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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Amor à Flor da Pele - Wong Kar-Wai (Resenha)



Há uns tempos atrás, na minha resenha de Anjos Caídos - outro filme do mesmo diretor -, disse que já tinha assistido Amor à Flor da Pele e que essa seria minha próxima resenha. E eu esqueci e o tempo foi passando. Agora, vários meses depois, lhes digo o que eu achei desse filme.
 
 
Notem que faz tempo que vi o filme, então alguns detalhes podem ter fugido da minha mente, como por exemplo, os nomes das personagens. A história é sobre dois casais em Hong Kong, que se mudam para um mesmo apartamento - vamos chamá-los de casal A e casal B, para facilitar, ok? -; ambos são, aparentemente, infelizes em seus casamentos, contudo devem manter as aparências para vizinhaça, que por sua vez passam os dias comendo, jogando mahjong e se metendo na vida dos outros. Então a esposa do casal A e o marido do casal B, descobrem que seus respectivos cônjuges estão tendo um caso um com o outro. De início um não sabe que o outro sabe, mas tudo fica bem claro depois de uma conversa em uma cafeteria, que é o ponto de partida para o relacionamento entre os dois. O tempo passa e eles não sabem se devem ou não realizar o adultério, enquanto isso, os dois passam noites e mais noites em um quarto de hotel (para não atrair a atenção dos vizinhos), conversando, compartilhando o silêncio e escrevendo livros de artes marciais.
 
Esse filme, na época de lançamento, foi dito como um dos mais românticos da história, e eu sou obrigado a concordar - românticos e tristes, sério, não sugiro que gente com depressão chegue perto dessa história. É possível sentir pelas imagens a situação dos dois, o amor que um sente pelo outro, a raiva que eles sentem pelos seus próprios cônjuges e, ao mesmo tempo, a culpa que eles sentem por pensarem em cometer o adultério. Infelizmente não posso falar mais nada da história, pois acabaria estragando o filme para alguns, embora esse não seja um filme de surpresas - saber a história, nesse caso, não atrapalha a experiência -, trata-se de uma tragédia, e muitas vezes nesse gênero, o fim já se mostra óbvio logo no começo e a arte está em ver essas personagens cometerem todos esses erros, que levam à inevitável infelicidade. Ao terminar de ver o filme, fiquei me perguntando o quê que eles poderiam ter feito para evitar esse fim, talvez fosse melhor ter assumido logo de cara o caso, terminado o relacionamento com seus cônjuges e buscado a felicidade, ou simplesmente viver aquele momento, sabendo que, embora não tenha durado para sempre, eles foram felizes naqueles dias. E principalmente, por que não foram atrás da felicidade? Medo talvez, mas de quê?
 
É um filme fascinante e complexo, pesado e até mesmo cansativo, mas que vale cada instante. Cheio de metáforas e símbolos (existe até uma discussão sobre o caso dos dois, se eles transaram ou não), que exigem atenção de quem assiste e convida até a assistir mais vezes. Não assista buscando diálogos ou acontecimentos fantásticos e surpreendentes. Posso arriscar dizer que nada acontece nesse filme. Não é um filme de situações, mas de clima. Tudo no filme gira em torno do clima e dos sentimentos expostos em imagens. É 1h30min (que mais parecem 3h) de puro sentimento. É um filme lindo, estéticamente falando, os cenários, as cores, o figurino, tudo parece uma obra de arte - o que é bem comum no cinema oriental. A trilha sonora, composta de alguns boleros, também contribue para o clima triste e romântico da história. Enfim, fiquei tremendamente triste (até nas cenas em que nada acontecia) e maravilhado quando terminei de ver esse filme. Um dos melhores do diretor e um dos melhores que já vi.
 
Nota: 5,0/5,0
 
 
 
 
 
 


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Desfile de Páscoa - Richard Yates (Resenha)



Esse livro me foi sugerido no meio do ano passado por um cara que trabalha no único sebo de Itajaí, o Casa Aberta, que é talvez o lugar mais fascinante da cidade. Estava comprando uns clássicos antigos baratos, quando ele apareceu e me sugeriu Richard Yates, lendo pra mim a primeira frase de Desfile de Páscoa, para atrair minha atenção:

"Nenhuma das irmãs Grimes teria uma vida feliz e, olhando em retrospecto, sempre pareceu que o problema começou com a morte de seus pais."

Até hoje, essa é uma das melhores primeiras frases que eu já li e, desde então, tento seguir as sugestões desse cara que se chama Enzo e mantém um blog muito interessante sobre literatura do sul dos Estados Unidos - que não sei se ainda está na ativa, ele tinha parado, mas acho que agora voltou, sei lá, mas as informações estão ali ainda -, como por exemplo Flannery O'Connor, que eu comprei, mas ainda não deu tempo de ler.

Quanto a Yates, após escrever "Foi Apenas um Sonho" - que eu já li e assim que eu ver o filme farei uma resenha comparativa, igual ao post sobre Bonequinha de Luxo, que é o meu post mais popular por causa da foto da Audrey -, foi considerado um dos mais importantes escritores americanos de seu tempo. Então anos se passaram até sua segunda publicação e, como ele não continuou criticando a geração da década de 60 especificamente, nem se tornou politicamente engajado, acabou sendo esquecido. O que é uma pena, considerando que ele continuou sendo um dos melhores escritores norte-americanos.

Como a primeira frase do livro deixa bem claro, Desfile de Páscoa é sobre a vida das irmãs Grimes, suas decisões, erros e problemas. Nada além disso, o livro é um retrato bem cru da vida comum. Sarah, a irmã mais velha, casa cedo e se rende à vida de dona de casa. Emily, a mais nova, decide ser independente, seguir carreira em alguma coisa, sem depender de ninguém. Exatos opostos que buscam um mesmo objetivo - viver de forma satisfatória, seja para si ou só para mostrar à sociedade ao seu redor.

Emily tenta, mas parece não conseguir encontrar um homem que a satisfaça plenamente, ou satisfazer um homem plenamente, dependendo do caso. Enquanto Sarah, finge ter encontrado a felicidade, assistindo sua vida passar aos poucos, embriagada.

Não é um romance leve, para passar o tempo, embora a linguagem seja simples e a forma nem um pouco pretensiosa. Só que não é um livro que tenta ensinar ao leitor como viver; poderia até dizer que nem mesmo o autor sabe o que quer. Emily e Sarah são opostos completos, mas nem por isso uma delas alcança a felicidade. Elas buscam da melhor forma possível, pensam ter chegado perto, então a verdade lhes acerta com tudo.

O narrador tem um tom sarcástico e, em alguns momentos, até humorístico quanto às histórias que ele relata, mas ao mesmo tempo mantém um certo respeito e simpatia por aquelas vidas destruídas. Ele sabe que sua vida não é diferente da de suas personagens; sua história é um espelho cruel e realista. Às vezes você ri, às vezes você encontra um conhecido e, nos momentos mais angustiantes, você vê a si mesmo.

Excelente livro. Richard Yates é um dos melhores escritores americanos e é uma pena que ele não tenha sido reconhecido em vida o tanto quanto merecido, embora ache que ele estava pouco se fodendo para isso.

Nota: 5,0/5,0