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domingo, 20 de setembro de 2015

Eureka (Yurîka) - Shinji Aoyama [2000]



Olá, você que ainda esbarra com esse canto obscuro e empoeirado da internet. Eu lancei um livro semana passada. Tá na Amazon. Talvez você goste de ler.

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Meus agradecimentos a quem vier a comprar. Comprou? Leu? Gostou? Deixa lá um comentário pras pessoas ficarem sabendo que o livro é bacana.





Mesmo que existam muito mais filmes do que qualquer um seria capaz de assistir em uma existência, chega-se ao ponto em que fica difícil achar novidades. Estatisticamente falando, deveria ser impossível ficar entediado com o cinema e ter a sensação de que já se viu de tudo (o mesmo vale para a vida, pensando bem...), mas acontece (de novo, assim como a vida). Mas existe um lado positivo nesse tédio absurdo. Quando acontece, e, mesmo que seja incomum, acaba acontecendo, pode mudar sua visão sobre cinema. Este foi meu caso com Eureka, de Shinji Aoyama, que eu vi ano passado, mas que me deixou sem palavras até agora.


O ônibus de Makoto Sawai (Kôji Yakusho) foi sequestrado. Alguns dos passageiros já foram assassinados e, não fosse o tiro do sniper da polícia a abater o sequestrador, ele seria o próximo. Anos depois, ele volta a sua cidade, ainda traumatizado. Não dirige mais ônibus, então arranja um emprego fazendo trabalhos manuais. Descobre, então, onde vivem as crianças que estavam no mesmo ônibus, os irmãos Kozue e Naoki Tamura (interpretados pelos irmãos da vida real, Aoi e Mazaru Miyazaki). Os dois vivem sozinhos, não vão à escola e não conseguem mais falar. Vendo isso, Makoto decide viver com eles, cuidar deles como se fossem seus filhos.

Começa uma série de assassinatos na cidade (todas mulheres), e a reaparição de Makoto o torna um suspeito. Após umas encrencas com a polícia, Makoto arranja um trailer e sai em viagem sem destino com as crianças e o primo universitário delas, que foi visitá-los durante as férias. Tudo parece bem, no entanto a trilha de assassinatos parece segui-los onde quer que eles estejam.


O primeiro detalhe que chama atenção é o quão longo é o filme. São quase quatro horas. O objetivo do diretor com isso é contar a história da maneira mais minuciosa possível. E consegue. Nada dá a impressão de se estender por mais tempo que o necessário. Todas as cenas parecem importantes ou valem a pena assistir. A segunda coisa que mais chama atenção é a cor. A gravação foi feita a cores, mas o filme foi dessaturado. Eu nunca vi nada assim antes. Isso ajuda ainda mais a fotografia, que já é bela. Se um filme vai ter quatro horas, eu diria que ele deve ser agradável para os olhos. Eureka é, tornando difícil piscar por todo esse período.


Sobre a história que ele conta, nunca fica chata. Na verdade, foi isso que tanto me impressionou no filme e fez que eu sentisse que estava vendo algo inédito para mim. É difícil classificá-lo. Drama seria a escolha mais provável, considerando que, deixando de lado as várias pequenas coisas que complementam o enredo, o filme é sobre três pessoas - duas delas crianças - aprendendo a lidar com estresse pós-traumático, retornando a vida normal. Esse retorno, inclusive, explica a escolha da cor. Esse tom sépia pode simbolizar o distanciamento dessas pessoas da realidade - e o retorno às cores, na última cena, significaria uma recuperação. (Isso não foi bem um spoiler, só uma coisa que aconteceu. Vá assistir, você vai perceber que saber que o filme ganha cor no final não estraga nada.) Mesmo assim, drama não seria exato.


O filme carrega muito, a partir da segunda parte, aquela impressão de filme de viagem. Eles acampam no trailer, observam os arredores, o primo e o motorista conversam enquanto Kozue tira fotos com uma polaroid. Mas não é tudo. Existe também o suspense envolvendo a possível presença de um serial killer. Principalmente quando um dos suspeitos, Makoto, sai da cidade, mas os assassinatos o acompanham. Até que se descubra o culpado, até as cenas mais belas do filme são cercadas dessa tensão típica, além de encher o espectador de dúvidas sobre o carácter e a estabilidade mental de todos os personagens.


As quatro horas de filme podem intimidar, mas eu digo que vale a tentativa. É uma experiência única, que inclui basicamente tudo que se pode esperar da arte do cinema. Mesmo que a história não te prenda, a beleza da fotografia vai, por exemplo. Não indico dividir o filme em duas partes ou mais porque isso vai te tirar do clima. Até o mais longo dos filmes é uma coisa só e deve ser visto como tal. De qualquer forma, diria que, mesmo que você começasse a ver com a ideia de dividir em duas partes, talvez não conseguisse.

Nota: 5/5



Um comentário:

  1. Antes de terminar de ler o post já estava convencida de que deveria assistir! Enfim, você já sabe como eu estou interessada na cultura japonesa de modo geral... e a verdade é que assisti poucos filmes japoneses que saem do espectro dos filmes que a gente aqui no ocidente vai chegar a conhecer.
    Deve ser foda encarar um filme tão longo assim, acho que nunca tive essa experiência. Mas a trama parece super interessante e tudo a ver com as coisas que gosto de ver/ler. Adicionando na lista aqui!

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