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sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Minha Luta, vol. 1 - A Morte do Pai (Min Kamp 1) - Karl Ove Knausgård [2009]


Fazia tempo que eu não lia a última frase de um livro e sentia um arrepio na espinha. Eu sei, eu sei, resenhas exigem construção, justificativa, e eu estou pulando etapas, mas é bom que fique claro que esse deve ser um dos melhores livros escritos nos últimos dez anos. Tendo se tornado uma espécie de fenômeno literário na Noruega, colecionando elogios hiperbólicos como "novo Proust", e pondo de volta no mapa a literatura norueguesa, o livro me chamou a atenção, mas eu estava cético. Quais seriam as chances afinal de uma série de 6 livros, totalizando mais de 3.500 páginas, autobiográfica, ser interessante? Por que eu haveria de me interessar pela vida pessoal de um escritor norueguês desconhecido?

Pulando entre vários momentos da sua vida, Karl Ove (permitam-me omitir o sobrenome) narra como era o relacionamento entre ele e seu pai, falando da infância, adolescência, até a idade adulta, quando ele recebe a notícia de que seu pai morreu e como isso o afetou. A ordem dos acontecimentos, no entanto, não segue uma estrutura. Em um momento ele pode estar falando do seu presente, do esforço que é escrever um livro e ao mesmo tempo cuidar dos três filhos e dar atenção à esposa e dividir as tarefas domésticas e ainda ter que se preocupar com dinheiro e a própria qualidade do que se está escrevendo, então, em meio a um passeio na parque, ele pensa em algo e, a uma maneira proustiana, passa a divagar sobre essa lembrança, extensivamente, então logo volta a narrar o passeio no parque, e o leitor, por sua vez, está tão preso à prosa magnética de Karl Ove que nem se importa com os saltos no tempo e no espaço, acompanha tudo no mesmo ritmo, como se ele também estivesse no parque e também tivesse lembrado daquele momento no passado que o leitor não viveu, mas é como se tivesse vivido. E que o leitor dessa resenha tenha em mente que quando eu falo extensivamente eu quero dizer uma página completa dedicada ao preparo de um chá, 150 páginas sobre a limpeza de uma casa antes de um velório, 511 página no total, sendo que o livro não é exatamente cheio de acontecimentos - tenham em mente também que isso não é uma crítica. 

No fim do livro, o leitor acaba sabendo mais sobre Karl Ove do que sobre alguns de seus familiares (eu, por exemplo, tenho certeza que sei mais sobre a vida desse autor que sobre a vida de meus pais), mas isso não dá a impressão de uma literatura egocêntrica ou solipsista, pelo contrário, ao conhecer esses detalhes, não só factuais mas emocionais, da vida de Karl Ove, o leitor acaba por rever momentos do seu próprio passado que podem ter feito que ele se sentisse igual ao autor, isso quando os momentos e sentimentos não são exatamente iguais - o que me fez questionar a variedade da experiência humana.

Nada no livro é extraordinário. A autobiografia costuma ser forma de literatura apenas para celebridades ou figuras trágicas - quando não os dois. É comum associar esse gênero com uma história de superação, uma tentativa de imortalização, e coisa assim. Não é o caso em Minha Luta. Nunca no livro ele tenta disfarçar suas vergonhas ou ironizar - o que seria mais comum - as derrotas da sua vida. O livro, pelo contrário, começa com uma humilhação. Nada grave, apenas um momento da infância no qual ele se sentiu humilhado. Tão banal que nem seria necessário incluir na história, só agravaria a vergonha da situação. Mesmo assim ele faz. É isso que torna o primeiro volume de Minha Luta um livro tão especial, a honestidade do autor para com ele mesmo. 

Obviamente tanta honestidade não vem sem represália. Pelo que li por aí, a primeira medida da família do pai de Karl Ove foi tentar impedir a publicação do livro. Então, quando isso não surtiu efeito, ameaçaram processá-lo. Para evitar que isso acontecesse, o autor criou nomes falsos para os membros da família de seu pai, todos os outros nomes (da sua mãe, da sua esposa e ex-esposa, dos seus filhos, do seu irmão, dos seus amigos do tempo de escola) são verdadeiros. Essa foi a polêmica gerada pelo livro. Que um escritor foi capaz de colocar sua própria vida e a de todos os que conviveram com ele desde quando ele era criança no papel e distribuir pelo país (na Noruega, os volumes do livro já venderam mais de 500 mil cópias, e o país tem pouco mais de 5 milhões de habitantes). Não conseguindo impedir a publicação, a família do pai de Karl Ove cortou relações com ele. Seu casamento quase não sobreviveu às verdades pessoais que ele incluiu nos livros. Vai saber o que os filhos dele não vão pensar quando finalmente lerem os livros. Mesmo assim ele fez. Fez aquilo que todos nós morreríamos de medo de fazer, falar a nossa versão da verdade para o mundo. Pior nossa versão da verdade sobre nós mesmos.

Chega a ser impressionante que o livro não fique exaustivo. Já falei da cena do chá, mas não é só isso. Se você já se empolgou com um autor a ponto de falar que leria a lista de compras dele, esse é seu dia de sorte, em Minha Luta você lerá a lista de compras do autor. É um momento chato na leitura? Não. Por incrível que pareça, ele consegue gerar no leitor um nível de interesse surpreendente considerando o quão trivial é o conteúdo do livro. Talvez seja por isso mesmo que tenha se tornado um fenômeno. A banalidade seja tão universal que todos se identificam e buscam no livro alguma forma de resposta, que obviamente o livro não tem. O autor, afinal, é um ser humano, e não um guru. Tampouco ele sabe as respostas para as nossas perguntas, ele também vive se perguntando sobre as coisas.

Uma leitura desse tipo já me fazia falta. Não me identifico dessa maneira com uma história faz tempo, por isso até já fiz questão de comprar o volume dois. Vou dar uma pausa antes de começar a leitura, imagino que uma hora ou outra, sem a devida distância, eu vá me cansar da vida dele. Às vezes eu acho que é para isso que a literatura serve, para essa transfusão de consciência, para que o leitor seja capaz de sair do eu e entrar na vida do outro por um instante (outro real ou fictício), para que o leitor possa pensar como outra pessoa. Esse é o livro ideal, se é isso que você procura.

Nota: 5/5

Trecho no site da Companhia das Letras: http://www.companhiadasletras.com.br/trechos/13088.pdf

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Momento Musical #1 - Frank Zappa, Mimi & Richard Fariña e The Greenhornes



Entre as minhas tentativas de mudar um pouco o jeito que eu faço o blog estava a ideia de parar com as resenhas de música. Principalmente porque elas são chatas de fazer e repetitivas. Ora, como avaliar música? Ouvindo, falar sobre não adianta nada. Então, ao invés de avaliar álbuns, de agora em diante vou apenas indicar músicos que eu gosto, alguns de seus discos, e vocês façam o favor de procurarem por aí. Como vocês já sabem, uma indicação minha é praticamente sinônimo de qualidade, então estejam certos de que coisas interessantes passaram por aqui. Como falar de um músico só exigiria que eu fizesse pesquisas biográficas e coisas do gênero pra poder encher um texto, decidi ignorar tudo isso e falar de três músicos de uma vez. Isso mesmo, três pelo preço de um, aproveitem. Essa linha de posts se chamará Momento Musical (mais ou menos como Pintura para Principiantes, só que mais arrogante), e, para a estreia, venho lhes apresentar: Frank Zappa (clássico da década de 60), Mimi & Richard Fariña (dupla folk que poderia muito bem estar no patamar de Bob Dylan, não fosse a morte prematura de Richard em 66) e The Greenhornes (rock contemporâneo, que eu descobri assistindo ao filme Broken Flowers - que logo terá resenha -, do Jim Jarmusch).
Frank Zappa

Meio que considerado uma ovelha negra do rock da década de sessenta, Zappa fez tudo diferente do resto. Quando a moda era ser hippie, ele tirava sarro dos hippies, quando a moda era o rock boneca inflável (apelido que eu dou às bandas da década de 80) ele tirou sarro desses também. Assim como de quase todos os aspectos político-sociais de cada época. Fez tudo isso enquanto explorando ao máximo cada estilo musical, do rock ao jazz, do erudito ao doo-wop. Não existem dois discos iguais do Frank Zappa, por isso eu sugiro que, caso você goste das músicas de amostra aqui, baixem logo a discografia toda.




Mimi & Richard Fariña

Irmã de Joan Baez, Mimi, casou-se com Richard Fariña na década de 60. Juntos eles formaram uma dupla folk, gravaram 2 discos (tá, 2,5 considerando que teve um póstumo com umas raspas de panela e músicas solo da Mimi), que hoje são raridade até na internet, e se tornaram grandes nomes da cena musical de Greenwich Village. Alguns críticos diziam que eles poderiam ter ser tornado os maiores nomes do gênero na época, ameaçando até a soberania do Bob Dylan, não fosse a morte prematura de Richard Fariña em 66, dias depois de ele ter publicado seu romance, Been down so long that it looks like up to me (traduzido em português em edição extinta como Tanto tempo na pior que o que pintar é uma boa). Um daqueles casos que te fazem pensar o que viria caso ele não tivesse morrido, tanto na música quanto na literatura.



Obs.: tenho o livro e pretendo ler e resenhar o quanto antes.

The Greenhornes

Rock estilo banda de garagem. Não sei muito sobre eles, só ouvi na trilha sonora do filme e baixei quantos discos pude encontrar. Não sei se a banda está na ativa ainda, mas vale a pena ouvir. O som é bem simples, e isso talvez seja o que mais agrada. Sem floreios, apenas o bom e velho rock, com um toque de blues.



quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Lanterna Mágica (Laterna Magica) - Ingmar Bergman [1987]

 

Um agravante à insegurança ao se preparar para fazer uma resenha é a procrastinação. Terminei de ler esse livro ano passado, certo de que teria uma resenha genial para fazer - tenho tendência a ignorar a humildade antes de começar um projeto, que culpa tenho eu que tudo soa muito melhor na minha cabeça que no papel? -, então li a introdução escrita por Woody Allen, porque, sim, eu leio as introduções e prefácios somente após de ter lido o livro, pois assim evito que as ideias dos outros influenciem minha leitura. Pronto, a merda estava feita, nada do que eu venha a escrever aqui seria tão bom quanto o texto do Woody Allen, que conseguiu ser pessoal, brevemente analítico mas sem afetações, e engraçado. Bom, não sou Woody Allen, muito menos sou Ingmar Bergman, mas acho que sou o suficiente para vocês, nobres doutores, que me leem.


Não tem muito o que se dizer sobre a sinopse de Lanterna Mágica, de Ingmar Bergman, além de que é uma autobiografia - a primeira autobiografia que li. Agora vou falar bastante sobre o livro e, consequentemente, Ingmar Bergman, então é melhor que eu explique quem ele é, caso alguém aqui não saiba. Ingmar Bergman foi um cineasta sueco, o mais conhecido de seu país e um dos mais importantes da história do cinema (já resenhei aqui o clássico Morangos Silvestres, e vi Sétimo Selo duas vezes, mas não tive coragem de resenhar). Mas Lanterna Mágica não fala sobre cinema, só muito brevemente. O título, por exemplo, é uma referência a um brinquedo que Bergman teve como criança, uma espécie de projetor que mostrava uma história infantil com imagens - lanterna mágica em si foi o nome que deram ao projetor que veio antes do cinema, mas após o cinema ele virou um brinquedo infantil. Grande parte do livro é dedicada à infância e adolescência do cineasta, e não espere aqui uma história graciosa, contada por uma celebridade afim de alimentar seu próprio ego. Bergman é sincero, quase rancoroso em alguns momentos (principalmente em relação ao seu pai). Ele conta ao mundo as coisas que a maior parte de nós prefere manter em segredo. Então, quando ele se dedica a falar da sua própria arte, não fala dos seus sucessos cinematográficos, mas dos fracassos, da luta por orçamento, dos seus esforços no teatro - meio que ele mais parece amar. Fala um pouco das suas influências também, artísticas e filosóficas, mas a base da obra está no intimo, não nos detalhes de produção da peça, mas da diarreia que ele sofre sempre que uma estreia se aproxima; não dos muitos prêmios e admiradores, mas de quando foi preso por sonegação fiscal durante um ensaio. Ele não enfeita sua vida, não esconde o desagradável, apenas conta o que aconteceu.

É difícil para mim indicar esse livro, por melhor que seja, para alguém que não conheça ou não se interesse pelo diretor. Para que a leitura seja plenamente agradável, é importante - não exatamente necessário - que o leitor tenha visto um ou dois filmes dele pelo menos, apenas o suficiente para que as ideias dele também se tornem interessantes. O que não quer dizer que seja um livro ruim, pelo contrário. Ele escrevia seus roteiros e, se você já viu algum filme dele, sabe que ele é cheio de monólogos e narrações bastante literárias. A prosa de Bergman é seca, mínima, sem floreios, mas precisa e sentimental, intima, como se ele estivesse te contando as histórias pessoalmente, direto ao leitor.


Não há nenhum detalhe técnico literário que eu possa explorar. É somente uma autobiografia, mas uma autobiografia muito boa. O que mais tem por aí são artistas falando de suas lutas, histórias de superação  - quem a esse ponto já não sente náuseas ao ouvir falar de histórias de superação? -, histórias de sucesso. É raro um ser humano ter coragem de falar daquilo que o envergonha, daquilo que o humilha, sem se vitimizar ou escrever logo em cima uma reviravolta heroica. Para mim, esse tipo de biografia perde a humanidade, tem a intenção de tornar a pessoa um mito. Esse foi meu grande alívio com Lanterna Mágica, tanto que o livro me prendeu.

Também não esperem ver uma biografia do tipo: tudo começou no ano tal, quando eu nasci no determinado hospital da respectiva cidade, no dia tal, hora tal. Não, ele não segue uma estrutura linear. Ora ele fala de uma surra que levou do pai, então pula para o dia que ele perdeu a virgindade, então volta para a infância e como ele gostava de se esconder no armário para brincar com a Lanterna Mágica. Ele pula entre os vários pontos que ele julga relevantes tratar. É bom lembrar então, não leia esperando um "por trás das cenas" de suas várias gravações. Acho que Sétimo Selo nem é mencionado durante o livro todo, e pouco se fala dos livros que chegam a ser citados. Em muitos momentos, ele parece não citar de propósito o nome dos filmes aos quais ele faz referência, para fugir dessa parte da vida dele, a parte que o tornou famoso.


Por agora vocês já devem ter reparado que se trata de um bom livro, mas vou reafirmar para os que possam não ser tão rápidos: é uma ótima autobiografia, melhor se você sabe quem é o autor - obviamente. Bem escrita, melhor que muitos romances, honesta, sem os problemas típicos que envolvem um autor falando de si mesmo, e, por ser da Cosac Naify, ainda vem em uma bela edição de capa dura. Indico a leitura, com as restrições já mencionadas.

Nota: 4/5

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Pintura para principiantes #1 - Introdução e Edward Hopper


Essa é a estreia de uma coluna nova aqui no Delirium Scribens. Estou entediado com as coisas que eu costumo fazer por aqui, então decidi criar uma novidade. Falarei de pinturas. Quais minhas credenciais para falar desse assunto? As mesmas que tenho para falar de cinema, literatura e música - absolutamente nenhuma. Talvez possa até dizer que tenho menos moral para falar de pintura que qualquer uma dessas outras artes, porque ao menos com as outras eu tenho experiência de contato e/ou experiência prática. Logo aviso que não esperem aqui uma análise complexa ou exata da vida e obra de diversos artistas, apenas uma introdução superficial para você, que assim como eu, não sabe nada de pintura, mas gostaria de saber.

Como não entendo sobre a técnica da pintura ainda (talvez aprenda com o tempo, talvez não), não me meterei a falar sobre isso, sobre o estilo das pinceladas e outros detalhes que um crítico de arte competente definitivamente perceberia. Por outro lado falarei daquilo que creio ser realmente importante, o que uma pintura causa internamente, quais sentimentos elas trazem a tona, como uma pintura pode afetar seu espectador. Além disso, pretendo falar um ou dois breves parágrafos sobre a vida do pintor em questão, não com fins biográficos, mas para contextualizá-lo na história.

O primeiro a ser tratado nessa nova coluna é Edward Hopper. Por quê? Ora, foi ele quem fez com que eu me interessasse por pintura. Sim, meu interesse é que regerá as futuras colunas, não cronologia ou grau importância. Repetirei para que não haja dúvidas, minhas finalidade aqui não é acadêmica, é apenas divulgação cultural, um jeito bacana de gerar interesse sobre esse assunto nas pessoas.

Nascido em Nova York, 1882, Edward Hopper ficou conhecido pelas suas pinturas altamente influenciadas pelo impressionismo francês. Seu principal cenário foi o cotidiano, os cenários comuns dos Estados Unidos, a "natureza urbana" - por assim dizer, como se isso fizesse qualquer sentido. São pinturas reais, que capturam as diferentes emoções do dia-a-dia, da simplicidade da vida, da solidão e tédio do que viria a se tornar o "sonho americano".

Summer Interior (1909)
Um dos meus favoritos por algum motivo. Tem algo de misterioso nessa mulher largada no chão do quarto, durante o dia, o rosto escurecido, a cabeça baixa. É uma figura melancólica, solitária. O quadro emana um erotismo desesperado. O espectador se vê obrigado a imaginar o que aconteceu de tão desconsolador. 

Night Windows (1928)
Tanto na pintura anterior quanto nessa - muito mais nessa -, o expectador tem um ponto de vista distante da cena, voyerístico. Dessa vez, além de imaginar quem é a mulher e o que ela faz, se é levado a imaginar quem é que a assiste. É uma invasão da intimidade, praticamente. Um ponto de destaque na obra do Edward Hopper é a forma que ele trabalhava as luzes e sombras. O efeito da luz no exterior do prédio é muito interessante, e a noção de movimento que a cortina passa flutuando para fora do apartamento por causa do vento. De novo a solidão se faz presente.

Early Sunday Morning (1930)
O cenário comercial da cidade pela manhã. Isso eu li no site "edwardhopper.net" - referência para quase todas as informações biográficas desse texto -, o título original da pintura não mencionava "Domingo", ou seja, a pintura pode ser interpretada como uma referência a depressão econômica em 1929, com as lojas fechadas e a falta de vida no centro comercial. 

Sun in an Empty Room (1963)
Essa é uma pintura curiosa. Não há nada nela, e por isso mesmo todos os temas comuns nas pinturas dele estão presentes. É uma imagem solitária o trecho da casa vazio, o sol entrando pela janela. Novamente o jogo de luzes e sombras. O mistério da observação do cenário desconhecido.

Automat (1927)
Essa é uma pintura famosa dele. A mulher sozinha no café, bem-vestida e maquiada, no meio da noite. Não se sabe se ela está voltando de algum lugar, indo para algum lugar. Novamente não se sabe quem a observa. Em 1927, pernas a mostra não eram exatamente aceitas, então há uma sensualidade na forma que as pernas sob a mesa estão mais iluminadas que o resto do quadro. O detalhe da fileira de lâmpadas refletidas na vidraça é genial. Uma das minhas favoritas.

Nighthawks (1942)
Tá, essa é a pintura mais famosa dela e a minha favorita. Porque foi ela que fez eu me interessar por pintura. Conheci por meio de um disco, na verdade, Nighthawks at the Dinner, do Tom Waits - que eu já resenhei aqui e sugiro que todos ouçam. Novamente, tenho algo nela. A solidão da noite, as figuras avulsas tomando café; um homem sozinho, um casal (possivelmente), juntos mas não exatamente, e o garçom ali, talvez ouvindo alguma coisa ou só seguindo com seu trabalho. É uma cena cheia de tédio, de novo assistida de longe, talvez por um passante na esquina. Um momento da madrugada - imagino que seja madrugada, pois não tem mais ninguém por perto. Eu realmente gosto dessa pintura.

Assim termina a primeira coluna sobre pintura. Uma curiosidade, também lida no edwardhopper.net foi que, no fim da carreira, ele perdeu a popularidade por causa do crescimento do expressionismo abstrato, Jackson Pollock, por exemplo, por isso ele será o próximo alvo dessa coluna, que será escrita sei lá eu quando. Raramente peço feedback por aqui, costumo fazer aquilo que me interessa, mas gostaria de saber o que meus dois leitores e meio pensam. Gostaram disso? Se interessam por pintura? Acharam a obra do Edward Hopper interessante? Essas perguntas de sempre.