Há uns tempos atrás, na minha resenha de Anjos Caídos - outro filme do mesmo diretor -, disse que já tinha assistido Amor à Flor da Pele e que essa seria minha próxima resenha. E eu esqueci e o tempo foi passando. Agora, vários meses depois, lhes digo o que eu achei desse filme.
Notem que faz tempo que vi o filme, então alguns detalhes podem ter fugido da minha mente, como por exemplo, os nomes das personagens. A história é sobre dois casais em Hong Kong, que se mudam para um mesmo apartamento - vamos chamá-los de casal A e casal B, para facilitar, ok? -; ambos são, aparentemente, infelizes em seus casamentos, contudo devem manter as aparências para vizinhaça, que por sua vez passam os dias comendo, jogando mahjong e se metendo na vida dos outros. Então a esposa do casal A e o marido do casal B, descobrem que seus respectivos cônjuges estão tendo um caso um com o outro. De início um não sabe que o outro sabe, mas tudo fica bem claro depois de uma conversa em uma cafeteria, que é o ponto de partida para o relacionamento entre os dois. O tempo passa e eles não sabem se devem ou não realizar o adultério, enquanto isso, os dois passam noites e mais noites em um quarto de hotel (para não atrair a atenção dos vizinhos), conversando, compartilhando o silêncio e escrevendo livros de artes marciais.
Esse filme, na época de lançamento, foi dito como um dos mais românticos da história, e eu sou obrigado a concordar - românticos e tristes, sério, não sugiro que gente com depressão chegue perto dessa história. É possível sentir pelas imagens a situação dos dois, o amor que um sente pelo outro, a raiva que eles sentem pelos seus próprios cônjuges e, ao mesmo tempo, a culpa que eles sentem por pensarem em cometer o adultério. Infelizmente não posso falar mais nada da história, pois acabaria estragando o filme para alguns, embora esse não seja um filme de surpresas - saber a história, nesse caso, não atrapalha a experiência -, trata-se de uma tragédia, e muitas vezes nesse gênero, o fim já se mostra óbvio logo no começo e a arte está em ver essas personagens cometerem todos esses erros, que levam à inevitável infelicidade. Ao terminar de ver o filme, fiquei me perguntando o quê que eles poderiam ter feito para evitar esse fim, talvez fosse melhor ter assumido logo de cara o caso, terminado o relacionamento com seus cônjuges e buscado a felicidade, ou simplesmente viver aquele momento, sabendo que, embora não tenha durado para sempre, eles foram felizes naqueles dias. E principalmente, por que não foram atrás da felicidade? Medo talvez, mas de quê?
É um filme fascinante e complexo, pesado e até mesmo cansativo, mas que vale cada instante. Cheio de metáforas e símbolos (existe até uma discussão sobre o caso dos dois, se eles transaram ou não), que exigem atenção de quem assiste e convida até a assistir mais vezes. Não assista buscando diálogos ou acontecimentos fantásticos e surpreendentes. Posso arriscar dizer que nada acontece nesse filme. Não é um filme de situações, mas de clima. Tudo no filme gira em torno do clima e dos sentimentos expostos em imagens. É 1h30min (que mais parecem 3h) de puro sentimento. É um filme lindo, estéticamente falando, os cenários, as cores, o figurino, tudo parece uma obra de arte - o que é bem comum no cinema oriental. A trilha sonora, composta de alguns boleros, também contribue para o clima triste e romântico da história. Enfim, fiquei tremendamente triste (até nas cenas em que nada acontecia) e maravilhado quando terminei de ver esse filme. Um dos melhores do diretor e um dos melhores que já vi.
Nota: 5,0/5,0