achebe e Raymond Carver, na postagem desse mês irei expor um pouco da minha opinião pessoal sobre a democracia das bibliotecas.
Particularmente, acho que posso ser considerada uma entusiasta de bibliotecas, se é que isso existe. Se uma pessoa diz que está querendo ler algum livro, eu vou citar uma lista de bibliotecas em que o livro pode ser encontrado.
A situação financeira de uma pessoa é um fator que influencia na compra de livros e como minha situação financeira nunca foi das melhores, mas eu sempre gostei muito de ler, não me deixei e não me deixo limitar pela falta de capital e invisto com vigor nas bibliotecas. Não tenho muitos livros, alguns poucos foram comprados, mas a maioria ganhei de presente. Se vocês virem o meu Skoob, fica mais fácil visualizar, porque vocês perceberão que tenho um número pequeno de livros, mas o número de livros lidos é muito superior, o que é facilmente explicado pela minha dependência, digamos assim, de bibliotecas.
Há quem diga que brasileiro não lê porque os livros são caros, eu digo que brasileiro não lê porque brasileiro não quer ler. Claro que tenho plena consciência de que também há uma série de fatores que atuam nisso, motivos mais complexos e que precisam ser aprofundados, mas uma pessoa dizer que não lê porque livro é caro, é uma desculpa que não cola. Não sei as outras cidades, mas em São Paulo há diversas ações que visam democratizar o acesso a leitura, como o projeto Livro na Faixa, os Ônibus-Bibliotecas e a disponibilidade de centenas de bibliotecas pela cidade toda.
Enfim, o que quero dizer desde o começo, é que não precisa pagar para pegar livros em bibliotecas, é de graça e é por isso que eu apoio tanto as bibliotecas, porque sendo de graça, não tem exclusão social e o acesso é democratizado.
sexta-feira, 29 de maio de 2015
quarta-feira, 27 de maio de 2015
Momento Musical #10 - Elvis Costello, Leoš Janáček, Frank Zappa
Quando eu não sei o que escrever aqui, posto uma poesia que esteja largada. Quando não tem mais poesia, faço um momento musical. É fácil. Basta achar uns discos bacanas no youtube e fazer um comentário em baixo. Se alguém ouve as músicas ou não, não sei. Não importa. Só sei que estou passando por um período desses, então toma-lhe música.
Elvis Costello - Armed Forces (1979)
(Pois é, não tinha um daqueles vídeos com o disco inteiro pra economizar, então vou jogar aqui 3 faixas de amostra.)
Da série: coisas que se salvam da década de 80. Elvis Costello é bem bacana. Esse disco veio antes da década de 80, então pode ser por isso que eu goste mais dele. As letras também são ótimas. Elvis é dessa linha de cantores que não cantam porra nenhuma mas compõem como mestres (Bob Dylan, Frank Zappa, Lou Reed vêm à mente). Destaque pra What's so funny 'bout peace, love and understanding, que fez parte da cena do karaokê em Lost in Translation (ainda não falei desse filme, né? T'aí o assunto pro próximo post).
Leoš Janáček - Quartetos de Cordas nº 1 e 2 (1923 e 1928)
Esse é um dos compositores favoritos do Milan Kundera. Foi só por isso que eu o conheci, porque ele é citado várias vezes na entrevista que o autor deu à Paris Review, em 1984. Janáček é um compositor moderno bastante peculiar. Alguns especialistas dizem que ele é o primeiro dos minimalistas. As composições dele são cheias de padrões e repetições típicas do estilo, com harmonizações em tons incomuns. A razão de eu não falar mais de música erudita aqui é por eu não saber tão sobre - a parte técnica da coisa, quero dizer -, mas as músicas dele são uma experiência e tanto. Kundera o considera uma influência para estrutura de seus livros. Faz sentido, se vocês prestarem atenção. Principalmente na polifonia e nas repetições temáticas. Pessoalmente, me agradam os quartetos de cordas, por isso escolhi essas duas composições. O segundo quarteto também foi uma das últimas - ou última - composição dele, e ela tem algo de intenso que me faz querer voltar a ela sempre. Se tornou um dos meus favoritos também.
Frank Zappa - Hot Rats (1969)
Zappa foi uma das figuras mais fascinantes da década de 60 - que não é conhecida pela falta de figuras. Um dos poucos com a coragem de inserir técnicas da música clássica moderna em músicas populares. Às vezes arrogante, às vezes subestimava seu público - mas quem poderia culpá-lo disso -, mas Hot Rats eu diria que é um dos seus melhores momentos. Um dos porque o cara era prolífico. Fez um pouco de tudo, do experimental ao pop à sátira à música erudita. O cara é uma representação em áudio do que é a vanguarda. Apesar da banda dele ser cercada de polêmicas e muitos de seus discos terem sido alvo de críticas e tentativas de censura por conteúdo explícito, esse é praticamente instrumental, com exceção de algumas linhas cantadas - por ninguém menos que Captain Beefheart (falarei dele um dia) - em Willie the Pimp.
Vão ouvir agora.
Vão ouvir agora.
sexta-feira, 15 de maio de 2015
Mário Gomes
Mário Gomes era um poeta marginal
aqui de Fortaleza. Conhecido como o último poeta maldito cearense Mário Gomes
tinha um arquétipo de maluco beleza, embora, já fora lúcido. Poeta voltado para o pornográfico Mário
subia e descia nas curvas de Fortaleza lambia as partes intimas da cidade como
quem lambe uma ferida com terra. Sua poesia me nocauteou. Passei dias e dias, tentado
imaginar de que parte do espaço-quântico a poesia dele nasceu. Conversei com amigos.
Nenhum deles conhecia a obra de Mário, mas pesquisei um pouco mais, então,
encontrei um amigo escritor que tinha uma antologia de poemas do poeta bêbado.
Li reli. Pirei. Mário Gomes é sem dúvida um acontecimento poético. Tive a sorte
de ver ele pelo uma ultima vez na praça do Ferreira (fica no centro de
Fortaleza). Mário era conhecido por todos ali; muito antes de sua loucura. O
poeta Mário Gomes perambulava pelas ruas da cidade, eu perguntava sempre as
pessoas: “você alguma vez viu um velho vestido um terno andando pela cidade com
a cabeça abaixada?” Alguns sins e, alguns nãos, às vezes eu explicava quem era
e às vezes eu só concordava com a pessoa “sim, ele é louco.” Ouvia sempre que,
em alguns lugares ele era incomodado (porque as pessoas não tinham ideia de
quem era aquele maluco...), quem o reconhecia dava um cigarro uns trocados um
litro de vinho e deixava-o ir. Quase levei um soco dele certa vez, mas me
justificarei em outra crônica. Mário Gomes morreu no dia 31 de dezembro de 2014. Contemporâneo
de vários outros escritores cearenses que sou fã Mário é figura conhecida entre
todos os movimentos literários do Ceará. Com tantos escritores morrendo Mário
foi único que pensei nas questões do valor/desvalor de sua arte. Tenho medo de
gourmetizarem o poeta assim como fizeram com: Patativa, Bukowski, Leminski
etc... Homenagear depois de morto não vale, fazer busto e botar em ponto turístico...
não sei se é por aí, melhor deixar quieto isso. Vamos para a parte mais
importante dessa pseudocrônica que é a poesia de Mário Gomes, a pessoa que era
Mário Gomes. Selecionei algumas fotos alguns poemas e um curtadoc que fizeram
sobre o poeta andarilho.
Metamorfose
Ontem,
Ao meio- dia,
Comi um prato de lagartas
Passei a tarde defecando borboletas.
Ao meio- dia,
Comi um prato de lagartas
Passei a tarde defecando borboletas.
Ação Gigantesca
Beijei a boca da noite
e engoli milhões de estrelas.
Fiquei iluminado.
Bebi toda a água do oceano.
Devorei as florestas.
A Humanidade ajoelhou-se aos meus pés,
pensando que era a hora do Juízo Final.
Apertei, com as mãos, a terra,
Derretendo-a.
As aves em sua totalidade,
voaram para o Além.
Os animais caíram do abismo espacial.
Dei uma gargalhada cínica
e fui descansar na primeira nuvem
que passava naquele dia
em que o sol me olhava assustadoramente.
Fui dormir o sono da eternidade.
E me acordei mil anos depois,
Por detrás do Universo.
e engoli milhões de estrelas.
Fiquei iluminado.
Bebi toda a água do oceano.
Devorei as florestas.
A Humanidade ajoelhou-se aos meus pés,
pensando que era a hora do Juízo Final.
Apertei, com as mãos, a terra,
Derretendo-a.
As aves em sua totalidade,
voaram para o Além.
Os animais caíram do abismo espacial.
Dei uma gargalhada cínica
e fui descansar na primeira nuvem
que passava naquele dia
em que o sol me olhava assustadoramente.
Fui dormir o sono da eternidade.
E me acordei mil anos depois,
Por detrás do Universo.
Ação Gigantesca foi um dos melhores poemas que li na vida. A primeira vez que li esse poema foi como se algo explodisse o universo em zilhôes de pedacinhos. Mário se tornou o ser poético. Ele era a forma que a poesia escolheu para se materializar. Mário conseguiu expressar algo divino fora de qualquer senso. Passei um bom tempo embriagado com essa poesia. Um tempo depois li sua antologia poética agora estou em eterna reabilitação para me recuperar do porre de seus poemas. Me desculpem por ser meio/muito raso, mas a divulgação do poeta cearense para outras pessoas é sempre válida.
sábado, 9 de maio de 2015
Jimi Hendrix & Schopenhauer
Recentemente me mudei, era dia de
faxina aqui em casa. Sempre antes de começar uma faxina tenho um pequeno ritual
para fazer esse grande esforço quinzenal. Antes de começar a tirar poeira das
coisas e, passar o pano na casa; bebo uma ou três cervejas sentado olhando pro
nada, depois, começo a faxina. Sempre começo pelos meus discos. Por quê? Bem,
eu os arrumo inicialmente porque é lá que vou fazer minha trilha sonora para
começar a faxina. Enquanto eu escutav... quer dizer arrumava meus discos
encontrei no meio (entre os discos), o livro do palhaço da melancolia
Schopenhauer. Comecei a folhear. Vi as mazelas do amor e da morte. O livro
parece que estava à procura de uma companhia. O disco que tinha colocado era Axis: Bold as Love a leitura parecia ter
aquele ritmo calculado a cada virada de página. O melhor é que, o livro me
dizia coisas não tão boas sobre l’amour. Fazia minha crença cair, desacreditar
na condição sincera e afetuosa que se cria nas relações humanas, mas do outro
lado começava a escutar coisas como “é melhor você esperar até amanhã/garota o
que você está falando?” Comecei a pensar que se Dolly Mae explicasse para o
velho Schop que o amor é bem mais... embaixo ele não teria sido tão pessimista
assim. Já na litle wing o velho
deixou o seu cachorro escutando a música e saiu, ficou sem palavras. Segundo os
biógrafos de Schopenhauer ele detestava qualquer barulho que fosse, logo,
odiava música não suportava uma nota se quer. Mas, isso é porque ele nasceu na
época errada. Um bom blues com certeza iria mexer naquele coraçãozinho solitário.
Ah, se ia! O alemão tinha bom humor conseguiria sobreviver a algumas tuitadas
da vida moderna. O disco genial de Hendrix (diga-se de passagem) acaba com a
música bold as love assim, também
como acabará os dois vértices do velho Schopenhauer: com amor e morte.
"O mundo parece seguro amarrado numa coleira."
Desapego
Não parece que é. Estava bebendo num bar
qualquer de Fortaleza. Pensava nas coisas que sempre penso: morte, vida, contas,
poesia, mulher, nada, dinheiro, nada, e outras coisas sem sentido que não vale
a pena comentar. Não parece que é. Joguei bola descalço e acabei perdendo a
tampa do dedão. Não parece que é. Comecei a escrever um texto e, de repente,
parei. Joguei meu coração na rua para ser atropelado; só porque fui embora e
minha casa não me disse adeus. Como eu queria chorar agora entre estes muros
surdos. Preparei minha mala algumas roupas, objetos, livros e uns trocados. Olhei
uma ultima vez para cozinha, fechei a porta do quintal. A sala onde escrevia no
dormir das madrugadas; louco de vinho com os dedos feridos no papel. Lembrei do
quarto, do crepúsculo, dos lírios. Quantas vezes não morri dentro de um sonho.
Larguei minhas fotografias amareladas numa sacola. Joguei pela ultima vez as
cinzas do cigarro no chão. Quantas vezes eu ouvi aquela canção com a luz
apagada uma garrafa de cerveja quente, embriagando minha solidão abusiva. O meu
cachorro morto. Do outro lado da rua morava minha primeira namorada. Cintia.
Cabelo castanho chanel no seu ouvido sussurrava Camões beijava-a como um Sísifo
antes do martírio. É difícil retomar as lembranças quando não conseguimos
agarrar o âmago da infância. O mundo parece seguro amarrado numa coleira. Lembro
do meu primeiro dente de leite jogado no telhado (tradição). Lembro das
pequenas epifanias. Coração. Amor. Amor. DECEPÇÃO. Alegria, breve, mas alegria.
Caminhei sem olhar para trás. Aquela era a casa que morei durante 15 anos de
lembranças infantis, juvenis, entendam como quiser, mas o importante agora é
saber que: as únicas lembranças que contam são essas virgens lembranças. Quando
não sabia o significado de quase nada. Isso é algo que ninguém pode
fotografar, porque a memória é a única que consegue nos levar além das
lembranças. As sensações é que são mais resistentes que simples fotografias
reveladas. Uma camada de mim fica. Esse texto um dia vai ser só lembrança,
assim como minhas digitais naquela casa. Até mais minha pequena.
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